(Jó 19, 1.23-27; Sal 27; Rom
5,5-11; Jo 6,37-40)
Paolo Cugini
1. Hoje a
igreja celebra o dia dos finados, convidando todos os fieis a rezar pelas almas
dos nossos queridos. Fazendo isso a Igreja manifesta a sua fé na Ressurreição
do corpo e, também, a fé que depois da morte existe um tempo aonde as pessoas,
na espera do julgamento final, podem serem ajudadas pelas orações da Igreja, a
melhorar a própria condição de vida. Na comemoração dos defuntos a Igreja se
apresenta ao mundo com uma proposta diferente sobe o tema crucial que preocupa
toda a humanidade: a morte. Perante a morte ficamos desnorteados, apavorados,
tristes. É isso que acontece perante a morte de um ente querido, um parente, um
amigo: ficamos arrasados. A morte é um dos poucos dados inelutáveis da
existência humana: tudo mundo vai morrer. É algo que nos entristece porque a
morte quer dizer aniquilamento de tudo. Encarando a morte ficamos percebendo a futilidade
dos nossos projetos e, sobretudo, como a nossa vida é frágil. Por isso
aprendemos desde crianças, a não encarar a morte, a fugir dela. Pelo contrario
o cristianismo faz questão de ajudar as pessoas a se confrontar com a própria
morte, a olhá-la, para enfrentá-la de uma forma diferente. O que, então, o
cristianismo tem a nos dizer sobre o tema da morte?
2. “Esta é a vontade daquele que me enviou: que
eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no ultimo dia”
(Jo 6,39).
Este
versículo desmancha todas as idéias falsas sobre um Deus que destrói e acaba
com a humanidade. Não, Deus deseja salvar a todos: pro isso mandou o seu Filho
Jesus. É importante frisar isso para sairmos de uma religiosidade do medo de
Deus, uma religiosidade de um Deus perseguidor, para entrarmos definitivamente
na espiritualidade do Deus da vida, que é o Deus do amor, o Deus Pai que não
quer que nenhum dos seus filhos se percam. A missão de Cristo na terra é esta:
fazer de tudo para atrair os homens, as mulheres a Deus. E Jesus cumpre a sua
missão não com um discurso persuasivo, mas com o único discurso que a
humanidade toda sabe apreciar: o discurso do amor, do testemunho pessoal. Neste
versículo Jesus sintetiza em poucas palavras o sentido da sua missão: fazer de
tudo para que ninguém se perca. Para isso acontecer são fundamentais duas
coisas: ver o Filho e crer nele (cf. Jo 6,40). É impossível, de fato, crer em
Jesus sem vê-lo. Ao mesmo tempo, porém, temos dificuldade ver Jesus para
acreditar nele. Como sair desta situação?
Esta
é a tarefa da Igreja. Cristo se faz visível hoje toda vez que os cristãos se
amam um o outro, se respeitam, partilham aquilo que têm. A Igreja é o corpo de
Cristo visível na contemporaneidade. Por isso recebemos o seu espírito, para
que suscite em nós os mesmos sentimentos, as mesmas atitudes, os mesmos sonhos
que eram de Jesus. Só assim, a humanidade tem chance de salvar-se; só vendo na
existência dos crentes o amor que se manifestou em Cristo poderá acreditar no
Salvador e, assim, entrar no caminho da vida eterna.
Nessa
altura é importante salientar que Jesus no Evangelho de hoje faz uma clara
distinção entre vida eterna e ressurreição. A vida eterna pertence ao tempo
presente, enquanto a ressurreição ao futuro: quer dizer isso? Como podemos
falar agora, no tempo presente de vida eterna? Não é uma contradição, uma
utopia? Se a vida eterna é a vida em Deus, aquela vida permeada do amor, da
sede de justiça, do desejo e do esforço de realizar a paz entre todos, então a
vida eterna começa no memento que acolhermos a vida plena do Senhor Jesus. A
verdade de Cristo é esta: ele realiza em nós aquilo que aconteceu nele. É a
nossa humanidade o espaço aonde a força de Deus, que se manifestou em Cristo
realiza o seu prodígio, a sua verdade. É isso que deve ser visível em nós. Se
nestes anos nos quais estamos nos dedicando a conhecer o Evangelho de Jesus, um
pouco mais de amor não moldou a nossa humanidade, um pouco mais de vontade de
justiça não entrou nos nossos desejos, então isso quer dizer que o Espírito
Santo não encontrou muito espaço para moldar a nossa humanidade, permanecendo,
assim, extremamente mortais.
3. “E eu o ressuscitarei no ultimo dia” (Jo
6,40b).
Se
o efeito do seguimento a Jesus no tempo presente é uma vida eterna, ou seja,
uma vida que manifeste na nossa humanidade os traços da humanidade de Cristo,
diferente é o discurso do premio definitivo. A fé na ressurreição da carne é o
centro do mistério cristão, pois é a fé no projeto de Deus, naquele projeto que
encontramos nas primeiras paginas da Bíblia quando Deus criou o homem e a mulher
a sua imagem e semelhança. Este projeto, estragado pelo pecado, é agora, em
Cristo resgatado. A fé na ressurreição da carne manifesta, também, que no
projeto de Deus o corpo é participe da vocação da pessoa, que é ao mesmo tempo
corpo e alma. A fé na ressurreição da carne, quando for entendida no seu
sentido mais profundo, deveria acabar com aquele espiritualismo vazio de cunho
platônico, que incita o menosprezo do corpo como caminho para salvar a alma.
São Paulo nos lembra que o corpo, longe de ser algo de negativo, é chamado por
Deus a ser templo do Espírito Santo. Esta visão do corpo é muito longe daquilo
que amiúde escutamos, também dentro da Igreja, de menosprezo do corpo. Acreditar
no premio futuro da ressurreição da carne, significa se afastar das crenças
espíritas da reencarnação. Não podemos, de fato, de um lado acreditar na
ressurreição da carne e do outro, dar fé a crença da reencarnação, que nega a
mesma ressurreição. A doutrina da reencarnação acredita que a alma, depois da
morte, entra num outro corpo. Pelo contrario a fé na ressurreição acredita que
o corpo pertence a mesma vocação da alma e que no ultimo dia ressurgirá de
forma perfeita.
4. “A prova de que Deus nos ama é que Cristo
morreu por nós quando éramos ainda pecadores” (Rom 5,8).
A
fé na ressurreição não se fundamenta apenas num artigo dogmático, ma sim no
nosso amor a Jesus Cristo, na sua pessoa. Por isso a liturgia de hoje, enquanto
coloca na nossa frente o problema da nossa morte, nos convida a entrar no
caminho da amizade intima de Cristo, para que o nosso conhecimento dele possa
abrir a nossa mente aos mistérios profundos que Deus quis revelar através da
sua existência. Somente assim poderemos entender que na realidade o mistério da
morte não amedronta tão assim como somos acostumados a encará-la, mas que em
Cristo, Deus nos ofereceu um caminho para sairmos vitoriosos com Ele. O
problema é ter a coragem de abandonar o nosso medo, as nossa idéias, para
entrarmos com coragem na trilha que Jesus traçou. Cabe a nós escolher. Amem.
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