ISAIAS 40-55 (3)
Paolo Cugini
3. O NOVO EXODO
A
nova perspectiva aberta pela pregação deuteroisaiana, o assim chamado novo
êxodo deve ser colocado dentro o quadro geral de uma teologia da historia que
deve ser aprofundada. Esta concepção da história[1] é de
tipo dualista e divide a história em dois tempos:
- As
coisas primeiras, antigas (o passado)
- As
coisas últimas, nova (o futuro)
Estes
dois tempos são colocados entre eles num relacionamento de continuidade, mas
também de superação. Se de fato, é verdade que o novo nasce do antigo, é também
verdade que perante o novo, o antigo esvanece. Alguns falam que este dualismo
que encontramos no Deuteroisaias é mutuado da religião iraniana. Apesar disso é
bom lembrar que sempre, toda vez que Israel encontra conteúdos de culturas
diferentes nunca os assimila passivamente, mas atua uma interpretação, uma
assimilação ativa, transformadora. Assim o dualismo histórico que encontramos
nestas paginas não é de tipo metafísico, mas sim escatológico, que se expressa
através de categorias históricas. Do dualismo metafísico, típico do pensamento
grego, podemos encontrar traços no livro do Eclesiastes[2]. A
lógica do dualismo metafísico produz um espiritualismo desencarnado, tópico da
gnose: para salvar-se precisa se subtrair da roda do tempo, fugir da história.
Na perspectiva escatológica típica dos profetas, a salvação é inscrita dentro
da história. Todo evento passado é como um sinal daquilo que irá se realizar no
futuro. As coisas primeiras servem para preparar as últimas. É importante
salientar, porém, que o futuro não é apenas a realização de todas as profecias:
o futuro é algo de novo. A teologia bíblica da história é uma teologia da
esperança, da espera de um futuro de salvação sempre novo, porque todo evento
de salvação que se realiza na história se torna sempre de novo o sinal e a
profecia de um evento maior que deve ainda se cumprir. Todos os eventos, que
são realizações de profecias, tornam-se sinais de eventos futuros que receberão
em Cristo uma medida definitiva. Dessa forma é possível entender a história
como uma serie de etapas históricas que se aproximam sempre mais ao eschaton(fim) definitivo. Esta visão da
história é o pano de fundo do anuncio do Deuteroisaias do novo êxodo e da nova
aliança.
Profecia
do novo êxodo: Is 40, 9-11.27-31; 41,18-20;
42, 14-17; 43,16-21; 48,20-21; 49,9-12; 52,7-12.
Em
todos estes versículos é possível traçar alguns dados típicos:
- Como
o primeiro êxodo foi possível através do milagre da passagem no Mar
Vermelho, assim também este novo êxodo será possível através de um novo
milagre: a passagem no deserto[3].
O novo milagre e maior do que o antigo: o deserto florescerá como um
jardim, produzindo frutas de todo tipo. Além disso, até o caminho não será
cansativo, pois o mesmo Deus irá aplainar a estrada[4].
- A
novidade maior é que neste novo êxodo será o mesmo Deus a guiar o seu rebanho
por dentro do deserto[5].
Não precisará mais de um mediador como Moisés. A nova Páscoa representa,
portanto uma intervenção direta de Deus na história que apaga a
necessidade qualquer mediação humana. Talvez é possível vislumbrar nestes
versículos uma profecia da encarnação, da Páscoa que o Senhor viverá na
sua própria carne, morrendo na cruz para realizar o êxodo deste mundo para
o Pai.
- A
nova aliança, fruto deste novo evento
pascal é profetizada do Deuteroisaias em dois versículos: Is 54,6-10 e
55,3-5. Nestes dois textos a nova aliança é comparada a outras alianças
históricas: a aliança com Noé[6]
e a aliança com David[7].
Deste dúplice confrontação a nova aliança recebe as seguintes conotações:
a. Será
uma aliança de paz. Deus tinha prometido a Noé que não teria punido o pecado
dos homens[8]. Assim
tinha prometido a David que por causa do pecado teria golpeado a sua
descendência somente com o bastão, sem destrocá-la[9].
b. Será
uma aliança eterna[10]. Não é
mais como a aliança antiga estipulada através de Moisés, ou seja, um trato
bilateral; a nova aliança é inteiramente fundada sobre a graça fiel de Deus.
c. Será,
enfim, uma aliança universal, com toda a humanidade[11]. A
antiga aliança era estabelecida somente com o povo de Israel. Esta aliança do
Deuteroisaias é até novo em relação com aquela de Jeremias (31,31), pois ainda
não previa a dimensão universalista.
Agora
é todo o povo no seu conjunto que se torna testemunho entre os povos, o
mediador da aliança divina no confronto de todos os povos[12].
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