(Sab 9, 13-18; Sal 90; Filêmon 9-10.12-17; Lc 14, 25-33)
Paolo Cugini
1. “Ensinai-nos a contar
os nossos dias e daí ao nosso coração sabedoria!” (Sal 90).
Este versículo do salmo 90
nos ajuda bastante a entrar na liturgia da Palavra de hoje. É de fato, um
versículo que chama a nossa atenção sobre a realidade da nossa vida que é uma e
corremos o risco de desperdiçá-la. Aprender a contar os dias da nossa vida
significa, então, aprender a viver a vida como um projeto, como um caminho
único com uma meta bem definida. Por isso o salmista pede sabedoria, para que
ao longo da vida o caminho possa manter-se firme, para não desviar nem à
direita nem à esquerda. E é isso mesmo que também nós queremos pela nossa vida:
chegar ao final dos dias da nossa vida para agradecermos a Deus de termos
conseguido viver fieis ao projeto ao qual Ele nos chamou. No começo desta
reflexão, então, nos perguntamos: como é possível uma vida fiel á vocação que
Deus nos confiou?
2. “Se alguém vem a mim,
mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos
e suas irmãs e até de sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,
26).
O que Jesus quis dizer com
estas palavras duríssimas e quase incompreensíveis? Será que Ele não exagerou? E, a final de conta,
é mais importante ser discípulo que amar a minha mãe? Não é demais isso?
Na realidade o discurso
que Jesus hoje puxa no Evangelho é extremamente profundo. Discípulo é uma
pessoa que caminha atrás de Jesus, ou seja, é uma pessoa que entendeu que a
vida, o amor, tudo encontra-se nele: não existe no mundo todo alguém que possa
oferecer aquilo que Jesus oferece. Por isso alguém se coloca em movimento para
buscar aquilo que não foi encontrado em lugar nenhum. De fato, se é verdade que
minha mãe me deu a vida e que ela merece por isso todo o nosso carinho, é
também verdade que ela mesma não pode nos proporcionar uma vida eterna. Assim
também é verdade que o amor de uma mulher é algo de sublime, incomparável, mas
é também verdade que nunca o amor humano é puro: fica sempre algo de egoístico,
de interesseiro que ao longo dos anos emerge e provoca desavenças. Também nas
historias de amor mais deslumbrantes existe algo que deve ser purificado para
que a confiança possa se tornar total. O problema, então, é entrar em mi mesmo
para mi perguntar: eu quero o que? Quero a vida verdadeira, o amor verdadeiro?
Então somente Jesus pode me oferecer isso: levanta-te e caminha! Desapega-te
dos amores terrenos e anda atrás do Senhor, para que seja Ele a transformar o egoísmo
em amor, a desconfiança em confiança.
3. “Quem não carrega sua
cruz e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27).
Somente quem se desapega
dos afetos terrenos e se decide com firmeza a caminhar atrás de Jesus descobre
um dos maiores mistérios da humanidade: o amor é sofrimento. O símbolo maior do
amor é a cruz de Cristo: porque? Qual foi o sentido da Cruz? A cruz é o símbolo
do amor extremo, impossível, sobre-humano, divino. A cruz é o símbolo do amor
espantoso do homem-Deus de nome Jesus, que não fugiu perante as ameaças da
morte. A Cruz é o símbolo do amor de Jesus, que não lançou a esponja perante a
traição daquele que Ele amava, os seus discípulos, mas decidiu enfrentar a
humilhação e ir até o fim. Nunca teve na historia da humanidade decisão tão sofrida.
Amor não é identificável com algo de espontâneo, da forma que o mundo passa, mas
sim decisão continuamente renovada. Amor não se identifica com uma paixão do
momento, mas é fidelidade extrema, ao projeto que um dia foi vislumbrado como
único e não repetível. Além do mais, ninguém consegue carregar a sua cruz,
vivendo com fidelidade a própria vocação se não tiver a humildade de se colocar
sempre e continuamente atrás do Senhor. A vida, neste sentido, é uma continua
caminhada de aprendizagem. Quem se acha o tal, quem acha de ter já entendido
tudo sobre a vida de fé, é destinado a quebrar a cara. A vocação seja ela qual
for, o matrimonio ou a vida consagrada, é cruz, sofrimento, morte a si mesmo e
ao mundo. É isso que Jesus quis comunicar para os seus discípulos. Se quisermos
abastecer a nossa alma do amor que vem de Deus e da vida eterna que só Ele pode
oferecer, não existe outro caminho que este. Se Deus é eterno tudo aquilo que
Ele produz tem este marco de eternidade, marco que aqui na terra é pago ao
preço duríssimo da incompreensão, solidão, perseguição. Por isso é necessário
manter os olhos constantemente fitos em Deus, para não ficarmos confundidos com
as ilusões que constantemente o mundo nos proporciona. É nessa altura que entra
no discurso que estamos realizando mais uma pergunta: o que precisa fazer para
mantermos a nossa caminhada firme no Senhor? Como podemos segurar a nossa
vocação para nunca cair?
4. “Com efeito, qual de
vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos”
(Lc 14, 28).
O seguimento a Jesus exige
calculo, ou seja, uma constante atitude a pensar, avaliar, refletir sobre as
condições de possibilidade da caminhada. Ninguém pode ser tão ingênuo pra
pensar de poder seguir á Jesus dentro este mundo devastado do egoísmo, sem
abastecer a própria alma e a própria mente de tudo aquilo que Deus nos
proporcionou em Cristo. Este sentar-se e calcular os gastos, podemos
interpretá-lo como o tempo da juventude, aonde torna-se fundamental passar
muito tempo na reflexão para entender e depois se decidir sobre a vocação á
qual o Senhor nos chama. É o tempo do namoro, por exemplo, para os jovens que
Deus chama á vocação do matrimonio. É o tempo do seminário ou do convento para
os jovens que Deus chama á amar na vida consagrada. Este ato, porem, do
sentar-se para calcular, ou seja, para avaliar as condições de possibilidade da
caminhada, é sem duvida alguma uma atitude que deve acompanhar toda a nossa
vida. Ao longo dos anos, de fato, não apenas mudam as condições de vida, mas
mudamos também nós mesmos. Por isso torna-se necessário um continuo entrar em
si mesmo para atualizar o percurso realizado, renovando as energias,
reintegrando dentro da caminhada as experiências positivas e negativas realizadas.
A vida entendida como caminhada atrás de Jesus
é sim cruz, sofrimento, mas é um sofrimento que surge de uma experiência de
amor incomensurável, que é alimentado pelas mesmas provações sofridas ao longo
do caminho: é por isso e, só por isso, que a cruz se torna leve. Pedimos a Deus
nesta Eucaristia de permanecer sempre conosco e de manifestar o seu amor,
sobretudo nas horas tristes e sofridas da nossa vida.
Pe Paolo Cugini,
Tapiramutá-BA
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