sabato 23 agosto 2025

XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

 




Lucas 13,22-30

 

Paolo Cugini

 

Nos Evangelhos que ouvimos no domingo, é difícil encontrar Jesus em lugares e espaços estáticos: ele está sempre em movimento. Jesus passou por cidades e aldeias ensinando enquanto caminhava em direção a Jerusalém. No Evangelho de hoje, Jesus também passa para ensinar, e seu ensinamento está intimamente ligado ao seu movimento. Ele ensina o que vê no caminho, o que encontra na realidade, e interpreta isso à luz de sua relação com o Pai. É uma jornada com direção, porque Jesus sabe para onde quer ir. Esta é a primeira lição de hoje: aprender a caminhar atrás de Jesus, a ver a realidade no caminho e não através de uma tela — uma realidade que, se ouvida, revela aspectos do Mistério.

“Senhor, serão poucos os que serão salvos?” Ele lhes disse: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita, pois eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão.

O tema da passagem de hoje é a salvação. A pergunta feita a Jesus revela uma crença generalizada entre os judeus, que acreditavam que somente o seu povo estava destinado à salvação. Em sua resposta, Jesus subverte toda a abordagem clássica, afirmando que pertencer a um povo não determina a salvação. Para entender as palavras de Jesus, precisamos compreender a natureza de seu discurso. Estamos, de fato, diante de uma passagem escatológica, que fala do fim dos tempos. Na parábola que Jesus conta, o dono da casa se levanta para fechar a porta. A porta é estreita porque já está fechada. O problema, neste ponto, é entender como se pode estar dentro antes que a porta se feche e quem fica de fora.

Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora e baterão, dizendo: ‘Senhor, abre-nos!’. Mas ele responderá: ‘Não sei de onde vocês são’. Então vocês começarão a dizer: ‘Comemos e bebemos na sua presença, e você ensinou em nossas ruas’. Mas ele responderá: ‘Não sei de onde vocês são. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam a iniquidade!’

Quem é que permanece do lado de fora da porta estreita porque ela já está fechada? Sensibilidades religiosas comuns poderiam identificar as categorias clássicas identificadas como pecadores, a saber, ladrões, traficantes de drogas, prostitutas, etc. Jesus, no entanto, mais uma vez nos surpreende e nos deixa atônitos. Do lado de fora da porta, de fato, estão pessoas que participaram da Missa e ouviram sua Palavra. Àqueles que reivindicam diante de Deus os direitos adquiridos pela vida religiosa, pela participação nos serviços litúrgicos, o Pai da parábola responde de forma surpreendente: Não sei de onde vocês são. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam a injustiça! Por que tal resposta? Por que os religiosos que participaram da Missa e ouviram a Palavra de Deus permanecem do lado de fora da porta? A pergunta é perturbadora e exige uma resposta. Se a vida litúrgica, nossa relação com Deus que cultivamos no culto, não se transforma em uma relação autêntica com nossos irmãos e irmãs, significa que algo está errado. Os profetas também disseram isso, palavras que Jesus então repete em várias ocasiões: Eu quero misericórdia, não sacrifício ! Participar de cultos e liturgias deve nos ajudar a transformar as palavras de Jesus em amor e cuidado pelos outros, especialmente pelos mais pobres.

 

Não é este o jejum que escolhi:
soltar as ataduras da impiedade,
desfazer as ataduras do jugo,
pôr em liberdade os oprimidos
e desfazer todo jugo?
Não é repartir o teu pão com o faminto,
acolher em casa o pobre sem
abrigo, cobrir o nu que vires
e não te esconder do teu próximo?
Então, a tua luz romperá como a aurora,
e a tua cura se completará em breve.
A tua justiça irá adiante de ti,
e a glória do Senhor será a tua retaguarda
 (Isaías 58:6-8).

 

Em suas parábolas, Jesus retoma e expande o que os profetas já estavam dizendo.

Pessoas virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e se sentarão à mesa no Reino de Deus. E eis que alguns são últimos e serão primeiros, e alguns são primeiros e serão últimos.

A conclusão da parábola é um convite a não nos determos nas aparências, mas a olhar para as situações históricas com os olhos da fé. Aqueles que, de uma perspectiva humana, poderíamos considerar fora do Reino de Deus, como ladrões e prostitutas, serão, na verdade, os primeiros a entrar, porque sua condição lhes permite pedir perdão e se abrir à misericórdia do Pai. Por outro lado, aqueles que consideramos primeiro por serem religiosos serão, na verdade, os últimos no Reino de Deus, porque são tão arrogantes e presunçosos que não dão espaço à Palavra de Deus, acreditando-se já salvos. 

 

sabato 9 agosto 2025

19º Domingo do Tempo Comum – Ano C

 



 

Lucas 12,32-48

 

Paolo Cugini

Como pode o homem manter o seu caminho reto? Guardando a Tua Palavra. É um versículo do Salmo 119, que é uma longa e profunda catequese sobre a Palavra de Deus, e que nos ajuda a introduzir a reflexão de hoje. O Evangelho é uma bela proposta, uma boa notícia, de fato, que requer espaço, interiorização, para que sua diversidade se torne parte do nosso estilo de vida. Não podemos nos dar ao luxo de ler uma passagem do Evangelho superficialmente. Tornar-se discípulo do Senhor significa reservar tempo para Ele, para a Sua palavra, para a Sua proposta, para que ela se torne nossa.

 

Vendam tudo o que vocês possuem e deem esmolas; façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro inesgotável nos céus, onde ladrão algum chega, e traça nenhuma consome. Pois onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração.

A discussão continua sobre nossa relação com o dinheiro e os bens terrenos. Os cristãos são convidados a ter uma atitude de abnegação, de desapego. Trabalhar para ter um tesouro seguro no céu significa aprender a doar o que temos, o que possuímos. Se temos algo, é para compartilhá-lo com aqueles que não têm nada: esta é a mensagem cristã, a força do Evangelho, a diferença da mensagem de Jesus, que se torna fermento na massa. Por que, poderíamos perguntar, existe uma proposta tão exigente e contracorrente? Porque deve ficar claro quem estamos seguindo, a quem estamos confiando nossas vidas. O Evangelho diz: Pois onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração. Nossa consciência é onde estamos colocando o nosso tesouro. Portanto, se estivermos tornando nossa vida dependente do dinheiro que temos, nossos pensamentos estarão constantemente fixos na conta bancária, nos meios para aumentar nosso capital. Se o nosso tesouro estiver em Deus, então nossa mente estará preocupada em realizar o Reino dos Céus e, nessa jornada, envolverá também nossos próprios bens. Jesus não demoniza o dinheiro, mas sim a forma como ele é usado, especialmente quando se apodera da vida pessoal. Quando isso acontece, a vida religiosa deixa de influenciar as escolhas pessoais e se torna um aspecto decorativo da vida, servindo para manter a consciência tranquila. O apego ao dinheiro, portanto, revela a falsidade da minha religião. Os Evangelhos dizem que os fariseus, os guardiões da religião do templo, a religião dos mandamentos, eram apegados ao dinheiro. Aqueles que têm a mente voltada para o dinheiro não têm espaço para Deus. Este é o cerne do discurso de Jesus sobre a relação de seus discípulos com o dinheiro.

Estejam prontos, com os lombos cingidos e as lâmpadas acesas. Sejam como os servos que aguardam o seu senhor voltar das bodas, para que, quando ele vier e bater, possam imediatamente abrir a porta. Felizes aqueles servos cujo senhor, quando chegar, os encontrar vigilantes.

Estar pronto significa viver o dia a dia à luz do Evangelho. Uma pessoa pronta é alguém que assimila diariamente a Palavra do Senhor e busca viver o Evangelho nas escolhas que faz. Em última análise, todos aqueles que buscam uma conexão constante entre fé e vida estão prontos, e a chegada do Senhor não nos encontra surpresos, mas prontos para agir.

Mas se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e começar a espancar os servos e as servas, e a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo virá num dia em que não o espera e numa hora que não sabe, e o castigará com os infiéis.

É o perigo de uma vida dupla. Vou à missa, realizo todos os ritos religiosos, mas minha vida pessoal caminha para uma direção diferente. É a lógica de: vou deixar a organização da minha vida para amanhã e aproveitá-la agora. Hoje é o tempo da conversão, e nesta Eucaristia o Senhor nos concede um tempo para assumirmos o controle de nossas vidas e colocá-las no caminho que Ele traçou para nós.

A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será exigido.

Este versículo deve ser lido sob uma perspectiva espiritual.  Certamente, aqueles que estão acostumados a reclamar de tudo são incapazes de compreender a riqueza espiritual dos dons recebidos do Senhor. Não se trata de dinheiro, coisas ou bens. Dar e confiar muito está entre os dons espirituais que guiam a vida. E assim, Jesus pede a todos aqueles que receberam os sacramentos, a Palavra de Deus e uma comunidade que façam com que esses dons frutifiquem, para não correrem o risco de viver como se nada tivessem recebido dEle. Portanto, todo momento formativo que nos ajude a descobrir a bondade, a força e o potencial dos bens recebidos deve ser valorizado. Os sacramentos, como qualquer dom que recebemos do alto, não fazem parte da lógica do mundo; isto é, não devem ser deixados de lado, porque os dons que recebemos de Deus são para serem compartilhados. Os dons que recebemos de Deus são vistos sob a perspectiva da Aranha de Deus, dados para que possamos viver o que somos: filhos e filhas de Deus.