(Ex 32,7-11.13-14; Sal 51; 1 Tim 1, 12-17; Lc 15, 11-32)
Paolo Cugini
1. “Um homem tinha dois
filhos” (Lc 15,11).
Dizia um grande poeta e
filosofo francês, Charles Péguy, que quando estas palavras são proclamadas,
ninguém agüenta: toda a humanidade chora. A parábola do filho pródigo, que
acabamos de ouvir, mexe com as nossas entranhas, com o nosso emocional, porque
chega na profundeza da nossa interioridade desvendando a nossa mesma realidade,
a verdade de quem somos nós mesmos. Em outras palavras o conteúdo da Parábola
do filho pródigo contem uma verdade tão profunda e autentica que ninguém
consegue se esconder: arrebenta a nossa alma. Por isso é importante lê-la em
silencio, meditá-la no escondido, para saborear aquilo que tem a dizer para
mim, pela nossa conversão e, sobretudo, pela autenticidade da nossa seqüela ao
Senhor. Se analisarmos com atenção a parábola do filho pródigo tem dois
ensinamentos fundamentais. De um lado revela algo sobre a condição humana e do
outro a mesma parábola revela algo sobre Deus. OS dois filhos são o símbolo da
humanidade: por isso é importante parar a nossa atenção sobre eles pra ver o
que a postura deles tem pra nós ensinar.
2. “O filho mais novo
disse ao Pai: ‘Pai dá-me a parte de herança que me cabe’. E o Pai dividiu os
bens entre eles” (Lc 15, 12).
Existe toda uma humanidade
que sonha a realização da própria vida fora do alcance de Deus. São as pessoas
que um dia levantam da cama decidindo que a vida é deles e a ninguém devem
prestar conta. É aquela convicção que vem da juventude, da saúde, das condições
materiais que nos levam a acreditar que somos os únicos senhores da nossa vida.
Perante esta arrogância acho extremamente interessante a postura do Pai: não
questiona nada, mas faz aquilo que o filho pede: o deixa livre de realizara sua
vida do jeito que ele quiser. É um grandíssimo ensinamento para os pais: a
paternidade é fecunda quando é alicerçada na liberdade, pois a liberdade é um
reflexo da imagem de Deus. Quando pelo contrario os pais querem fazer de tudo
para impedir que os filhos façam besteiras, chegando até a si substituir á
liberdade dos próprios filhos, é ali que o bicho pega. Nessa altura podemos
questionar: mas porque o pai não disse e não fez nada para impedir que o filho
saísse de casa? Ao longo do texto podemos encontrar varias respostas. A
primeira é que o pai era tranqüilo na própria tarefa de Pai. Ele sabia que tudo
aquilo de bom que tinha semeado no coração do filho na infância e na
adolescência, antes ou depois teria surtido efeito. De fato, na hora do grande
sofrimento e da grande perdição quando o filho entrou em si mesmo, quem
encontrou no fundo do seu coração? O Pai! É na infância e na adolescência que
as forças educativas e espirituais devem ser dobradas para colocar os filhos no
caminho da realidade. A segunda resposta ao problema sobre colocado é que o pai
conhecia muito bem o seu filho e sabia que era daquela raça rebelde de cabeça
dura, metido a sabido, que não vai com a cara de ninguém, que se acha o tal e
que quando bota na cabeça uma idéia não tem jeito algum para tirá-la. Existe
toda uma humanidade que para descobrir a própria identidade, para descobrir o
sentido da própria vida parece que deve quebrar a cara. O filho que sai de casa
descobre que o tesouro maior que tinha na vida estava exatamente lá aonde tinha
decido de se afastar. São os mistérios da vida: às vezes precisamos rodear o
mundo para descobrirmos aquilo que está perto de nós. Tem um terceiro
ensinamento que podemos tirar da historia deste filho rebelde. Os prazeres da
carne, junto com os prazeres materiais que o mundo nos oferece são puras
ilusões, não proporcionam a felicidade, mas sim esvaziam a pessoa que entra
neste caminho. Tudo mundo sabe disso, mas poucos conseguem ficar de fora do
caminho da perdição. Porque? Porque a força dos sentidos é devastadora, e que
não aprende a lidar com a própria interioridade desde a infância, para
controlar os instintos e assim dirigi-los aonde nós quisermos, se torna escravo
deles. É isso que nos ensina esta historia triste: o caminho da liberdade está
no amor do Pai, é Ele a fonte da nossa vida.
3. “O filho mais velho
estava no campo... Ficou com raiva e não queria entrar”(Lc 15, 25.28).
A postura do filho mais
velho nos ensina que não adianta ficar perto do Pai: depende como ficamos. Podemos,
de fato, fugir da nossa realidade, permanecendo no lugar. Quantas vezes nas
nossas famílias têm familiares que não ligam com nada, parece que estejam
sempre voando. E quando nos distanciamos da realidade, começamos a pensar besteiras,
a fantasiar, botando gosto ruim naquilo que é bom. “E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos”.
Oh, coitado! Quando perdemos o contato com a realidade, nos fechando em nós
mesmos, construindo no nosso imaginário um mundo de fantasia, transformamos o
bem em mal, prejudicando assim o nosso relacionamento positivo com os outros,
sobretudo com as pessoas que mais amamos. Interessante é também um outro dato. Foi
necessário o filho mais novo se mandar e estragar a sua vida, para que pudesse
emergir aquilo que se escondia no fundo do coração do filho mais velho. Quer
dizer isso? Acho que esta Palavra nos ensina a não julgar os eventos na sua
manifestação factual, mas precisamos sempre colocar tudo nas mãos de Deus,
esperando que seja Ele á abrir os nossos olhos para interpretarmos assim a
historia do jeito que Deus a está escrevendo. De uma certa forma é a perdição
do irmão mais novo que salva o irmão mais velho do abismo do seu egoísmo. Tudo
isso é bastante impressionante, porque nos mostra o lado providencial de Deus,
que respeita a nossa liberdade e sabe realizar historia bonitas com os pedaços
da nossa humanidade esbagaçada.
O filho mais velho, apesar de ter sido fiel ao
pai permanecendo perto dele, precisou sentir uma verdade: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu”. Mais uma
vez é o Pai que com a sua realidade, que é a mesma Verdade, purifica as ilusões
falsas formadas ao longo do tempo na nossa cabeça, restituindo paz e serenidade
a alma. É a Palavra do Pai que precisamos escutar para que tudo na nossa vida
seja renovado. É o amor do Pai que devemos acolher, amor que purifica e renova
constantemente as nossas vidas. Por isso vale a pena estarmos aqui reunidos no
redor desta Eucaristia, para nos alimentarmos do pão da Palavra de Deus que
alimenta a nossa alma, nos orientando sobre o cominho a ser tomado, e para nos
alimentarmos do corpo de Cristo que infunde nos nossos corações o amor de Deus,
do pai misericordioso, que almeja a toda hora a nossa salvação. Amém.
Pe Paolo Cugini,
Tapiramutá-BA.
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