ISAIAS 40-55 (4)
Paolo Cugini
4. O PROCESSO CONTRA OS IDOLOS
Outro
elemento de continuidade entre o primeiro e o segundo Isaias é que a um certo
ponto o tom esquenta e assume o nível de um debate. JHWH aparece como um rei
que julga a terra toda. A diferença e que no primeiro Isaias o processo era
contra Israel, enquanto no segundo é contra as Nações pagãs. Nessa altura é
importante lembrar a antiga concepção teológica de Israel, que acreditava num
único Deus, mas não excluía a existência de outros deuses. Para Israel estes
deuses eram divindade que Deus tinha entregado as outras nações. A fé de Israel
no Deus único não vetava aos outros povos de adorar os próprios deuses, pois
eram considerados como vontade de JHWH. Trata-se, então, de uma perspectiva
ecumênica que encontramos, sobretudo no Deuteronômio[1]. É
nestes oráculos do Deuteroisaias que é declarada explicitamente a unicidade da
divindade de JHWH[2].
A conclusão do processo é uma sentença de condenação dos outros deuses
considerados inexistentes, simples criações humanas. Todos as argumentações do
monoteísmo Jawista que encontramos de forma contundente nestes oráculos são de
tipo histórico e não metafísico.
- Primeira
argumentação. JHWH para realizar o seu plano na história se serve não
somente do povo de Israel, mas também dos outros povos. Por exemplo, se
serve da assíria ou da Babilônia para realizar o seu plano. Ciro é chamado
no Deuteroisaias de unto[3],
messias. Entregando o poder messiânico, entendido no sentido político,
para um rei estrangeiro o Deus de Israel manifesta a sua realeza sobre
todos os povos como único e verdadeiro Deus de todos os homens[4].
- Este novo evento de libertação que se realiza através de Ciro, já tinha sido anunciado muito tempo antes. Então este evento não é nada mais que o cumprimento das promessas de salvação proclamadas por Deus através dos profetas. É o grande tema da Palavra criadora da história que inaugura e recapitula toda a pregação do Deuteroisaias. Toda esta reflexão tem como mira a polemica contra a ciência astrológica babilonense que tinha a pretensão de prever o futuro baseando-se sobre cálculos humanos[5]. Deus anuncia o futuro não porque adivinha aquilo que acontecerá, mas porque acontecerá exatamente aquilo que Ele quer, conforme a sua vontade, conforme aquilo que a sua Palavra proclama. Nesta perspectiva qualquer tentativa humana de previsão do futuro é por si mesma idolátrica porque tem a pretensão de superar limites objetivos postos ao conhecimento humano e, por isso mesmo, destinado ao fracasso[6]. O conhecimento do futuro, portanto, se torna o elemento discriminatório entre a fé no Deus pessoal, que revelou a sua Palavra a Israel e a fé idolátrica dos povos que se entregam aos cálculos humanos dos astrólogos. O futuro, o sentido da história, foge á ciência humana: é o segredo de Deus revelado aos profetas[7]. Este tema acompanha todo o Deuteroisaias durante o processo as nações[8]. A unicidade da divindade de Deus é demonstrada pelo fato que somente Ele é o Deus que “desde o principio” anunciou o fim da história; só Ele é presente seja no começo que no fim da história. É por isso que Ele recebe no Deuteroisaias o titulo de Primeiro e Último enquanto único Senhor e soberano da história[9]. Todos os ídolos, como qualquer potencia humana, existem somente no presente e depois somem: mas no principio e no fim existe somente JHWH. A verdade da história, que a se compreende no seu principio e no seu fim, proclama a existência única do Deus de Israel.
- A
última argumentação decisiva do processo aos falsos deuses é aquilo da
criação[10].
O único criador de todas as coisas é o Senhor. É bom salientar que a
primeira pagina do Genesis, que fala da bondade da criação, é com muita
probabilidade para ser datada nesta época. O contexto de polemica contra
os ídolos leva o Deuteroisaias a afirmar que Deus além de criar o bem
criou também o mal[11].
É claramente um versículo que não deve ser lido de forma fundamentalista,
mas sim dentro do contexto polemico[12].
Deus sabe fazer do mal uma ocasião de conversão e de penitencia do homem
para prepará-lo a acolher a salvação. A queda de Babilônia é interpretada
como a queda definitiva e total de todos os ídolos deste mundo[13].
E assim a revelação do nome de JHWH no livro do Êxodo encontra no
Deuteroisaias a verdadeira exegese: JHWH, aquilo que é, o Existente, em
contraposição a todos os outros deuses que não são[14].
JHWH é aquele que diz: eu estou aqui e esta existência única, esta
presença é o seu nome. A tarefa histórica de Israel no meio das nações
pagãs é a santificação deste nome divino, o testemunho da existência única
de HWH[15].
Neste contexto Israel é o testemunho que Deus escolheu perante os pagãos
em vista da conversão de todos os povos. Israel é o Servo de JHWH, cujo
serviço é o testemunho do nome de JHWH entre os povos e é esta missão
universal de testemunho é proclamada nos Cânticos do Servo de JHWH.
[1] Cf. Dt 4,19; 32,8.
[2] Cf. Is 41,1-5.21-29; 42,8-9;
43,8-15; 44,6-8; 44,24-28; 45,1-7.20-25; 46,1-13; 48,1-16.
[3] Cf. Is 45,1.
[4] Cf. Is 40,5.
[5] Cf. Is 4,22-26.
[6] Cf. Is 47,13.
[7] Cf. Is 41, 23.26-27; 46, 10-11.
[8] Cf. Is 43,12; 44,7; 48,3.
[9] Cf. Is 44,6-7; 41,4.
[10] Cf. Is 40,12-26.
[11] Cf. Is 45,6-7.
[12] Cf. Is 41,23-24.
[13] Cf. Is 46, 1-13.
[14] Cf. Is 42,8.
[15] Cf. Is 43, 10.12.
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