sabato 31 maggio 2025

ASCENSÃO DO SENHOR/C – SOLENIDADE

 




 

Atos 1,1-11; Sl 47; Ef 1,17-23; Lc 24,46-53

 

Paolo Cugini

 

A solenidade da Ascensão do Senhor, que celebramos hoje, deve ajudar-nos a compreender o significado da missão da Igreja no mundo e também do nosso batismo, pois é neste sacramento que recebemos o Espírito Santo. De fato, é na Ascensão do Senhor que os discípulos recebem o mandato de anunciar o Evangelho a todos os homens. A tarefa da Igreja, portanto, é ser testemunha de Cristo. Além disso, a Ascensão do Senhor ensina-nos que o Evangelho não é apenas um anúncio terreno, que se encerra na terra. O Evangelho não é um código de conduta moral, mas a indicação de um caminho que tem como meta o encontro com o Pai. Assim como Jesus passou, através da sua paixão e morte, deste mundo para o Pai (Jo 13), este é o significado da sua Páscoa: nós também devemos ouvi-lo para passar com Ele deste mundo para o Pai. Por isso, somos convidados a anunciar o seu Evangelho ao mundo, o seu único caminho de salvação. E aqui surge o problema: como é possível anunciar este caminho de salvação?

 

Foi a eles que Jesus se mostrou vivo depois da sua paixão (At 1,3).

O primeiro critério para dar testemunho de Jesus no mundo é conhecê-lo, conhecê-lo. Jesus não é uma ideia abstrata, mas uma pessoa concreta; Jesus não é uma criação literária, não é fruto da imaginação humana. Jesus é Deus que se fez homem e veio habitar entre nós: é Deus que se aproximou de nós. É por isso que é impossível conhecer Jesus a não ser através de uma experiência viva, autêntica e profunda. Jesus não envia os seus discípulos para anunciar uma ideia, ou algo do género, mas aquela experiência específica que tiveram com o Senhor. Não é por acaso que Jesus, após sua morte e ressurreição, apareceu apenas aos seus discípulos, isto é, àqueles que foram capazes de reconhecê-lo. Portanto, na raiz do nosso testemunho – porque este é o significado do nosso batismo! – deve estar a nossa experiência com o Senhor Jesus. Não podemos anunciar Cristo se não o conhecemos. Em sua primeira carta, João relata esta mesma reflexão: o que ouvimos, o que as nossas mãos tocaram, isso vos anunciamos (cf. 1 João 1:1-4). A vida cristã não se faz apenas de palavras, mas de experiência autêntica com Cristo. É o conhecimento dEle que nos permite conhecê-lo e, portanto, comunicá-lo ao mundo.

 

Vocês receberão poder ao descer sobre vocês o Espírito Santo (Atos 1:8).

O conhecimento experiencial e pessoal do Senhor, porém, não é suficiente: é necessário o Espírito Santo. Somente o Espírito de Deus pode dar aos discípulos a coragem de proclamar, de testemunhar o Senhor ressuscitado em um mundo que o odeia, que o massacra, que odeia a Deus e, consequentemente, odeia todos aqueles que falam do Filho. Essa coragem não é uma força psicológica, de origem humana, mas algo que vem de Deus, do seu Espírito.

 

Há algo mais. Para ser testemunha, precisamos da força que vem de sermos credíveis. Isso significa que, se queremos ser testemunhas do Senhor, nosso encontro com Ele deve ter mudado significativamente nossas vidas. Como podemos, de fato, proclamar o amor de Cristo aos nossos inimigos se odiamos alguém? Como podemos ser testemunhas da comunhão de Cristo se somos instrumentos de luta e dificuldade? Como podemos ser testemunhas da morte de Cristo que perdoou nossos pecados, se não somos capazes de perdoar? Como podemos proclamar o amor de Cristo aos pobres se gastamos nosso tempo acumulando riquezas, tornando-nos instrumentos de injustiça? Testemunhar significa contar o que Jesus fez não apenas com palavras, mas também e, sobretudo, com a nossa própria vida. A verdade do que anunciamos deve ser claramente visível na nossa carne, na nossa história. Testemunhar não significa dizer o que Jesus fez, mas o que Jesus fez por mim, a salvação que Ele trouxe para a minha vida. Se somos chamados a anunciar a Salvação que Cristo realizou na história através da sua paixão, morte e ressurreição, então tudo isso deve estar escrito na nossa vida, deve ser claramente visível na nossa carne, no nosso modo de ser, de viver, de pensar. Isso só se torna possível se o encontro com o Senhor tiver verdadeiramente trazido a salvação para a nossa existência. Só então as palavras se tornam credíveis, alcançando um peso e uma força impressionantes, que penetram o coração do mundo, perturbando-o, preocupando-o, levando-o a sério. Por isso, São Lucas, pouco depois, nos Atos dos Apóstolos, no quarto capítulo, narra como se estruturou a comunidade dos primeiros cristãos, seguindo a pregação dos discípulos.

 

A multidão dos que tinham chegado à fé era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que suas propriedades eram o que possuía, mas entre eles tudo era comum (Atos 4.32).

É por isso que a pregação dos discípulos atraía multidões: não se tratava de discursos e habilidades retóricas, mas de testemunho. O que os discípulos anunciavam, isto é, a salvação pelo Evangelho de Jesus (cf. 1 Cor 15,1-3), era claramente visível em suas comunidades, compostas por pessoas que viviam o nome de Jesus de uma maneira totalmente nova, não mais animadas pelo egoísmo humano que só causa divisões e rivalidades, mas pelo amor de Jesus que inspira caridade e partilha entre si.

Quais são os sinais que o Espírito Santo produz em nossa humanidade que tornam nosso anúncio crível?

Em primeiro lugar, a humildade. De fato, somente Deus deve ser glorificado por meio de nossa ação. Somente o Espírito pode produzir em nós esse sentimento fundamental da vida cristã, tão presente na vida de Cristo.

Em segundo lugar, a alegria. Os cristãos são alegres não por causa de sua conta bancária ou outros bens materiais, mas porque vivem com Jesus. É isso que Santa Teresa de Jesus queria dizer quando escreveu: “Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta.”

Peçamos a Deus que, nesta Eucaristia que celebramos, o Espírito Santo produza em nossas vidas aquela humildade e alegria tão necessárias para o testemunho autêntico do seu Evangelho.

sabato 24 maggio 2025

VI Domingo da Páscoa/C

 



 

Paolo Cugini

No tempo da Páscoa, a liturgia nos oferece uma reflexão sobre o significado da presença do Ressuscitado na vida da comunidade cristã, na vida daqueles que o encontraram. De fato, este deveria ser o sentido da Igreja, isto é, do grupo de pessoas que fizeram a experiência do encontro com o Ressuscitado e que o testemunham com um novo estilo de vida, que apresenta características específicas. Na narrativa dos Atos dos Apóstolos, cada vez que Paulo é chamado a se defender diante das autoridades romanas das acusações dos judeus (Atos 22 e 26), ele o faz narrando a mudança operada por seu encontro com o Ressuscitado. Esta é então a pergunta que busca abrir o sentido das leituras propostas pela liturgia de hoje: o que deve acontecer com as pessoas que encontraram o Ressuscitado?

As duas primeiras leituras nos oferecem material semelhante para a nossa resposta, que poderíamos formular assim: o encontro com o Ressuscitado nos liberta da religião falsa, aquela feita de normas e prescrições, que escravizam os homens em vez de libertá-los. Esta foi a experiência de Paulo que ele procura compartilhar em suas viagens missionárias, afirmando que o Evangelho de Jesus libertou a humanidade de todas aquelas prescrições que, em vez de aproximar a humanidade do Pai, a afastam. É justamente neste ponto que Paulo e Barnabé encontrarão forte resistência dos judeus convertidos ao cristianismo, que queriam impor as leis mosaicas também aos pagãos convertidos. 

Naqueles dias, alguns homens desceram da Judeia e ensinaram aos irmãos: “Se não vos circuncidardes, conforme o costume de Moisés, não podeis ser salvos” (Atos 15:1). O Concílio de Jerusalém, do qual se relata um trecho do documento final na primeira leitura, discutirá justamente este ponto e serão fundamentais os testemunhos de Pedro e Paulo sobre a descida do Espírito Santo também sobre os pagãos. Em sintonia com este caminho, estão as palavras do Apocalipse relatadas na segunda leitura, que afirma que, na nova Jerusalém, segundo a visão de João, não haverá templo, porque: “o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro são o seu templo”. (Ap 21, 22). O templo de Jerusalém, especialmente o segundo templo, aquele reconstruído após o retorno do exílio na Babilônia, havia se tornado o símbolo de uma religião composta de tantos preceitos e regras que um relacionamento pacífico com Deus era impossível. Por isso, no diálogo com a samaritana, Jesus dirá que, para um diálogo autêntico com o Pai, não haverá mais necessidade de templos porque: «os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade» (Jo 4, 23).

A comunidade daqueles que encontraram o Ressuscitado, além de se libertar da falsa religião dos preceitos, torna-se uma presença de paz no mundo. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não vo-lo dou como o mundo o dá (Jo 14,25-26). A Sagrada Escritura considera a paz não apenas como a ausência de guerra, mas sobretudo como um dom de Deus e a plenitude de todas as suas bênçãos. Esta é a mensagem central da esperança messiânica anunciada pelos profetas, que a veem realizada na harmonia das origens entre o homem e a criação: "O lobo habitará com o cordeiro..." (Is 11,6-9; cf. Is 65,25) e na convivência pacífica e fraterna: "Forjarão das suas espadas relhas de arado, e das suas lanças, foices... e não aprenderão mais a guerra" (Is 2,4). É essa paz que Jesus trouxe entre nós, como rejeição a toda forma de violência. Jesus, de fato, como nos diz São Paulo, reconciliou os povos em conflito atraindo o ódio deles para a sua própria carne (cf. Ef 2,14ss). A vida do Ressuscitado é visível, então, no esforço que fazemos todos os dias para construir a paz, para reconciliar as pessoas, para fazer com que os opostos possam coexistir.

domenica 18 maggio 2025

DOMINGO V DE PÁSCOA TEMPO/C

  



 

Paulo Cugini

O que o tempo da Páscoa significa para a comunidade cristã? O que a ressurreição de Cristo deve trazer para seus discípulos, tanto homens quanto mulheres? Parece-me que esta é a pergunta que pode abrir a compreensão das leituras que ouvimos.

Então eles constituíram anciãos para eles em cada igreja  (Atos 14:21). A primeira resposta encontra-se nos Atos dos Apóstolos. Na passagem de hoje, Lucas nos fala sobre o primeiro esboço da estrutura da comunidade. Paulo e Barnabé não apenas proclamam o Evangelho e exortam seus ouvintes, mas também estão preocupados com o futuro das comunidades que criaram. A luz do Ressuscitado se manifesta na inteligência de quem a acolhe, o que se materializa na reflexão sobre como dar continuidade à mensagem do Evangelho após a ausência dos missionários. Há um desígnio que, antes de ser sinal de eficiência exasperada, se torna manifestação visível de amor às pessoas encontradas no caminho da evangelização.

Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra; o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe (Ap 21:1). A segunda ideia significativa que emerge das leituras de hoje sobre a novidade produzida pela luz do Ressuscitado nas pessoas que a acolhem é a capacidade de ver a novidade. Assim como os profetas eram visionários, pessoas capazes de ver vida onde se pensava apenas na morte, assim também a comunidade cristã que encontrou o Senhor da vida é caracterizada por essa atitude, que se manifesta no dom de ver paz onde a humanidade vê guerra, de ver amor onde só se pode discernir dinâmicas de ódio. Querendo atualizar a mensagem, nesta situação aparentemente desesperadora da guerra na Ucrânia, enquanto os governos propõem medidas de rearmamento como forma de alcançar a paz, a única voz que se destaca parece ser a do Papa Francisco, que insiste em afirmar que a paz se faz através do diálogo, da diplomacia e que as armas só produzem morte e guerra. Por isso renovo o meu apelo: chega, paremos, silenciemos as armas, negociemos seriamente pela paz (Papa Francisco, Angelus, Domingo 27.3.2022).

Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13,34). O terceiro indício significativo que as leituras nos comunicam sobre os sinais da presença do Ressuscitado na comunidade é o processo de essencialização que ele produz. Qual é, de fato, o mandamento do amor que Jesus indica aos seus discípulos pouco antes de sua morte na cruz, senão o sentido mais profundo da vida? Pode parecer trivial e infantil, mas é a única coisa que realmente dá sabor à existência. Às vezes percebemos isso depois de passarmos por experiências dolorosas de solidão, causadas por nossas escolhas egocêntricas, na ilusão de que podemos fazer tudo sozinhos. Ter amor uns pelos outros é tanto um dom quanto uma tarefa. É o dom que o Senhor nos oferece com o seu Espírito, o seu ensinamento. É também e sobretudo uma tarefa que construímos todos os dias, colocando gestos de generosidade e serviço junto das pessoas que estão ao nosso redor ou mesmo junto daquelas que encontramos no nosso caminho. Pode parecer pouco, e é a sensação que nos vem quando buscamos o julgamento dos outros, no processo de construção da nossa identidade. É um grande presente, ao contrário, e o percebemos quando aprendemos com a vida a saborear a beleza e a riqueza de um sorriso, de um olhar atento dado e recebido. São esses pequenos gestos que, além de falar da verdade e da autenticidade dos nossos relacionamentos, permitem que a luz do Ressuscitado se torne visível, para que o mundo creia.

 

sabato 3 maggio 2025

III DOMINGO DE PÁSCOA / C

 




Paolo Cugini

 

A Páscoa é o tempo do ano em que a Igreja nos convida a refletir, de modo novo e original, sobre o sentido da existência. A Páscoa, de fato, ao apresentar o tema do Ressuscitado, provoca a reflexão sobre o tema da vida, seu sentido e sobre aquilo em que realmente vale a pena gastar as próprias energias. Por fim, o Pai ressuscitou o corpo de seu filho Jesus que, durante sua vida, havia escolhido uma vida pobre, humilde e discreta; isto é, ele não buscava glória mundana, poder ou dinheiro. Este aspecto, na minha opinião, deve nos fazer refletir. A ressurreição de Jesus lança uma nova luz sobre a história da humanidade e expõe a pobreza da proposta, totalmente desequilibrada em relação ao material, deixando muito pouco espaço para a dimensão espiritual. Vejamos, a este respeito, o que nos dizem as leituras de hoje.

Eles mandaram açoitar [os apóstolos] e ordenaram que não falassem em nome de Jesus. Então eles os soltaram. Então eles saíram da presença do Sinédrio, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer desonra por causa do nome (Atos 5:40-41).

A situação narrada na primeira leitura é indicativa do que aconteceu com aqueles que conheceram o Senhor e o encontraram ressuscitado. Houve uma clara mudança na perspectiva existencial. De fato, eles passaram de uma atitude de medo e abandono diante do Mestre, a ponto de terem que entregá-lo, negá-lo e abandoná-lo, para uma atitude em que se sentem felizes por terem sido ultrajados em nome de Jesus. É a realidade dessa mudança que deixa admirado e se torna um testemunho que vale a pena ouvir para aprofundar a discussão sobre a ressurreição de Jesus, que tem consequências significativas para as pessoas que o encontram. O que aconteceu para provocar uma mudança tão radical? Como é possível que pessoas tão frágeis e medrosas se tornem corajosas e capazes de argumentar sobre suas ações em tão pouco tempo? Encontrar o Ressuscitado significa, entre outras coisas, precisamente isto: testemunhar uma passagem na própria humanidade que deixa uma marca profunda capaz de mudar o caminho. Mudança que não tem explicação humana, que não pode ser explicada com instrumentos científicos, psicológicos: há mais.

Eu, João, vi e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos. E o seu número era dez mil vezes dez mil, e milhares de milhares; e disseram em alta voz: Digno é
o Cordeiro, que foi morto,
de receber o poder, e riquezas,
e sabedoria, e força, e
honra, e glória, e ações de graças (Ap 5:1ss).

João vê a vitória de Cristo sobre a morte; ele não vê a cruz, mas um trono, um sinal de vitória, e no trono o próprio Deus com o cordeiro sacrificado ao seu lado. O fato interessante é que esse cordeiro sacrificado, que claramente se refere a Jesus, está de pé, em sinal de vitória: ninguém conseguiu dobrá-lo, quebrá-lo. O ódio do mundo não prevaleceu sobre o amor de Jesus, simbolizado pelo fato de ele ser imaginado como um cordeiro abatido. Os cristãos que seguem o Senhor e se alimentam dEle, nutrem a consciência com Suas palavras, com Sua mensagem, não veem no mundo sinais de morte, mas de vitória. Onde o mundo vê morte, os cristãos veem vida. E já que o cordeiro está de pé e venceu o ódio com amor, ele é digno de ser reverenciado para receber poder de Deus Pai. Ser no mundo sinal da vitória de Cristo sobre o ódio e a dinâmica da morte: esta é a tarefa dos cristãos no mundo.

Disse-lhe pela terceira vez: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste porque lhe perguntou pela terceira vez: “Você me ama?” E ele lhe disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo.” Jesus respondeu-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,17).

Na jornada da fé, não somos testados pelo número de ritos e procissões dos quais participamos, mas exclusivamente pelo amor que damos. É preciso acrescentar que se podemos dar amor é porque o recebemos gratuitamente do Filho, por meio do Espírito Santo que o derramou em nossos corações (cf. Rm 5,5). O bálsamo da misericórdia cura as feridas da alma de Pedro que havia negado o Senhor três vezes. Não há culpa, nem desespero, mas apenas misericórdia que cura as feridas. Os relacionamentos que Jesus cria têm esta marca inconfundível: ele não mexe com os homens e mulheres para fazê-los sentir-se mal, mas para trazer à tona o bem que há em cada pessoa.