(Ne 8, 2-6.8-10; Sal 19; 1 Cor 12, 12-30; Lc 1,1-4;4,14-21)
Paolo Cugini
1. “Jesus voltou para a
Galiléia com a força do Espírito e sua fama espalhou-se por toda a redondeza.
Ele ensinava nas sinagogas e todos o elogiavam” (Lc 4,14).
No começo deste ano
litúrgico a liturgia da Palavra está nos propondo os primeiros passos da ação
evangelizadora de Jesus. E, assim, o encontramos hoje pregando nas sinagogas da
Galiléia provocando a admiração do povo. Elogios que já de antemão sabemos que
não surtiram nenhum efeito, mas, pelo contrario, provocaram a raiva dos
fariseus e dos chefes religiosos do tempo. Isso para nós é já uma indicação
importante: a Palavra de Deus que Jesus pronunciou, não serve para provocar a
nossa admiração, mas a nossa conversão, a mudança das nossas atitudes humanas.
Também porque a Palavra de Deus não tem como objetivo golpear os nossos
sentidos carnais, mas a nossa alma.
É de fato, uma Palavra
cuja essência não é aquela de ficar em superfície, mas, pelo contrario de “penetrar até dividir alma e espírito,
articulações e medulas. Ela julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb
4, 12).
A Palavra é vida, é a vida eterna por aqueles
que a acolhem. É por isso que os fariseus procuravam matar Jesus: “porque a minha Palavra não penetrou em vós” (Jo 8, 37).
Jesus é a luz verdadeira que ilumina todo
homem, é a luz que brilha nas trevas, mas as trevas não a acolheram (Cf. Jo 1,
1-14). Mais uma vez, não basta ficarmos entusiasmados
para aquilo que sentimos numa celebração, num momento litúrgico, numa missa o
numa outra experiência religiosa: aquilo que conta é abrir espaço para que
Jesus entre na nossa vida. O objetivo de Jesus não é produzir uma empolgação
nos ouvintes, mas o desejo de segui-lo, de mudar de vida. De fato o Evangelho
de hoje encerra com este versículo deslumbrante:
“Hoje se
cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21).
Jesus se apresenta como o cumprimento da
Escritura, quer dizer que a Palavra de Deus não é uma letra morta, mas uma
pessoa viva, um estilo de vida, um jeito de ser, de viver, de amar: a Palavra
de Deus é o mesmo Jesus. É o seu estilo que deve penetrar dentro de nós, para
moldar a nossa existência e assumir a forma de Cristo, a Palavra que se fez carne,
que se manifestou e veio a morar no meio de nós.
2. O problema, então, é o seguinte: como isso pode acontecer? O
que precisa para o homem, a mulher acolher a Palavra de Deus? Quais são as
condições necessárias para que a Palavra de Deus não fique na superfície da
nossa vida, mas penetre na nossa alma?
“Esdras fez a leitura do livro, desde o amanhecer até o meio dia, na
presença dos homens, das mulheres e de todos os que eram capazes de
compreender. E todo o povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei”
(Ne 8, 3).
São duas as
características necessárias para a Palavra de Deus entrar na vida de uma
pessoa: a possibilidade de compreender e a atenção.
Compreender, neste contexto, não se refere às capacidades humanas, a inteligência humana, mas ao desejo de entender o caminho de Deus, a sua vontade. Tarefa da Igreja, nessa altura, é criar as condições para que a leitura da Palavra possa ser compreendida. Jesus mesmo um dia falou que não podemos jogar as perolas aos porcos, ou seja, não podemos pregar a Palavra de Deus num contexto aonde o povo não está predisposto ao entendimento. Em segundo lugar, para que a Palavra de Deus penetre nas almas dos fieis, precisa de atenção, ou seja, do esforço de limpar a própria vida de qualquer coisa que possa atrapalhar o entendimento daquilo que estamos escutando. Uma pessoa que anda distraída não irá sem duvida nenhuma criar espaço na sua alma para a Palavra de Deus entrar.
3. Quais são os primeiros frutos da Palavra de Deus quando penetra na alma da pessoa?
“Não fiquei tristes nem choreis, pois todo o povo chorava ao ouvir as
palavras da lei... Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será a vossa
força” (Ne 8, 9.10).
Em primeiro lugar quando a
Palavra encontra espaço na vida das pessoas, provoca o choro. A Palavra
descortina as trevas, o amor de Deus desvende o ódio escondido na nossa alma, a
gratidão de deus manifesta o nosso egoísmo. Não existe pessoa tão dura de
coração que possa agüentar a verdade da Palavra de Deus. É o choro de Pedro na
noite da morte de Jesus, quando o Mestre o olhou depois de Pedro ter renegado
Jesus por três vezes. Aquele olhar fez Pedro desmoronar, sentiu o mesmo olhar
de Deus dentro de si. Ou, também, o choro da mulher adultera aos pés de Jesus:
ninguém agüenta a santidade de Deus. Este é o primeiro fruto da Luz que esbanja
a Palavra de Deus: tomar consciência da tristeza da minha vida mergulhada no
pecado. Só que não podemos apenas ficar chorando o tempo todo. É por isso que
ao mesmo tempo A Palavra de Deus deve suscitar em nós o sorriso, a alegria.
Deus, de fato, com Jesus, a Palavra viva, nos mostra uma saída, uma chance de
uma vida nova, uma possibilidade concreta de viver buscando antes de tudo o
Reino de Deus e a sua Justiça (Cf. Mt 6,22-32). Quem não vislumbra na Palavra um
caminho diferente de vida, uma possibilidade de sair concretamente da multidão anônima
para uma vida mais autentica, não chorou
ainda com sinceridade sobre a própria condição, ou seja, não tomou ainda
claramente consciência da própria situação de pecado e de que forma este
estrague a vida.
Que a Palavra de Deus
possa ser a nossa verdadeira e única esperança.
Tapiramutá.
Pe Paolo Cugini
Nessun commento:
Posta un commento