(At
10,34.37-43; Col 3,1-4; Jo 20,1-9)
1.Páscoa, como ouvimos na primeira leitura da
Quinta feira santa, quer dizer “passagem”. Nesta passagem Deus passa para
salvar a humanidade do pecado e, no dia de Páscoa, nós lembramos a passagem que
Jesus realizou para passar deste mundo de morte para o Reino de Deus, que é o
Reino da vida verdadeira.
“Jesus
ressuscitou!” É este o grito que a liturgia de hoje proclama. Não podemos
procurar Jesus entre os mortos, pois Ele está vivo, ressuscitou! E, agora, o
problema é nosso: como reconhece-lo?
2. Uma
primeira resposta a encontramos no Evangelho de hoje: “Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao
túmulo. Ele viu e acreditou” (Jo 20,8).
Pedro e João,
no primeiro dia da semana depois da morte de Jesus, correram para o túmulo para
avaliarem as palavras assustadoras de Maria Madalena que, de volta do túmulo,
tinha anunciado que o corpo de Jesus tinha sumido. Os dois chegaram ao túmulo,
viram “as faixas de linho deitadas no
chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as
faixas, mas enrolado num lugar a parte”( Jo 20,6-7), e João, vendo isso,
acreditou. O problema é: porque João acreditou? O que foi determinante para
João, para vislumbrar naqueles panos deitados no chão e naquelas faixas de
linho, a presença de Jesus, a certeza que Ele estava vivo?
Acho que, a
resposta a esta pergunta, se encontra no mesmo texto do Evangelho de hoje ao
versículo dois, aonde está escrito: “Então
ela saiu correndo e foi encontrar Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus
amava” (Jo 20,2).
No quarto
Evangelho, João é apresentado desta forma: o discípulo que Jesus amava. Acho
que seja esta a característica que o Evangelho aponta como necessária para
reconhecer Jesus vivo, presente na historia, na companhia dos homens e das
mulheres de hoje: o amor. E amor quer dizer relação. Em qualquer relação
amorosa precisa do corpo. Na estrutura antropológica do homem, conforme a visão
bíblica, o corpo participa da mesma vocação da pessoa, junto com a alma. Isso
vale também na experiência espiritual. È por essa razão que Jesus, antes de
morrer, ofereceu para os seus discípulos, os sinais da sua presença depois da
morte e ressurreição: “Tomai e comei,
este é o meu corpo... Tomai e bebei este é o meu sangue” (Lc 22,14). Sendo
que a corporeidade é essencial na experiência cristã, isso quer dizer que não
existe experiência religiosa autentica a não ser na Eucaristia e na Igreja, que
Paolo chama “Corpo de Cristo”. Amar exige um corpo, uma presença e uma freqüência.
Nós não somos anjos, mas homens e mulheres que, para amar, precisam deste dois
elementos fundamentais: o corpo e o tempo. Para que o amor não se torne
platônico, pura ilusão e evasão da realidade, devemos constantemente fazer a
experiência do amado. Então, tudo o tempo que passamos na oração e na meditação
da Palavra de Deus é tempo que fortalece o nosso amor para Jesus. É com esse
amor que podemos entrar na historia cotidiana, para reconhecermos os sinais da
sua presença. Sendo que somos pessoas amadas pelo Pai, Deus em Jesus se
manifesta a cada um e a cada uma de nós de uma forma especial, particular. Os
sinais que Jesus coloca na minha vida, não são para qualquer pessoa, mas para
mim. Deus mi ama como se eu fosse o único para Ele. Este dato fundamental da
experiência religiosa cristã, não é individualismo ou egoísmo, mas a
consciência profunda da dinâmica da experiência religiosa, que nunca é
genérica, mas sempre pessoal. Se nas nossas comunidades encontramos muitas vezes tanta frieza, é porque os
lideres não vivem o relacionamento com o Senhor como um relacionamento de amor,
com tudo aquilo que necessita neste relacionamento: tempo, dedicação, atenção.
A Igreja será sinal da presença do ressuscitado no mundo somente se cultivará
entre os seus fieis o amor a Jesus, que nos leva a amar os irmãos e as irmãs de
caminhada, pois reconhecemos neles a presença do ressuscitado. Sempre nessa
linha não é um caso que a Bíblia termine com a imagem do Cordeiro imolado e da
Igreja, do Esposo com a Esposa. É este relacionamento profundo que o tempo
pascal nos convida resgatar, para que a nossa vivência na Igreja não seja
apenas material- a assunção de tarefas- mas antes de mais nada a expressão de
um intenso relacionamento de amor com Jesus ressuscitado.
3. Como
podemos verificar se a nossa experiência de fé é fruto do encontro com o ressuscitado?
É são Paulo
que, na Segunda leitura de hoje, nos oferece uma indicação bem clara.
“Pois vós morrestes, e a vossa vida está
escondida, com Cristo, em Deus” (Col 3,3).
É importante
salientar logo, que Paulo está falando
para uma comunidade como a nossa. Isso quer dizer que, pra são Paulo, a vida
cristã é vida no escondimenento, ou seja que aquilo que caracteriza o estilo de
vida dos cristãos é a vida escondida, como fruto da morte ao pecado. Os cristãos, pelo fato que seguem o
ressuscitado, buscam as coisas do alto, que são invisíveis aos olhos da carne.
A verdade desta vida escondida com Cristo em Deus, está no desapego as coisas
do mundo, no despojamento. Se o mundo exerce ainda uma atrativa sobre de mim,
isso quer dizer que o Ressuscitado na minha vida é ainda uma teoria, uma
teologia, uma letra que ainda não se fez carne. Pelo contrario a intensidade
que colocamos na busca das coisas de Deus, a força e a determinação da nossa
resposta pessoal, são sintomas claríssimos de
um encontro que modificou profundamente, substancialmente a nossa
existência. Jesus é a totalidade cuja presença preencheu o universo de sentido e, quem o encontra, não deseja mais
nada que esteja além da sua proposta.
Sempre neste
versículo que estamos comentando, Paulo mostra como é que se torna possível uma
vida escondida em Deus. “Pois vós
morrestes”: o cristão é um homem morto, que participa sacramentalmente da
morte de Cristo ao pecado. Este é o primeiro fruto do encontro com o
ressuscitado: o desprezo do pecado e a luta extrema para extirpar o pecado da
própria vida. Esta morte ao pecado é ao mesmo tempo um dom e um compromisso. É
de fato, um dom de Deus, que através da ressurreição doe seu Filho Jesus,
destruiu definitivamente a força do pecado; mas é ao mesmo tempo um compromisso
de cada um de nós, pois a nossa natureza permanece sensível a atraída pelo
pecado. Exultando no dia de Páscoa pelo grande prodígio que Deus realizou em
seu Filho Jesus, ressuscitando-o da morte, devemos ao mesmo tempo exultar por
ter-nos oferecido o caminho autentico da salvação. Caminho que, com a força do
Espirito Santo, somos convidados a percorrer todos os dias. É nesse caminho que
poderemos devagarinho contemplar na nossa vida, os benefícios da Ressurreição
de Jesus.
4. Que o
Senhor Jesus acompanhe a nossa caminhada neste tempo pascal, para que em nós e
através de nós, possa se manifestar a gloria de Deus.
Tapiramutá,
16.4.2006 Pe Paolo
Cugini
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