O que acontece ou deveria acontecer com as pessoas que
respondem ao chamado de Jesus
Assembleia das comunidades da paróquia são Vicente de
Paulo
Compensa Manaus 5-7 janeiro 2024
Paolo Cugini
Entre vós não deve ser assim (Mc 10, 32-45). O seguimento á Jesus deve provocar
uma mudança radical nas nossas atitudes humanas. Se até então éramos movidos pelo
instinto de sobrevivência que nos leva a proteger a nossa vida e ativar dinâmicas
agressivas para como os outros, de agora em diante tudo deve ser diferente.
A vida humana nasce e se
desenvolve de forma instintual. É o instinto que sugere ao cérebro o que fazer
e, para isso, provoca dinâmicas especificas que condicionam os nossos
relacionamentos. Estas dinâmicas movidas pelo instinto de sobrevivência têm
como característica proteger a própria vida, defendê-la das ameaças exteriores.
Isso, claramente, é positivo, pois sem este instinto a nossa vida estaria em
constante perigo.
Qual é o sentido da frase de
Jesus? O que ele quis dizer quando disse entre vós não deve ser assim? Assim
como? Escutando com atenção o texto Jesus se refere aquelas dinâmicas de
rivalidades que se instauraram entre os discípulos. Este é já um dato
interessante, porque está dizendo que, apesar destes homens ter aceitado de
seguir Jesus, a humanidade deles é ainda condicionada pelo instinto de sobrevivência
e não pelo Espírito Santo. Isso quer dizer que não basta participar da Igreja,
de culto, atividades para ser uma pessoa nova. Aquilo que importa é sermos disponíveis
para a ação do Espírito Santo que modifica a nossa natureza. O problema que o
seguimento a Jesus apresenta é este: quero mudar de vida? Quero ser uma pessoa
diferente que aprende a olhar as pessoas como irmãos e irmãs e não como rivais?
Para aprofundar a reflexão nos
ajuda são Paulo. Segundo ele cada um de nós tem duas possibilidades de estilo
de vida. A primeira é a vida segundo a carne. Este estilo de vida é aquilo que
nós herdamos e que tem como protagonista o instinto de sobrevivência que ativa dinâmicas
de defesa e de conservação. Segundo são Paulo a vida segundo a carne, ou seja,
conforme ao instinto, se manifesta em formas externas especificas.
Os que vivem segundo os instintos egoístas inclinam-se
para os instintos egoístas; mas os que vivem segundo o Espírito inclinam-se
para aquilo que é próprio do Espírito. Os desejos dos instintos egoístas
levam à morte, ao passo que os desejos do Espírito levam para a vida e a paz.
De fato, os desejos dos instintos egoístas estão em
revolta contra Deus, porque não se submetem à lei de Deus; (Rom 8, 5-7).
As obras dos instintos egoístas são bem
conhecidas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio,
discórdia, ciúme, ira, rivalidade, divisão, sectarismo, inveja, bebedeira,
orgias e outras coisas semelhantes. Repito o que já disse: os que fazem tais
coisas não herdarão o Reino de Deus.
Mas o fruto
do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé,
mansidão e domínio de si. Contra essas coisas não existe lei. Os que pertencem
a Cristo crucificaram os instintos egoístas junto com suas paixões e desejos. Se
vivemos pelo Espírito, caminhemos também sob o impulso do Espírito. Não sejamos
ambiciosos de glória, provocando-nos mutuamente e tendo inveja uns dos outros (Gal 5,16-26).
Interessante é que, na análise
de são Paulo, os instintos egoístas afetam a humanidade em três pontos
fundamentais da vida: a sexualidade, a religião e as relações humanas. Das 15
especificações de situações provocadas pelos instintos egoístas mais da metade –
8 – se referem as relações interpessoais. Isso é muito significativo, pois está
dizendo que o âmbito mais afetado pelos instintos egoístas é mundo das relações
sociais, humanas. ´na maneira de nos relacionamos com os irmãos e os irmãos que
se percebe quem é o nosso mestre.
O dato importante é que, quem
segue a Jesus e se disponibiliza para um caminho de mudança pode passar de uma
vida dominada pelo egoísmo para uma vida guiada pelo Espírito Santo. Este é o
sentido da vida cristã: um caminho de conversão. Este caminho pode ser
sintetizado pelas palavras de Paulo:
Jesus morreu por todos, para que aqueles que vivem não
vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por ele morreu e ressuscitou (2 Cor 15).
Esta é a conversão: passar de uma vida egoísta onde penso somente em mi
mesmo e não me interessa dos outros, para uma vida para os outros, para Jesus,
que se despojou de tudo para nós. Esta é exatamente o trabalho do Espírito,
pois esta passagem de estilo de vida não é humana, não é fruto de esforço humano,
mas somente pela ação gratuita do Espírito Santo, capaz de transformar o homem,
mulher velho em homem, mulher novos.
Vocês devem deixar de viver como viviam antes, como
homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. É preciso que vocês
se renovem pela transformação espiritual da inteligência, e se revistam do
homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade (Ef 4, 22-24).
Esta é uma outra maneira de
Paulo falar da conversão como passagem de uma situação para outra. Conversão
como passagem do homem velho, marcado pelas paixões da carne, movido pelos
instintos egoístas, para um homem novo, impelido pela força do Espírito Santo,
que o leva a se doar gratuitamente e de forma desinteressada.
Se trata de uma transformação profunda
que chega até a modificar a maneira de pensar e de organizar, planejar a
própria vida.
Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas
transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de
Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito (Rom 12,2).
A disponibilidade que nós
damos ao Espírito Santo para sermos pessoas novas, se percebe das decisões que
tomamos, da maneira de pensar. Esta nova mentalidade, esta nova inteligência transmite
os frutos do Espírito Santo: amor, alegria, paz, paciência, bondade,
benevolência, fé, mansidão e domínio de si (Gal 5,26).
Esta maneira nova de pensar
provocada pela assimilação cotidiana do Evangelho é bem expressada também nesta
passagem da primeira carta aos Coríntios:
Nós temos o pensamento de
Cristo (1 Cor 2, 16). O Espírito
Santo trabalha de uma forma que chega até a modificar a estrutura dos nossos pensamentos.
Última passagem. Existe um
critério para entender se de verdade estamos num processo de conversão, se
estamos deixando agir o Espírito Santo na nossa vida ao ponto de nos tornarmos
pessoas novas que pensam até de forma nova? Seguindo sempre as intuições de
Paulo este critério se encontra na nossa maneira de liar com o passado. ´isso
que Paulo fala na carta aos Filipenses:
Por causa de Cristo, porém, tudo o que eu considerava
como lucro, agora considero como perda. E mais ainda: considero tudo uma perda,
diante do bem superior que é o conhecimento do meu Senhor Jesus Cristo. Por
causa dele perdi tudo, e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo, e
estar com ele. E isso, não mais mediante uma justiça minha, vinda da Lei, mas
com a justiça que vem através da fé em Cristo, aquela justiça que vem de Deus e
se apoia sobre a fé. Quero, assim, conhecer a Cristo, o poder da sua
ressurreição e a comunhão em seus sofrimentos, para tornar-me semelhante a ele
em sua morte, a fim de alcançar, se possível, a ressurreição dos mortos (Fil 3, 7-11).
Quem fica amarrado ao passado
e não consegue desgrudar disso, vive ainda conforme ao princípio da carne, conforme
os instintos egoístas. O Espírito Santo que entre em nós abrindo a nossa mente
nos ajuda a perceber a presença de Cristo na História e nos mostra os novos
caminhos que Deus prepara para nós. A inteligência nova provocada pelo Espírito
nos ajuda a sermos pessoas de mente aberta, que sabem olhar futuro com o
coração cheio de esperança porque sabe muito bem que, apesar das aparências matérias
negativas, na realidade o futuro é já marcado pela vitória de Cristo sobre a
morte. São coisas novas que o Espírito prepara para nós. O dato interessante, e
concluo com isso, é que já o profeta Isaias partilhava esta ideia:
Não fiquem lembrando o passado, não pensem nas coisas
antigas; vejam que estou fazendo uma coisa nova: ela está brotando agora,
e vocês não percebem? (Is 43, 18-19).
Muito boa reflexão padre
RispondiEliminaobrigado
Elimina