O RESTO
QUE AINDA CRE
ISAIAS
7-8
Paolo Cugini
A grande pregação de Isaias se concentra no redor de dói
momentos:
- 734-732: conquista do
reino do Norte
- 705-701: conquista de
Judá
Em ambos os momentos a pregação de Isaias apresenta os
mesmos temas:
- Somente JHWH é o santo
que pode dar a salvação para o povo;
- Quem não confia nele vai
encontro ao julgamento;
- Somente quem acredita se
salvará: ficará.
A posição política de Isaias será sempre a mesma: a recusa
e qualquer tipo de aliança com poderes histórico, aliança que afeta a confiança
na força de Deus.
- Contra a aliança de Acaz
com a Assíria contra Damasco e Israel (734-732)
- Contra a aliança de
Ezequia com o Egito e Babilônia contra
a Assíria.
Toda aliança é para Isaias um sintoma de idolatria, de
confiança em algo que não é o Santo de Israel e, por isso, não pode dar certo,
pois não pode dar salvação.
A fé (7,1-6.9)
Síntese dos dados históricos:
- Chegam os invasores,
muito mais poderosos de Judá, com a idéia de tirar o trono de Acaz e
eleger rei Bem Tabeel.
- Medo coletivo;
- Intervenção do profeta
Isaias com no colo o filho cujo nome resume o sentido da vontade de Deus:
um resto se converterá.
Isaias pede a Acaz de ter fé somente em Deus. “Se não
acreditais, não sereis salvos”. Crer em Isaias quer dizer duas coisas:
- Ter confiança, ficar
tranqüilos, não ter medo: é a confiança total de quem se entrega a Deus
(v.4), como uma criança no colo de sua mãe. Este tema da confiança em Deus
que se manifesta na calma, é um tema típico de Isaias[1].
Não se trata de uma postura infantil, ingênua, mas sim da atitude da
pessoa está investindo tudo na Palavra de Deus, na consciência que somos
chamados a colaborar ao projeto de Deus, mas mesmo assim é somente Ele que
pode realizá-lo de uma forma completa. Fé para Isaias é uma forma interior
de paz, de calma confiante.
- Esta confiança nasce da
capacidade de observar Deus que age, saber olhar a obra de Deus[2].
Toda a criação é obra das suas mãos. Para Isaias também a historia é obra
das mãos de Deus. Dentro da historia humana Deus realiza uma obra de
salvação, que é a única real, a única que oferece um sentido a toda a
historia. Esta maneira de entender a historia tema as suas raízes no Dt e
no Ex[3].
Fé, então, quer dizer saber reconhecer esta obra de Deus,
celebrá-la, obedecê-la. Também na nossa vida eclesial e pessoal Deus realiza a
sua obra de salvação. Não somos nós a cumprir esta obra: nós devemos somente
reconhecê-la, a posteriori, como algo já em ação, que está acontecendo e que
nós percebemos os sinais. O pecado contra a fé o pecado de incredulidade é que
nós preferimos olhar a nossa historia, aquilo que estamos construindo,
confiando mais nos nossos sentimentos, nas nossas intuições, nas nossas razões
humanas.
Em Isaias esta contraposição é claríssima: fé quer dizer
olhar a obra de Deus, a incredulidade é olhar para as nossas obras e por isso a
idolatria é por confiança naquilo que não salva.
“O seu país é cheio
de ídolos: adoram as abras das suas mãos”[4]. Este
tema será levado ao cabo da reflexão deuteronomista.
O sinal de contradição (7, 10-17)
Síntese do oráculo:
- Isaias convida Acaz a
olhar para a obra de Deus, a pedir um sinal que o ajude a percebê-la.
- Acaz se recusa, não quer
olhar! É cego, pois prefere aliar-se com a Assíria.
- Deus doa igualmente um
sinal, um sinal de contradição.
O sinal é o nascimento de uma criança, um filho da estirpe
de Davi[5]. Talvez
se trate de Ezequias, mas é difícil saber, as datas a nossa disposição não
batem bem. A virgem seria então a esposa de Acaz, que sem duvida era muito
jovem, sendo que Acaz, naquela época, tinha 20 anos. A palavra hebraica quer
dizer jovem mulher, moça núbil[6]. Aqui
pode ser entendida como recém casada, ao primeiro parto. Não supõe um
nascimento milagroso, virginal. Os LXX traduziram com virgem, fazendo
referência á virgem filha de Sião. É claramente uma leitura espiritual, que
voltara no Trito-Isaias.
Este sinal apresenta então uma ambivalência:
- È sinal de salvação pela
casa de Davi. Os Arameus e os israelitas querem mudar a dinastia de Judá,
mas isso não acontecerá. A prova disso será o mesmo filho de Acaz, da
estirpe de Davi. A promessa feita a Davi por meio do profeta Natan é
confirmada. Eles querem colocar Tabeel, mas será Emanuel. Este nome quer
dizer Deus conosco e ele salvará Judá dos inimigos.
- Pela incredulidade de
Acaz e Judá o sinal se retorce contra eles mesmos: Deus mandará contra
Judá a nação que Judá tinha invocado: a Assíria. Por isso também a criança
viverá tempos duros, alimentos dos sobreviventes depois de uma deportação
(leite e mel).
Então Ezequias será sim reis de Judá, mas será o rei de um
resto.
- O resto é uma categoria
que Isaias aplica não apenas ao povo mas também ao rei. Isso quer dizer
que também o rei deve passar através de uma experiência de sofrimento, de
dor, porque ele é solidário como seu povo[7].
- Esta experiência de
sofrimento servirá como correção pelo resto, ensinará a distinguir o bem
do mal, a obra de Deus da obra humana, ensinará a fé até que apreenda[8].O
castigo de Deus através da Assíria servirá a criar um resto que acredita
nele.
O anuncio do castigo se encontra nos oráculos seguintes:
Is 7,18-25: Castigo contra Israel e Judá, pelo qual a
Assíria é só um instrumento para suscitar um resto que volte a JHWH.
Is 8,1-4: através de um novo sinal, o nascimento de um
filho do mesmo profeta: Pronto saque- rápido bottino é anunciado o castigo de Damasco e do reino
de Israel. [9]
Is 8,5-10: é o anuncio do castigo também de Judá. Apesar de
tudo será o plano de Deus a vencer.
A Palavra e a historia (Is 8,11-18)
Depois destes oráculos inicia para Isaias um longo período
de silêncio, que durará mais ou menos 20 anos. Neste período ele falará somente
para um grupo de discípulos. Apesar disso Isaias escreveu os seus oráculos que
permanecerão como um testemunho: também se o povo não o escuta, ele o avisou. A
palavra se realizará sem problemas.
A obra que Deus quer realizar na historia deve ainda ser
cumprida, porém deus já colocou o alicerce através da sua Palavra proclamada
pelo profeta. Deus já colocou em Sião a primeira pedra do novo povo que ele
está construindo, o resto. Um tema parecido se encontra em Jeremias[10].
Is 8,14; 28,16: esta pedra, esta Palavra que Deus colocou é
a duplo corte, terá m duplo efeito: será de tropeço por alguns, e de salvação
por aqueles que acreditam. Nós podemos ler tudo isso como uma profecia da
Encarnação da Palavra em Jesus, o verdadeiro resto crente, o verdadeiro sinal
de contradição[11].
[1] Cf. 18,4; 30,15; 32,17.
[2] Cf. 5,12.19.
[3] Cf. Ex 14,13.21
[4] Is 2,8; 17,7-8; 22, 8-11.
[5] Cf. 8,8.
[6] Ex 2,8 Gen 24,43.
[7] Cf. toda a temática do sacerdócio autentico apresentada na carta
aos Hebreus.
[8] Cf. v.15.
[9] Cf. também: 9,7-20; 5,25-29; 17,1-6.
[10] Jer 1-2.
[11] Cf. Rom 9,33; 1Pd 2,6-8.
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