giovedì 12 settembre 2024

Em que cidade realizar a amizade?

 




 

Semana de retiro espiritual às irmãs adoradoras do sangue de Cristo

6-12 setembro 2024 – Manaus

 

 

 

Paolo Cugini

 

Parece uma pergunta estranha, que não tem nada ver com o tema que estamos desenvolvendo e que está chegando ao fim. Na realidade tem a ver e muito. A história da salvação é uma narração que se desenvolve em algumas cidades que, por isso, tem um caráter simbólico, que desvenda alguns conteúdos importantes. O Egipto (Alexandria), Tiro, Babilônia e Jerusalém: são esta as cidades que acompanharão a nossa reflexão.

O Egipto. É a terra onde o povo encontrou alívio na figura de José. Depois da morte do povo que conheceu José, o Egito se torna um país hostil para o povo de Israel, que fica escravizado. A intervenção de JHWH na história é para libertar o povo da escravidão (cfr. Ex 3). O Egito, de terra da salvação se torna terra da maldição da qual precisa fugir. Os padres da Igreja (por exemplo, Cirilo de Jerusalém) nas pregações sobre o batismo, identificaram o Egito como a terra do pecado. De fato, o mar Vermelho, antecipação do Batismo, representa uma passagem purificadora de uma situação de escravidão do pecado (Egito), para um caminho de salvação na terra prometida. Nesta perspectiva, fugir do pecado significava fugir do Egito.

Tiro. Tiro é o símbolo da cidade arrogante e orgulhosa, que se coloca acima de tudo, se achando a dona do mundo. Interpreta o próprio sucesso e a própria força como algo que não depende de ninguém. Usa o poder para pisar e humilhar os outros.

Quem, pois, tomou essa decisão contra Tiro, essa cidade coroada, cujos mercadores eram soberanos, e os traficantes, fidalgos da terra? Foi o Senhor dos exércitos quem o decidiu, para ferir o orgulho da nobreza e para aviltar os mais considerados da terra... Naquele tempo, Tiro será esquecida durante setenta anos (Is 23, 1s).

Deus não deixa impune que pisa nos outros. Deus não dá moleza com os orgulhosos que se acham melhores dos outros. Deus entra na história para restabelecer a igualdade.

Babilônia. É a cidade símbolo da exilio do povo de Israel, a cidade cujo rei, Nabucodonosor derrubou Jerusalém, e levou no exilio, como escravos. Por isso Babilônia assume na história da salvação o símbolo do mal. Muitas são as páginas dedicada a esta cidade. Sobretudo os profetas falam dela.

Fugi do recinto de Babilônia, abandonai a Caldéia! Sede como os cabritos à frente do rebanho, porque vou suscitar e conduzir contra Babilônia uma coligação de grandes nações vindas do norte. Contra ela se hão de enfileirar e a levarão de vencida. Suas setas são as de hábil guerreiro que não dispara sem atingir o alvo (Jer 50, 8-9).

Babilônia simboliza o mal que parece vencer o bem. Este conflito do bem como o mal é narrado no último livro da Bíblia, o Apocalipse, simbolizado por duas cidades: Jerusalém e Babilônia. A dinâmica desta luta é que, até um certo ponto parece que Babilônia ganhe esta luta, que o mal domine para sempre o bem. Até chegar ao grito de vitória do capítulo 14 e reiterado no capitulo 18.

Outro anjo seguiu-o, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, por ter dado de beber a todas as nações do vinho de sua imundície desenfreada (Ap 14, 8).

 Clamou em alta voz, dizendo: Caiu, caiu Babilônia, a Grande. Tornou-se morada dos demônios, prisão dos espíritos imundos e das aves impuras e abomináveis, porque todas as nações beberam do vinho da ira de sua luxúria, pecaram com ela os reis da terra e os mercadores da terra se enriqueceram com o excesso do seu luxo... Hão de chorar e lamentar-se por sua causa os reis da terra que com ela se contaminaram e pecaram, quando avistarem a fumaça do seu incêndio. Parados ao longe, de medo de seus tormentos, eles dirão: Ai, ai da grande cidade, Babilônia, cidade poderosa! Bastou um momento para tua execução! ... Então um anjo poderoso tomou uma pedra do tamanho de uma grande mó de moinho e lançou-a no mar, dizendo: Com tal ímpeto será precipitada Babilônia, a grande cidade, e jamais será encontrada (Ap 18,1s).

 

Jerusalém. É a cidade onde foi construído o templo de JHWH, em cima do monte Sião. Jerusalém a casa de Deus construída pelos homens não deu certo. Etimologicamente Jerusalém quer dizer cidade da paz. São interessantes as páginas dos profetas que continuamente anunciam a destruição de Jerusalém e a sua reconstrução. Muitas páginas são dedicas seja a construção do primeiro tempo que do secundo. Dramáticas são as páginas do livro das Lamentações onde o autor descreve, de forma poética, os motivos da queda de Jerusalém:

Desapareceu da filha de Sião toda a sua glória. Seus príncipes se tornaram como cervos que não encontraram pastagens e que fogem, esgotados, diante dos que os perseguem. Nestes dias de males e vida errante, recorda-se Jerusalém das delícias dos tempos idos. Agora que seu povo sucumbiu sob os golpes do inimigo e ninguém vem socorrê-la! Olham-na seus inimigos, e zombam de sua devastação.  Graves foram os pecados de Jerusalém: ela ficou uma imundície. Quem a honrava, agora a despreza porque lhe viram a nudez. E ela geme e esconde o rosto.  Vê-se sua mancha sobre suas vestes. Ela não previra esse fim. É imensa a sua decadência, e ninguém vem consolá-la. “Olhai, Senhor, para a minha miséria, porque o inimigo se ensoberbece (Lamentações 1,1-8).

 

Nesta perspectiva, impressionantes são os capítulos 40-48 do profeta Ezequiel. Jerusalém é também a cidade que vive a história de amor entre a Sulamita e o seu namorado, símbolo do relacionamento entre Deus e seu povo.

Sou morena, mas sou bela, filhas de Jerusalém, como as tendas de Cedar, como os pavilhões de Salomão. Durante as noites, no meu leito, busquei aquele que meu coração ama procurei-o, sem o encontrar.  Vou levantar-me e percorrer a cidade, as ruas e as praças, em busca daquele que meu coração ama procurei-o, sem o encontrar. Os guardas encontraram-me quando faziam sua ronda na cidade. Vistes acaso aquele que meu coração ama? (Cant. 1,1. 2,1s).

É importante salientar que a Bíblia termina com a imagem da descida da Jerusalém celeste.

Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia.  Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo.  Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles.  Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição.  Então o que está assentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas. Disse ainda: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.  Novamente me disse: Está pronto! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim. A quem tem sede eu darei gratuitamente de beber da fonte da água viva. O vencedor herdará tudo isso e eu serei seu Deus, e ele será meu filho (Ap 21,1-7).

Conclusão. A cidade em decidimos de morar é a cidade que se realize com tudo aquilo que Deus nos oferece. A nossa cidade é terrena, mas a nossa tarefa é humanizá-la. O Evangelho é a proposta para que este desejo possa se realizar. Cabe a nós arregaçar as mangas todo dia para que a cidade que construímos seja semelhante àquela que desce do céu.

 

 

mercoledì 11 settembre 2024

DOMINGO XXIVB

 





(Is 50,5-9a; Sl 115,1-2.3-4.5-6.8-9; Tg 2,14-18;  Mc 8,27-35)

 

Paulo Cugini

 

É lindo ver Jesus caminhando com os seus discípulos pelas ruas da Galileia: revela muitas coisas sobre o sentido que Ele quis dar à sua missão. Em primeiro lugar, a precariedade. Ele estava tão cheio do amor do Pai que não precisava procurar outras fontes de satisfação. E depois muita liberdade que lhe permite andar junto com os seus discípulos sem ter que se preocupar com o que comer, o que vestir e mais nada. Precariedade e liberdade andam de mãos dadas.

“Quem as pessoas dizem que eu sou?”. É uma questão importante, não só porque na narrativa de Marcos estamos a meio caminho da vida pública de Jesus, mas também porque a vida dos discípulos deve ser uma resposta à Palavra de Jesus. Portanto, captar a essência da sua mensagem é. fundamental para a existência.

“João Batista; outros dizem Elias e outros um dos profetas”. A descoberta de Jesus é amarga, porque encontra um povo ainda ancorado no passado, nas suas próprias histórias e tradições. Elias e os profetas foram, sem dúvida, grandes figuras do passado, que tiveram um papel importante na história do povo de Israel, mas nada revelam do presente que Jesus veio trazer. O próprio João Batista, considerado o maior dos profetas por ter podido ver e conhecer Jesus, ainda permanece ancorado no Antigo Testamento. A resposta de Pedro também vem do passado. Na verdade, ao dizer “Tu és o Cristo”, ele não passa das projeções do passado para o presente. Cristo, de facto, é o título atribuído ao futuro messias, o ungido de Deus. Jesus descobre, portanto, que, apesar das suas palavras e obras, ninguém compreende a novidade da sua mensagem. Jesus descobre que até agora não houve nenhum esforço para compreender o que realmente está acontecendo com a sua vinda, mas todas as suas palavras e ações são derramadas em odres velhos.

O que esses versículos significam? Revelam-nos algo muito profundo nos homens e nas mulheres, nomeadamente a dificuldade de abertura ao novo. É como se o presente estivesse obstruído pelo passado, como se a consciência identificasse a reprodução do passado, de alguns momentos significativos, como a felicidade da vida. Preencher o presente com o passado, adoçando-o, é um mecanismo que surge do instinto de sobrevivência, que leva ao apego ao que dá segurança.

O primeiro passo, portanto, num caminho de conversão, que nos permite captar a novidade da proposta de Jesus, consiste em libertar-nos dos desperdícios do passado, que obstruem pesadamente o nosso presente. Existe uma surdez psicológica e existencial, que não nos permite apreender a novidade do presente e que se desenvolve precisamente quando a pessoa se apega progressivamente ao passado, às tradições do lugar onde vive, que ainda permanecem humanas tradições.

E começou a ensinar-lhes que o Filho do homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar.

A incapacidade de nos libertarmos do passado não nos permite compreender o sentido profundo da vida que Jesus veio manifestar. Seguir Jesus, abraçar a novidade da sua Palavra, significa entrar no caminho do amor, da busca da justiça, que se manifesta como misericórdia. Significa também abandonar o caminho da agressão, para nos colocarmos ao serviço do projecto de construção constante da paz. Seguir Jesus significa também abandonar a mesa de quem procura a felicidade na riqueza a qualquer preço, e decide colocar-se ao serviço dos pobres, dos excluídos, daqueles que não têm importância para a sociedade. Este caminho tem consequências muito duras, nomeadamente sofrimento, rejeição e morte. No futuro, a ressurreição. Compreendemos, então, como funciona o instinto de sobrevivência que não quer dar ouvidos à novidade presente na história: faz de tudo para ficar longe dos problemas, daquilo que põe em risco a existência, buscando constantemente a tranquilidade. Este estilo de vida é a morte da alma, porque impede a coragem de entrar no caminho do amor que se dá gratuitamente, da vida que se perde para os outros, da libertação das tradições que sufocam o presente.

Ele fez esse discurso abertamente. Pedro chamou-o de lado e começou a repreendê-lo. Mas ele, voltando-se e olhando para os seus discípulos, repreendeu Pedro e disse: «Para trás de mim, Satanás! Porque você não pensa segundo Deus, mas segundo os homens"

Satanás é toda aquela realidade, aquelas situações que atrapalham a Palavra de Jesus, tirando-a do coração das pessoas. O pensamento de Pedro é sintomático da rejeição do caminho proposto por Jesus, que exige também a capacidade de rejeitar as consequências. Quem se deixa levar pelo instinto de sobrevivência e procura o caminho da tranquilidade e da segurança nunca conseguirá não só compreender a mensagem de Jesus, mas sobretudo segui-la. 

 

martedì 10 settembre 2024

A raiz de tudo: viver para os outros

 




Semana de retiro espiritual às irmãs adoradoras do sangue de Cristo

6-12 setembro 2024 – Manaus

 


 

Paolo Cugini

 

A fonte de uma vida fraterna é o Evangelho, pois nele encontramos o caminho de uma vida autêntica, que não se manifesta somente exteriormente, mas nos oferece também os instrumentos para vivermos aquilo que lemos. O Evangelho apresenta uma proposta que exige a disponibilidade a se deixar questionar, a sair dos próprios caminhos, dos próprios projetos, para permitir de nascer do novo, do alto, pela ação do Espírito. Nas nossas relações humanas corriqueiras, que vivemos na comunidade, é fácil ver que tipo de caminho estamos realizando, ou seja, se estamos deixando o Espírito de Deus agir em nós, o se estamos segurando a nossa vida. Mais uma vez o nosso ponto de referência é Jesus, é ele que devemos observar, compreender as suas atitudes, a sua maneira de ser, de se relacionar com as pessoas. Tem algo de diferente nele que deve nosso inspirar e, ao mesmo tempo, provoca uma atração. Jesus é o protótipo da humanidade nova. Jesus manifesta a ideia que estava na origem da criação da humanidade.

Nessa altura do discurso poderíamos nos questionar: qual é a essência da vida de Jesus, da sua humanidade, do seu jeito de ser? Qual é a característica que marca a diferença, que o torna tão especial? Observando com atenção ao estilo de vida de Jesus a resposta não pode que ser uma: Jesus é o homem que vive para os outros, que vive para o Pai. Na existência humana de Jesus não encontramos uma célula de egoísmo, um átomo de individualismo, um fragmento mínimo de fechamento em si mesmo. Vamos então folear o Evangelho para apontar os momentos em que é visível esta atitude.

A sogra de Simão estava de cama, com febre e sem tardar, falaram-lhe a respeito dela. Aproximando-se ele, tomou-a pela mão e levantou-a imediatamente a febre a deixou e ela pôs-se a servi-los. À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos do demônio. Toda a cidade estava reunida diante da porta.  Ele curou muitos que estavam oprimidos de diversas doenças, e expulsou muitos demônios. Não lhes permitia falar, porque o conheciam (Mc 1, 30-35).

Esta página apresenta um dia típico de Jesus: mergulhado no sofrimento do mundo, uma vida totalmente dedicada para os outros, sobretudo os doentes, os pobres, os marginalizados. DO outro lado se percebe o desinteresse pela vida de Jesus, as suas exigências. De um lado, então, temos o homem Jesus totalmente despojado se doando totalmente para o próximo. Do outro lado, encontramos a humanidade egoísta, que pensa só em si mesma, na própria doença, fechada na própria dor e exige que Jesus cure. É uma página que desmascara a nossa realidade de humanidade mergulhada no egoísmo, que se torna cega, incapaz de olhar o outro, perceber o cansaço, a fatiga. É importante refletir sobre isso para não ter uma visão de um Jesus sobre-humano, super-homem. Isso acontece com todas as pessoas que se doam de forma gratuita e desinteressada: vivem a contato com uma humanidade cínica e egoísta que, se não tomar cuidado, com o tempo te esgota as energias. Por isso, depois de um dia deste jeito, encontramos Jesus se entregando na oração (Mc 1,36). É impossível aguentar o egoísmo e a superficialidade do mundo sem apreender a preencher a própria alma do amor do Pai. Este é o método de Jesus.

Outro dato interessante que manifesta a atitude a viver para os outros é o jeito de acompanhar os discípulos. Tomamos como exemplo a história de Pedro. No Evangelho de João Pedro é o discípulo que, no contexto da ceia derradeira, declara perante os outros a disponibilidade a morrer para Jesus. Depois de algumas horas, o mesmo Pedro renegará por três vezes de conhecer aquele homem que estava sendo condenado a morte. É de grande importância aquilo que acontece nas aparições depois da ressurreição assim como são narradas em são João.

Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas (João 21,15-17).

Jesus tem uma humanidade que não guarda o rancor, mas é sempre atenta ao outro. Na perspectiva do Evangelho de João, ninguém pode anunciar o Evangelho a não ser os discípulos e as discipulas. Pedro, na noite da paixão de Jesus, tinha renegado o Mestre, rasgando o próprio discipulado. Jesus não pensa aquilo que Pedro fez com Ele mesmo, mas é preocupado com ele, com a sua caminhada de discípulo, a liderança que Jesus mesmo entregou para ele perante o grupo dos discípulos. Depois da ressurreição Jesus dedica tempo para que Pedro possa renovar o próprio discipulado e, assim, exercer o seu ministério de chefe da comunidade.

Tem um outro aspecto que vale a pena apontar na vida de Jesus: como viveu os últimos instantes da vida.

Eram conduzidos ao mesmo tempo dois malfeitores para serem mortos com Jesus.  Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda. E Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. Eles dividiram as suas vestes e as sortearam (Lc 23, 32-34).

Quando sofremos e vivemos situações de grande dor, a nossa humanidade tende a fechar-se em si mesma: é a força do instinto de sobrevivência. Em Jesus a humanidade permanece aberta para os outros também num momento de grande dor e sofrimento físico e moral. Este aspecto vale a pena aprofundar, pois é uma grande novidade. Poderíamos afirmar que a verdade do nosso relacionamento com o Mistério se mede na força de dominar o instinto de sobrevivência. Em Jesus isso é visível. A oração é autêntica e verdadeira se chega ao ponto de ser mais forte do instinto. Por isso, nas grades experiencias místicas, se trabalhava muito com a penitência e o jejum, para aprender a dominar os instintos. Jesus nos ensina que o caminho para chegar ao domínio de si, é outro, ou seja, um constate olhar em direção ao Pai. É o amor o único elemento que pode dobrar a força do instinto.

Nessa altura do discurso poderíamos nos questionar: a final de conta, qual é a característica de uma vida evangélica, o que reproduz em nós e como se manifesta na vida corriqueira? Mais uma vez é Paulo que nos oferece a resposta.

 Ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu (2 Cor 5,15).

Segundo Paulo a conversão é uma passagem de uma vida para si, concentrada em si mesmo, para uma vida pelos outros, por Deus. A essência da vida de Jesus, de como se manifestou na história é isso mesmo: uma vida para os outros. Quando no dia a dia encontramos fragmentos de vida gratuita e desinteressada, momentos silenciosos de vida doada gratuitamente para os outros, ali é presente o Espírito do Senhor. Por isso Jesus indicava o perfeito caminho do discipulado afirmando:

 Em seguida, dirigiu-se a todos: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína? (Lc 9,23-25).

Este é o versículo que marca o discipulado, a possibilidade de um estilo de vida diferente, liberado totalmente do orgulho e do egoísmo para uma vida de doação gratuita de si, passa através da liberdade no confronto de si mesmo, do próprios projetos humanos, deixando o espaço livre para o Espirito de Deus agir.

 

Amizade e fraternidade

 



 Semana de retiro espiritual ás irmãs adoradoras do sangue de Cristo

6-12 setembro 2024 – Manaus

Paolo Cugini

Elemento importante na nossa caminhada de espiritualidade bíblica sobre o tema da amizade é a proposta da fraternidade. Já no A.T. esta proposta aparece na imagem do Povo de Deus. Israel é declarado como povo consagrado a JHWH (Dt 7, 6), um povo que Deus escolheu “para que pertenças a ele como seu povo próprio dentre todos os povos que existem na face da terra” (Dt 7,6). Israel é, então, chamado, escolhido a ser um povo que manifesta uma característica especial: pertencer a IHWH.

Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração.  Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares (Dt 6,4-7).

Para ser o povo de Deus que pertence a IHWH deve amá-lo de todo coração. O amor a Deus é o elemento que permite ao Povo de manifestar a diferença entre os outros povos. A separação produz como consequência imediata a exigência da santidade:

 Pois eu sou o Senhor, vosso Deus. Vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo. Não vos contaminareis com esses animais que se arrastam sobre a terra, porque eu sou o Senhor que vos tirou da terra do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santos porque eu sou santo (Lv 11, 44-45).

 Sabemos como a história se desenvolveu e como o povo escolhido por Deus se perdeu ao longo dos séculos, não conseguindo viver as exigências pedidas por JHWH.

Jesus veio para reconstruir o novo povo de Deus. Esta ideia não é presente apenas na escolhe dos 12 apóstolos, como seguidores e representantes das doze tribos de Israel, mas sobretudo no grupo de pessoas que ele escolheu para anunciar o Evangelho junto com ele. É uma pequena comunidade que anuncia o evangelho, que é a boa nova. O anúncio de uma humanidade nova alicerçada no amor fraterno, tão radical ao ponto de exigir o amor para os inimigos, não podia ser feito que com um grupo de pessoas cuja vivência manifestava aquilo que o Mestre andava dizendo e fazendo. As bem-aventuranças são sem dúvida a carta magna deste novo estilo de vida, que manifesta uma diversidade dos irmãos e as irmãs em Cristo (Mt 5,1-11). A busca de Deus da nova comunidade deve ser visível na vida despojada, no abandono á providência:

 Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?  E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo não trabalham nem fiam.  Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?  Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?  São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.  Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado (Mt 6, 25-34).

Esta página do Evangelho é fundamental para reconhecer a nova proposta de Jesus. A santidade exigida não se mede mais num relacionamento de tipo religioso, mas no estilo de vida. É visível a busca de Deus por parte da nova comunidade de discípulos e discipulas, no estilo de vida simples e despojados. Além disso, esta diferença deve ser visível também na postura de buscar constantemente o último lugar e de não entrar em brigas pelo poder.

Nisso aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer uma súplica.  Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda.  Jesus disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber? Sim, disseram-lhe. De fato, bebereis meu cálice. Quanto, porém, ao sentar-vos à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim vo-lo conceder. Esses lugares cabem àqueles aos quais meu Pai os reservou. Os dez outros, que haviam ouvido tudo, indignaram-se contra os dois irmãos.  Jesus, porém, os chamou e lhes disse: Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade.  Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo.  E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo.  Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão (Mt 20,20-28).

Nada de busca de poder, de brigas para ser o melhor entre os irmãos e as irmãs que se reconhecem na proposta de Jesus, mas desejo de servir, de ser o último, o pequeno. É sem dúvida uma nova espiritualidade que Jesus propõe, uma espiritualidade que não é humana, não é uma filosofia, mas é fruto exclusivamente da ação do Espírito Santo, que reproduz em nós os traços da humanidade de Jesus. É aquilo que Jesus mesmo falou no diálogo com Nicodemos quando afirmou que era necessário renascer do alto. Para pertencer ao grupo de discípulos e discipulas de Jesus é necessária esta disponibilidade interior, deixar o espaço na própria alma para que o Espírito Santo possa reconstruir em nós os traços da humanidade de Jesus.

É Paulo que entendeu muito bem este aspecto da nova fraternidade de Jesus, quando em várias circunstâncias aponta dois tipos de possibilidade de vida: segundo a carne e segundo o Espírito. São duas modalidades diferentes ei viver, que manifestam atitudes e estilos contrapostos. Uma pagina exemplar disso se encontra em Gálatas:

 Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne.  Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis.  Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a lei.  Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, temperança. Contra estas coisas não há lei.  Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito (Gal 5, 16-25).

A vida fraterna, que expressa a amizade do Senhor entre os irmãos e as irmãs, é formada pela ação do Espírito Santo que transforma a nossa humanidade naquela mesma imagem que contemplamos quando lemos o Evangelho (cfr. 2 Cor 3,18). Quero terminar esta reflexão bíblica citando uma das tantas recomendações de Paulo para as pessoas que frequentavam a comunidade:

 Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!  Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo.  Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças.  E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus.  Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos (Fil 4,4-8).

Tomamos a sério estas recomendações de Paulo para viver melhor e em modo mais saudável a nossa amizade em Cristo e entre nós.

 

domenica 8 settembre 2024

Maldade e relações humanas

 



Semana de etiro espiritual com a congregação das Adoradoras do Sangue de Cristo


 

 

Paolo Cugini

A verdade das relações humanas de amizade depara contra um dato antropológico de grande importância: a nossa humanidade é estragada. Existe algo na estrutura do homem e da mulher que não permite realizar relacionamentos autênticos e duradouros. Este dado é narrado ao longo da história da salvação.

 O capítulo 3 do Genesis é o ponta pé desta narração. O homem e a mulher que não aguentam e desobedecem ao mandamento de Deus de não comer da arvore. O texto fala que era uma arvore desejável. Este desejo estimula a concupiscência, como diria João (cfr. 1 João 2,16) que leva a mulher a comer, desobedecendo ao mandamento de Deus. ´uma narração mítica que mostra a estrutura antropológica do homem e da mulher: existe algo nesta estrutura que dobra a vontade.

Genesis capítulo 4: na história de Caim e Abel continua uma narração que mostra o limite da estrutura humana, que leva a considerar o irmão como inimigo. Qual é a justificativa do texto sobre o crime de Caim?

Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Entretanto, se assim não fizeres, sabe que o pecado espreita à tua porta e deseja destruir-te; cabe a ti vencê-lo! (Gen 4,7).

Existe uma força, que a Bíblia chama de pecado, que se insinua no coração do homem, da mulher e o domina, o leva a fazer o mal, a estragar os relacionamentos humanos. Esta análise bíblica é sem dúvida fruto da experiencia humana. Observando a maneira das pessoas agirem, percebe-se uma fraqueza, que as leva a não conseguir viver conforme as próprias decisões, a ser infiel. A causa desta fraqueza é apontada naquilo que a Bíblia chama de pecado, uma força misteriosa que mora na pessoa humana tornando-a incapaz de viver aquilo que percebe como bem.

Este aspecto volta várias vezes na narração bíblica. A mais paradigmática se encontra na história do povo de Israel que, apesar de ter sido libertado da situação de escravidão e de sofrimento que vivia no Egito, toda vez que encontra dificuldades na peregrinação do deserto se queixa.

O Senhor disse a Moisés: “Vai, desce, porque se corrompeu o povo que tiraste do Egito. Desviaram-se depressa do caminho que lhes prescrevi fizeram para si um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito. Vejo, continuou o Senhor, que esse povo tem a cabeça dura.  Deixa, pois, que se acenda minha cólera contra eles e os reduzirei a nada, mas de ti farei uma grande nação.” (Ex 32,7s).

Israel é um povo fraco, que se perde constantemente. Basta pouco para ele esquecer e adorar outros deuses, ou construindo ídolos, como no caso narrado acima. A consciência do homem e da mulher é débil, frágil, se corrompe com nada e, sobretudo, se deixa escravizar e mandar pelos instintos, que arrastam as pessoas. O livro dos Reis é cheio de chefes do povo que não prestaram e desviaram o caminho, levando o povo na idolatria. Também os profetas acusam os chefes religiosos que não cumpriram a tarefa para ele entregada e cuidara de si mesmo e dos próprios interesses, ao invés de cuidar do povo (cfr. Ez 34).

Nesta linha de apontar algo de negativo dentro da estrutura humana que estraga a vida das pessoas, afetando a vontade e provocando escolhas erradas se encontra, também, o relacionamento com Deus. Este é um dos grandes temas da pregação profética. Tem liturgias que são estragadas. Até atos penitencias, que parecem bonitos, na realidade são totalmente estragados pelo pecado. Alguns exemplos.

Vinde, voltemos ao Senhor, ele feriu-nos, ele nos curará ele causou a ferida, ele a pensará.  Dar-nos-á de novo a vida em dois dias ao terceiro dia levantar-nos-á, e viveremos em sua presença.  Apliquemo-nos a conhecer o Senhor sua vinda é certa como a da aurora ele virá a nós como a chuva, como a chuva da primavera que irriga a terra.  Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que logo se dissipa.  Por isso é que os castiguei pelos profetas, e os matei pelas palavras de minha boca, e meu juízo resplandece como o relâmpago, porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos (Os 6,1-6).

Existe um ato penitencial que não presta, porque a atitude de quem o realiza não ditada do desejo de conversão, de arrependimento e de mudança, mas de realizar um rito que serve nada mais que para tranquilizar a própria consciência. Existe uma liturgia que é a serviço do nosso orgulho e não uma disposição interior para nos tornarmos dóceis á vontade de Deus. Este aspecto afeta, também, um elemento litúrgico como o jejum. É o profeta Isaias que denuncia:

O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar-se sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo (Is 58, 6-7).

Jesus é na mesma linha dos profetas. No evangelho de Mateus, em várias circunstâncias repete o grito dos profetas: quero misericórdia, não sacrifícios (Mt 9,13). Jesus é o Mestre que revela de onde vem o material humano que estraga a vida das pessoas:

“Ora, o que sai do homem, isso é que mancha o homem. Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez. Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem (Mc 7,20-230.

A análise mais profunda da pessoa humana incapaz de fazer o bem por causa de uma força negativa que encontra em si, é Paulo.

 Sabemos, de fato, que a lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao pecado.  Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero faço o que aborreço.  E, se faço o que não quero, reconheço que a lei é boa.  Mas, então, não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim habita.  Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero.  Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita.  Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal.  Deleito-me na lei de Deus, no íntimo do meu ser.  Sinto, porém, nos meus membros outra lei, que luta contra a lei do meu espírito e me prende à lei do pecado, que está nos meus membros. Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?… Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! (Rom 8,14-25).

Este é o grande problema, segundo são Paulo: Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. E isso porque encontramos dentro de nós algo que dobra a nossa vontade e nos condena numa vida desumana. Paulo não nos deixa com uma sensação negativa, pois nos alerta que o Espirito Santo nos dará a força de Deus para viver o bem que percebemos. É o tema do capítulo 8 de Romanos.

Não é um caso que os evangelhos sinóticos apresentam o começa da vida publica de jesus colocando-o no deserto tentado pelo satanás. Jesus é homem como nós, mas que o pecado não dobrou. Os evangelistas nos alertam que, quem está chegando no mundo e que tentará de nos orientar é um homem que o pecado, o mal nunca dobrou. Esta humanidade resistente ao mal é exatamente a obra do Espírito Santo em nós.

 

 

 

sabato 7 settembre 2024

Liberdade, alma dos relacionamentos humanos

 




 

Paolo Cugini

Continuando a reflexão sobre o relacionamento de amizade na perspectiva bíblica, percebemos que um elemento fundamental que permite uma relação de amizade é a liberdade. Poderíamos dizer que, sem liberdade, é impossível tecer laços de amizade autêntica. Esta poderia ser a chave de leitura da aproximação do Mistério com Moisés. Este encontro teve com objetivo de propor um caminho de libertação, pois sem liberdade é impossível amar a Deus. O ato de fundação do povo de Deus é, então, uma libertação. Nesta perspectiva podemos dizer que a liberdade é dom de Deus.

 O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus (Ex 3,7-8).

Este dom de Deus que é a liberdade, que fundamenta a aliança exige uma resposta do homem, da mulher, do povo. Exemplo disso é a assembleia de Siquém (Josué 24).

. Nós também, nós serviremos o Senhor, porque ele é o nosso Deus... Josué disse-lhes: Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes o Senhor para prestar-lhe culto. Somos testemunhas! Responderam eles (Josué 24, 15.18).

A passagem do Mar Vermelho foi percebida como uma experiencia de passagem: da escravidão para a libertação (cf Ex 14-15).

Em várias circunstâncias Moises coloca o povo perante uma escolha: a vida o a morte.

Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a I tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a ele. Porque é esta a tua vida e a longevidade dos teus dias na terra que o Senhor jurou dar a Abraão, Isaac e Jacó, teus pais (Ex 30, 19-20).

A liberdade é em sintonia com a vida e, para escolhê-la é necessária uma situação interior de sintonia com Deus, a sua Palavra, a sua vontade.

Os profetas anunciaram um caminho de liberdade. Entre eles podemos citar Isaias e Jeremias.

O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade (Is 61,1).

Num contexto histórico onde a situação do povo de Israel tinha voltado a piorar, Deus promete, através do profeta Isaias, a liberdade dos prisioneiros.

A liberdade não si identifica com o espontaneísmo: o perigo é nos tornarmos escravos de nós mesmos, os nossos instintos, os nossos vícios. Por isso Moises oferece uma lei para o povo (cf Ex 20). A liberdade para brotar na nossa via exige uma orientação, um guia: é este o sentido dos dez mandamento que, como sabemos, não conseguiram a endireitar o povo. Por isso o profeta Jeremias, no meio do conflito que levou o povo de Israel no exilio em Babilônia anuncia uma nova aliança:

 Dias hão de vir - oráculo do Senhor - em que firmarei nova aliança com as casas de Israel e de Judá. Será diferente da que concluí com seus pais no dia em que pela mão os tomei para tirá-los do Egito, aliança que violaram embora eu fosse o esposo deles.  Eis a aliança que, então, farei com a casa de Israel - oráculo do Senhor: Incutir-lhe-ei a minha lei gravá-la-ei em seu coração. Serei o seu Deus e Israel será o meu povo.  Então, ninguém terá encargo de instruir seu próximo ou irmão, dizendo: Aprende a conhecer o Senhor, porque todos me conhecerão, grandes e pequenos - oráculo do Senhor -, pois a todos perdoarei as faltas, sem guardar nenhuma lembrança de seus pecados (Jer 31, 31-34).

A lei de Deus que será imprimido no coração das pessoas é o amor e, na forma mais alta, o amor de Deus se manifesto na pessoa de Jesus. Pensando nisso são Paulo dirá que:

 E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rom 5,5).

Existe então, um caminho de libertação que o homem e a mulher são chamados a realizar, caminho que se torna possível através da ação do Espírito Santo que derrama em nós o amor de Deus que se manifestou no seu Filho Jesus. Este é um dato importante. Jesus é o homem livre que age com liberdade, não é condicionado nem de elementos internos nem externos.

Neste itinerário bíblico chama atenção a grande liberdade de Jesus nas relações humanas. Se sente livre nas relações com as pessoas que a lei considerava impuras, como os leprosos (cf. Mc 1,40). Livre, também, no relacionamento com as mulheres (cf. Lc 8,1-3). Jesus manifestava grande liberdade no confronto das tradições religiosas como o sábado (cfr. Mc 3,1-6), ou como o adultério (cfr. Jo 8, 1s) e ele explica também o porquê (Cfr. Mc 7). Grande liberdade Jesus manifestava, também, com aquelas categorias de pessoas que os chefes religiosos consideravam pecadores, como os cobradores de impostos (cfr. Mt 9,10-13). Interessante e cheia de significado é a liberdade de jesus acompanhando o caminho dos discípulos e discipulas. Um exemplo claríssimo é o dinamismo do discipulado de Pedro, assim como é apresentado no Evangelho de João. Pedro renega de conhecer jesus e, depois da ressurreição, Jesus se apresenta para reconstruir o discipulado de Pedro. Jesus não guarda mágoa, rancor: é uma pessoa livre. Nessa altura podemos nos perguntar: de onde vem a liberdade de Jesus é nos ensina o que?

Acredito que a grande liberdade interior que permite a ele de tecer laços de amizades profunda com qualquer pessoa, seja ela que for, é fruto do seu profundo relacionamento com Deus, o Pai. Mais uma vez é o caminho da interioridade que o estilo de vida de Jesus aponta. Se quisermos ser pessoas livres precisamos escolher o caminho da interioridade, do cuidado com a nossa alma. Somente pessoas livres tecem laços de amizade autenticas, pis, somente quem é livre pode libertar os outros. Jesus foi Mestre nisso.

 

O rosto de Deus

 




  Paolo Cugini

No caminho da amizade o encontro do rosto do outro é de suma importância pois, a final de conta, o rosto revela a identidade do amigo. Na relação com o Mistério a situação é estranha pois, de um lado Ele se manifesta, se aproxima, cria laços, do outro nunca manifesta o seu rosto. São vários os salmos que falam do rosto de Deus e do desejo do homem de vê-lo.

Salmo 4, 6. muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto.

Salmos 31:16. Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tuas misericórdias.

Salmos 67:1. Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe; e faça resplandecer o seu rosto sobre nós.

Salmos 80:19 Faze-nos voltar, Senhor, Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos.

Salmos 105:4 Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente.

 Os salmos 4, 31, 67 e 80 tem todas a mesma expressão que é também a mesma que escutamos o primeiro dia do ano na leitura do livro dos Números 6. É o desejo que Deus faça brilhar sobre nós o seu roso e se isso acontecer, seremos salvos. Qual é o sentido desta expressão, deste desejo? É a ideia de uma vida completamente em harmonia com o Mistério de Deus. Se, de fato, o rosto indica a identidade, que este rosto brilhe sobre uma pessoa significa que ilumina totalmente a vida daquela pessoa. Esta luz se torna, então, uma grande benção na vida, porque tira definitivamente as trevas.

Continuando a folear as páginas da Bíblia para dar sentido ao nosso discurso encontramos um paradoxo na atitude do Mistério. De fato, enquanto manifesta o desejo de aproximar-se, ao mesmo tempo esconde o seu rosto. Esta dinâmica paradoxal é visível em alguns episódios.

Ex 33,1823. Moisés disse: “Mostrai-me vossa glória.” E Deus respondeu: “Vou fazer passar diante de ti todo o meu esplendor, e pronunciarei diante de ti o nome de Javé. Dou a minha graça a quem quero, e uso de misericórdia com quem me apraz.  Mas, ajuntou o Senhor, não poderás ver a minha face, pois o homem não me poderia ver e continuar a viver.  Eis um lugar perto de mim, disse o Senhor tu estarás sobre a rocha.  Quando minha glória passar, te porei na fenda da rocha e te cobrirei com a mão, até que eu tenha passado.  Retirarei depois a mão, e me verás por detrás. Quanto à minha face, ela não pode ser vista”.

Este é o paradoxo do Mistério. De um lado que se aproximar a cada um de nós, para nos conhecer e revelar a sua glória; do outro lado se esconde, não manifesta a sua face. O Mistério se esconde. Um dia, come sabemos, revelará a sua face de uma forma clara e nítida, mas pelo momento não. Existe uma pedagogia divina nesta dinâmica do escondimento. Para chegara contemplar o rosto do Mistério é necessário um caminho muito comprido, um caminho onde somos convidados a despojar-nos de qualquer forma idolátrica, de qualquer pre-compreensão. O Mistério nos atrai numa relação de amizade, mas para entrar nesta relação é preciso entrar num caminho de despojamento dos nossos ídolos, para criar espaço para o Mistério entrar. Ao mesmo tempo, o Mistério se escondendo, provoca um caminho na interioridade do homem e da mulher. Não é na exterioridade que é possível descobrir a identidade do Mistério, mas somente cuidando da própria alma, dedicando tempo á vida interior.

Deus mostra as costas para Moisés: qual é o mistério desta passagem? Querem dizer o que, simbolizam o que as costas do Mistério? Podem indicar duas coisas ao mesmo tempo. Em primeiro lugar, as costas indicam o sofrimento de Deus por nós. Nas costas de Deus se encontram os marcos de uma relação sofrida e cansativa. Não é fácil pelo Mistério lidar com a realidade humana, marcada pela fragilidade, que leva á desobediência, a dar as costas para Deus. Do outro lado, as costas de Deus mostram que o caminho do homem não termina com o seu respiro, mas tem um futuro no além. O Mistério, indicando as costas e continuando o caminho está convidando a humanidade a segui-lo, a não parar, a lamber as feridas e olhar para frente. A Vida do homem e da mulher que seguem o Mistério tem futuro e, este futuro será revelado com Cristo.

A face Deus não pode ser vista: por que e até quando? Outro texto neste sentido se encontra em 1 Reis. É no ciclo de Elias.

1 Reis 19, 11-13

O Senhor lhe disse: "Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar".
Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. Quan­do Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: "O que você está fazendo aqui, Elias?"

Aqui encontramos o mesmo paradoxo: o Mistério que nos convida num relacionamento profundo, não se dá a conhecer totalmente. O profeta Elias vive uma profunda experiencia espiritual, que o levou a viver situações dramáticas e de grande solidão. Na narração que acabamos de escutar percebe-se que Elias aprendeu algumas coisas da maneira do Mistério se manifestar, de se aproximar: isso é louvável. Apesar disso, não é ainda preparado ao ponto de poder olhar no rosto do mistério, na sua face.  

O paradoxo de um Mistério que vem ao nosso encontro e, ao mesmo tempo, do mesmo Mistério que esconde o seu rosto, provoca uma tensão nas pessoas visitadas pelo Mistério e que são sensíveis a este apelo. Esta tensão é expressa em várias passagens, sobretudo nos salmos. Por exemplo, podemos citar o salmo 62: O Deus, tu es meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem sede de ti. Este versículo expressa o desejo de Deus, a busca dele. A dinâmica da aproximação e do escondimento, provoca o desejo, a busca do Mistério, mantendo, desta forma, a lama numa constante tensão interior.

É com a vinda de Jesus que o Mistério se resolve, pois é Ele que revela de forma definitiva o Mistério do rosto de Deus. O Evangelho de João, a este propósito, escreve:

Ninguém jamais viu Deus; o Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o deu a conhecer (Jo 1,18).

Jesus é a manifestação definitiva do Mistério do rosto de Deus. Também Paulo entende assim e escreve: “Ele é a imagem do Deus invisível” (Col 1,15). Jesus desvende o rosto de Deus. De agora em diante a nossa relação com o Mistério tem um rosto, uma identidade clara. Apesar de uma longa história de preparação para a humanidade reconhecer o rosto de Deus no rosto do Filho, infelizmente não aconteceu: “Ele estava no mundo, o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu” (Jo 1,0). Este versículo deveria provocar uma grande pergunta na nossa mente: será que nós o reconhecemos? Em que Deus acreditamos? Qual é o Deus que mora na nossa mente?

venerdì 6 settembre 2024

A AMIZADE COMO MANIFESTAÇÃO DA PRESENÇA DE DEUS NA NOSSA VIDA

 




Semana de retiro espiritual ás irmãs adoradoras do sangue de Cristo

6-12 setembro 2024 – Manaus

 

Paolo Cugini

O ponto de partida: a presença

Foleando a Bíblia com um rápido olhar percebe-se um dato que perpassa toda a Sagrada Escritura: a percepção Misteriosa de uma presença amiga. A diferença dos povos vizinhos que buscavam a Deus no céu, nas estrelas, olhando no alto, o povo de Israel percebeu a presença do Mistério, olhando a terra, prestando atenção aos eventos históricos. De uma certa forma, apesar que seja um pouco ousado falar desta maneira, Israel percebeu o desejo de Deus de se aproximar ao homem, á mulher.

As narrações que encontramos nas primeiras páginas da Bíblia relatam esta sensação. A pergunta que pode nortear esta pesquisa na Bíblia poderia ser esta: quem é aquele que misteriosamente e aproxima a nós e quer a nossa amizade? Esta pergunta contém já de antemão uma resposta ao nosso itinerário sobre a amizade. Em toda experiencia de amizade, existe um desejo, uma vontade que empurra numa direção, rumo ao outro, outra que desejaríamos fosse amigo nosso. Mais uma vez, este desejo de amizade é visível em algumas páginas da Bíblia que agora folharemos juntos.

Ex 3,1-6. A percepção por parte de Moises do Mistério é paradigmática, ou seja, oferece elementos que encontramos em outras histórias parecida. Isso quer dizer, que o Mistério se manifesta não sempre da mesma maneira, mas com algumas características fundamentais.  “Lhe apareceu numa chama de fogo do meio de uma sarça” (Ex 3,2). O Mistério se manifesta na história dos homens e das mulheres utilizando elementos do mundo sensível, material, ou seja, do nosso mesmo mundo. É dentro este contexto que Moises percebe algo de novo, estranho: uma sarça que arde sem queimar. A revelação do Mistério na nossa vida acontece utilizando um material humano, que nós mesmos podemos reconhecer, porque faz parte do nosso contexto. Ao mesmo tempo, porém, neste mesmo patamar material existe algo de diferente, inusitado, que provoca a curiosidade de quem recebe esta visita.

Jer 1, 4s. Esta história é diferente da primeira, mas contém dados importantes pela nossa reflexão. Jeremias percebe a presença do Mistério a nível de consciência. Aquilo que ele realiza é uma experiencia interior. Jeremias percebe dentro de si algo que o convida para uma missão. É possível historicamente uma experiencia deste tipo? Olhando a literatura sobre este tema em outros âmbitos, podemos dar uma resposta positiva. Se pensarmos a Sócrates, só pra fazer um exemplo, segundo ele a verdade estava contida na alma que precisava ser libertada das falsas opiniões. Este exercício indica que a percepção de algo autêntico e, ao mesmo tempo, qualitativamente diferente, é fruto do esforço humano. Nas páginas de Jeremias, com o em outras páginas da Bíblia (por exemplo, 1 Sam 3,1-21, que narra a vocação de Samuel), é Deus que toma a iniciativa e a pessoa percebe como uma voz na própria consciência, uma voz tão clara e profunda que impele uma resposta.

O Mistério que se aproxima com a vontade de criar um laço, não é percebido somente por pessoas individuais, mas também em alguns eventos históricos que envolveram o povo.

Ex 14-15. Um primeiro exemplo deste aspecto ´a experiencia da passagem do Mar Vermelho. Sem aprofundar como realmente aconteceram as coisas, um dato é claríssimo na narração do livro do Êxodo: aconteceu algo de tão estranho e diferente, que chamou a atenção de todo o povo. 

Naquele dia JHWH salvou Israel das mãos dos Egípcios e Israel viu os egípcios mortos á beira-mar. Israel viu a proeza realizada por JHWH contra os egípcios. E o povo temeu a JHWH” (Ex 14,30s).

É um texto que revela já uma interpretação por parte do povo, que viu algo de inusitado, ao ponto de provocar maravilha, espanto. O povo viu, assistiu a eventos históricos de um porte tal, que era difícil pensar que naquele contexto específico não tivesse a mão do Mistério. Isso quer dizer, que existem eventos, aos quais Israel participou, que não é possível explicar de uma forma puramente humana e natural. Tem algo a mais.

A amizade do Mistério para com o homem e a mulher se manifesta com o desejo de se aproximar. Um primeiro passo na nossa reflexão seria ver se na nossa vida já percebemos o desejo do Mistério que se aproximou a nós para nos conhecer, nos tornarmos amigos.