(Is 55, 1-3; Sal 145; Rom
8, 35.37-39; Mt 14, 13-21)
Paolo
Cugini
1. Somos mergulhados todos os dias a toda hora em problemas materiais,
muitas vezes que exigem uma solução imediata. Percebemos o pressionamento da
realidade, que nos encurrala, sentimos o bafo da história, do julgamento dos
outros. A tentação é disfarçar, tapear, não enfrentar a realidade, fazer de
conta que tudo não passa de um momento e então vivemos arrastando a barriga no
chão, concentrando os nossos esforços nos problemas materiais imediatos,
esquecendo de refletir sobre as motivações profundas dos nossos atos. E assim,
um dia, de repente, acordamos sentindo um grande vazio dentro, uma angustia
terrível, um sentimento de traição. Olhamos no espelho e percebemos um sentimento
de estranheza, como se o cara na nossa frente fosse alguém de diferente.
Deparamos assim, brutalmente, no eterno problema do relacionamento entre
externo e interno, espírito e carne, vida espiritual e material. Na nossa vida
corriqueira, também entre nossos amigos e parentes, é extremamente difícil
encontrar pessoas que vivem a harmonia entre estas duas dimensões. Por isso,
antes que seja tarde demais, é bom dar uma olhada um pouco mais atenta às
leituras de hoje para aprendermos da Palavra de Deus como é que se vive, sem
correr o risco de se esconder, por medo que alguém consiga ver a podridão que
está cumulada dentro de nós.
2. “Vinde comprar sem dinheiro,
tomar vinho e leite sem nenhuma paga. Porque gastar dinheiro com outra coisa
que não é pão?” (Is 55, 1-2).
É verdade que devemos comer e beber, só que não podemos fazer da
nossa vida um eterno banquete! O nosso perigo é conduzir uma vida só
concentrada nas preocupações materiais. Existe um alimento no qual vale a pena
investir o nosso tempo e as nossas energias, também porque não custa nada, mas
exige apenas disponibilidade. Além disso, é um tipo de comida e de bebida que
preenche de um jeito a existência, que orienta até a vida material. Quem é
acostumado a medir o valor da vida com o dinheiro, terá grande dificuldade a
entender isso. Existe todo um mundo desconhecido, que é a vida espiritual, o
mundo do Espírito, que se alimenta com algo de espiritual. Precisamos ser
introduzidos dentro este caminho, que é o caminho que a Palavra aponta. Além disso,
a mesma Palavra não se abre, não se revela no sentido estrito do termo, para as
pessoas materiais. Para que o pão da Palavra seja o nosso alimento que
fortalece o nosso caminho neste mundo, precisamos de alguém que coloque na boca
o pão mastigado, assim como uma mãe faz com os próprios filhos. Existe um
tesouro de vida, de amor escondido no pão espiritual da Palavra de Deus, que se
torna alimento para todos e todas as pessoas que são conduzidas dentro dela.
Por isso a Igreja nos aconselha de ler os grandes Pais da Igreja, ou seja,
aquela época de ouro da Igreja aonde as pregações eram encharcadas de Palavra
de Deus, e não de opiniões pessoais. Buscar o alimento espiritual para libertar
a nossa vida da escravidão da matéria é o sentido da vida espiritual.
3. “Dai-lhes vós mesmo de comer”
(Mt 14, 16)
Acho que também este versículo precisa ser interpretado no sentido
espiritual. Somos acostumados a fazer uma leitura material do texto que narra a
multiplicações dos pães. Sem duvida foi uma ação histórica de Jesus, mas que
deve ser colocada dentro o plano de salvação e do projeto do anuncio do Reino
de Deus. Então o “dai-lhes vós mesmo de
comer” é um mandamento de Jesus que deve ser realizado e que nos envolve em
primeira pessoa. Somos nós batizados os novos discípulos aos quais Jesus se
dirige pedindo de partilhar o pão da Palavra com as pessoas que encontramos no
nosso caminho. Esta deve ser a nossa preocupação, pois se de verdade a palavra
de Deus no Evangelho de Jesus salvou a nossa vida do anonimato, do esquecimento,
da morte, então faremos de tudo para que as pessoas que encontramos possam
receber o alimento que salva. Neste mandamento que Jesus um dia especial
colocou para os discípulos, está escondido todo um programa de vida. De fato,
como Jesus soube inventar caminhos e meios para anunciar o Reino do seu Pai
para a humanidade que encontrou, assim também deve ser por nós. Isso, porém, exige inteligência, atenção,
reflexão, empatia, ou seja, capacidade constante de olhar para os outros. É um
caminho progressivo, constante, no qual devemos ficar constantemente atentos
não apenas com a realidade circunstante, mas também e, talvez sobretudo, com
aquilo que o Senhor quer nos mostrar com isso. É interessante observar com que
delicadeza Jesus instruiu os seus discípulos na difícil tarefa de continuar o
seu trabalho. Jesus mostrou para os discípulos que partilhar a Palavra com as
pessoas que o Pai coloca na nossa frente, comporta um constante olhar ao mesmo
Pai (“Então ergueu os olhos para o céu”) e
para o povo. Isso quer dizer que em qualquer ato de caridade que a Igreja
realiza quem recebe deveria enxergar o rosto do Pai. Partilhar o Pão da palavra
de Deus não é uma partilha de versículos, mas sim de vida, de amor, de história.
Ergueu os olhos para o céu: em qualquer ação da nossa vida, seja ela qual for,
devemos manter vivo e presente este olhar para o céu, para não perdermos o
sentido da realidade, ou seja, que tudo vem de Deus e volta para Ele.
4. “Quem nos separará do amor de
Cristo?” (Rom 8, 35)
É esta a certeza de quem vive alimentado
de Cristo, do seu espírito. Este ano, como sabemos, pela Igreja católica é o
ano Paulino. Paulo é sem duvida o discípulo em que a força de Deus se
manifestou como coragem, vida, capacidade e vontade de partilhar com todos e todas
a salvação de Deus recebida por Jesus por meio do Seu espírito. Meditando as
suas cartas, e é isso que a liturgia nos oferece todos os domingos na
proclamação da segunda leitura, podemos abastecer a nossa alma daquele alimento
que preenche as nossas vida de esperança que nos impulsiona a olhar sempre para
frente, sabendo que não existe nada que pode nos atrapalhar, pois Cristo com a
sua paixão, morte e ressurreição derrotou o inimigo. É verdade que podemos
passar momentos de confusão, aonde percebemos a nossa fraqueza, também porque o
mundo não dá sossego para aqueles que esperam só no Senhor. Mas alimentados
dele, da sua Palavra, do Seu corpo, vivendo com intensidade a nossa pertença a
sua Igreja, sabemos que aquilo que Paulo falava é verdade. A final e conta se
Cristo é conosco, dentro de nós, nos nossos olhos, na nossa alma, então quem
nos separará do amor de Cristo?
Nessun commento:
Posta un commento