(Is 9, 1-6; Sal 96; Tt 2, 11-14; Lc 2, 1-14)
Paolo Cugini
1. Chegamos a esta noite com o coração vibrante de alegria pelo
evento que estamos contemplando: nesta noite o eterno entra no tempo, o
infinito se faz finito, aquilo que é imperecível se faz perecível. Contemplamos
extasiados o mistério do Deus menino, o Onipotente solapado no pequeno corpo de
uma criança recém nascida. Ficamos pasmos, sem fôlego por esta aproximação
impressionante de Deus para conosco. Aproximação que expressa mais uma vez o
grande desejo de Deus de encontrar o homem, a mulher. O Natal é isso mesmo: o
cumprimento do sonho antigo de Deus se fazer presente no meio da humanidade, de
morar no meio de nós e, para realizar este sonho, Deus se faz homem, o tudo de
Deus entra no fragmento pequeno do corpo humano. Mistério sublime que desvende
até a que ponto chega o amor verdadeiro de Deus, o amor que pela sua intrínseca
natureza exige a doação, a partilha e, por isso, não mede riscos, não calcula
as conseqüências. E, assim, por todos
nós neste momento são autenticas as palavras do salmista quando, perante o
mistério de Deus contemplado na criação, se pergunta: “É o que o homem para merecer tudo isso?” (Salmo 8). Nós também
nesta noite tão luminosa nos perguntamos deslumbrantes: oh Deus porque fez tudo
isso? Será que a gente merece um tão grande presente? Será que precisava mesmo
que Deus se fizesse menino para nos encontrar? E é o que isso significa? O que
Deus quis nos dizer com a sua vinda?
2. “O povo que andava nas
trevas viu uma grande luz” (Is 9,1).
Assim como o profeta
Isaias o profetiza, Jesus pela humanidade é uma luz. Deus enviando Jesus quis
nos iluminar, ou seja, decidiu de nos tirar das trevas. Neste sentido a vinda
de Jesus manifesta o julgamento de Deus sobre a humanidade. Com a vinda de
Jesus Deus declara definitivamente derrotado o projeto de mundo que os homens
construíram e continuam construindo independentemente de Deus. O mundo sem Deus
é obscuro, é treva: é isso que o Natal de Jesus revela pela humanidade toda. O
mesmo salmo 95 que foi proclamado hoje aponta o mesmo sentido: “O Senhor vem para julgar a terra inteira”.
A luz de Deus que o nascimento de Jesus trouxe ao mundo representa o julgamento
de Deus sobre o projeto de mundo que a humanidade desobediente criou e, ao
mesmo tempo, é a indicação do caminho que a humanidade toda deve percorrer pra
se afastar do projeto errado para entrar na trilha certa. Este me parece ser o
sentido primeiro do Natal: a manifestação definitiva do julgamento de Deus
sobre o mundo. A partir do evento do presépio, a humanidade toda depara com o
pensamento de Deus, com a sua Verdade definitiva sobre nós. Verdade que se
manifesta no seu lado negativo de julgamento, sobre tudo aquilo que ao longo
dos séculos se ergueu orgulhosamente como projeto autônomo, criando o mundo da
morte, dominado pelo egoísmo e pela ganância. Ao mesmo tempo o julgamento de
Deus se manifesta como misericórdia por toda a humanidade vitima deste projeto
terrível, por toda a humanidade que tenta com todas as forças de permanecer
fiel ao projeto de amor de Deus. Esta
misericórdia de Deus que se estende ao mundo é muito bem representada pelos
braços abertos de Jesus menino no presépio da manjedoura de Belém, que não é
apenas uma cena sentimental, que mexe com o nosso lado sentimental, mas um
quadro realista daquilo que Deus está querendo com o mundo.
3. “Porque nasceu para nós
um menino” (Is 9,50).
Esta luz que Jesus com o
seu nascimento trouxe ao mundo se manifesta como vida. De fato, aquilo que Deus
promete para salvar a humanidade da morte é uma criança. Isso não apenas foi
profetizado pela boca do profeta Isaias, mas se cumpriu na historia com o
nascimento do menino Jesus. Jesus é a Vida verdadeira que acusa a morte do
projeto mundano. Se quisermos viver uma vida que permanece no tempo e nunca
desfalece, precisamos nos aproximar do presépio. Jesus menino de braços abertos
é o julgamento de Deus sobre o mundo fechado do egoísmo, da ganância, da
soberbia. Além do mais, este menino recém nascido de braços abertos nos convida
a fazer parte do seu Reino, que é o Reino do amor, da paz, da justiça e da vida
autentica. Aquela vida que todos nós
buscamos com todas as nossas forças ao longo da vida e que não conseguimos
alcançar, esta mesma vida veio ao nosso encontro, se ofereceu gratuitamente. É
isso que devemos aprender a vislumbrar no menino Jesus: A Vida. É Ele que veio
para apagar as nossas angustias, veio para preencher o nosso vazio, a nossa
falta de sentido. É este menino indefeso que tem nas suas mãos o segredo da
vida, a direção que a nossa existência humilde deve tomar. Se nos aproximarmos
a este grande tesouro com uma mentalidade humana, material, seriamos tentados a
nos perguntar o custo para obter tudo isso. O Evangelho, porém, vem ao nosso
encontro com uma resposta simples: “Encontrareis
o recém nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12).
A vida autentica que Deus nos oferece no menino Jesus, não se apresenta com os
critérios humanos do poder e da força, mas com os sinais divinos da simplicidade
e da humildade. E assim, se quisermos acolher a Vida autentica manifestada no
meninoJesus, precisamos nos despojar do nosso orgulho e do nosso egoísmo. A
Vida autentica pode ser somente acolhida para ninguém se ufanar de algo que não
lhe pertence. É isso que é difícil entender para nós acostumados a medir o
valor das coisas pelo peso exterior, pelo preço. Jesus, a vida verdadeira, se
oferece gratuitamente, não tem preço: pode ser somente acolhido. Também isso
representa um julgamento da nossa maneira de olhar as coisas e medi-las.
4. A noite de Natal é uma noite feliz, como somos acostumados a
cantar, porque Deus veio a morar no meio de nós, assumindo a nossa condição
humana, uma condição estragada pelo pecado e pela morte. É incrível como isso possa
acontecer, como Deus possa caminhar e viver conosco, ao nosso lado. Se Ele
decidiu isso não foi apenas por um sentimento de solidariedade, mas para nos
salvar, ou seja, para transformar a nossa condição humana de morte, numa
condição de vida, a nossa condição de sofrimento e conflito numa condição de
paz. O Natal de Jesus que hoje celebramos com o maior respaldo possível, pela
Igreja quer ser muito mais de uma lembrança passada: deseja ser a indicação de
um estilo de vida novo, aquele estilo que produz uma transformação radical em
todos aqueles que a levem a serio. Que seja este o sentido do Natal, pelo menos
entre nós e nas nossas famílias.
Pe Paolo Cugini,
Tapiramutá-Ba.
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