sabato 31 maggio 2025

ASCENSÃO DO SENHOR/C – SOLENIDADE

 




 

Atos 1,1-11; Sl 47; Ef 1,17-23; Lc 24,46-53

 

Paolo Cugini

 

A solenidade da Ascensão do Senhor, que celebramos hoje, deve ajudar-nos a compreender o significado da missão da Igreja no mundo e também do nosso batismo, pois é neste sacramento que recebemos o Espírito Santo. De fato, é na Ascensão do Senhor que os discípulos recebem o mandato de anunciar o Evangelho a todos os homens. A tarefa da Igreja, portanto, é ser testemunha de Cristo. Além disso, a Ascensão do Senhor ensina-nos que o Evangelho não é apenas um anúncio terreno, que se encerra na terra. O Evangelho não é um código de conduta moral, mas a indicação de um caminho que tem como meta o encontro com o Pai. Assim como Jesus passou, através da sua paixão e morte, deste mundo para o Pai (Jo 13), este é o significado da sua Páscoa: nós também devemos ouvi-lo para passar com Ele deste mundo para o Pai. Por isso, somos convidados a anunciar o seu Evangelho ao mundo, o seu único caminho de salvação. E aqui surge o problema: como é possível anunciar este caminho de salvação?

 

Foi a eles que Jesus se mostrou vivo depois da sua paixão (At 1,3).

O primeiro critério para dar testemunho de Jesus no mundo é conhecê-lo, conhecê-lo. Jesus não é uma ideia abstrata, mas uma pessoa concreta; Jesus não é uma criação literária, não é fruto da imaginação humana. Jesus é Deus que se fez homem e veio habitar entre nós: é Deus que se aproximou de nós. É por isso que é impossível conhecer Jesus a não ser através de uma experiência viva, autêntica e profunda. Jesus não envia os seus discípulos para anunciar uma ideia, ou algo do género, mas aquela experiência específica que tiveram com o Senhor. Não é por acaso que Jesus, após sua morte e ressurreição, apareceu apenas aos seus discípulos, isto é, àqueles que foram capazes de reconhecê-lo. Portanto, na raiz do nosso testemunho – porque este é o significado do nosso batismo! – deve estar a nossa experiência com o Senhor Jesus. Não podemos anunciar Cristo se não o conhecemos. Em sua primeira carta, João relata esta mesma reflexão: o que ouvimos, o que as nossas mãos tocaram, isso vos anunciamos (cf. 1 João 1:1-4). A vida cristã não se faz apenas de palavras, mas de experiência autêntica com Cristo. É o conhecimento dEle que nos permite conhecê-lo e, portanto, comunicá-lo ao mundo.

 

Vocês receberão poder ao descer sobre vocês o Espírito Santo (Atos 1:8).

O conhecimento experiencial e pessoal do Senhor, porém, não é suficiente: é necessário o Espírito Santo. Somente o Espírito de Deus pode dar aos discípulos a coragem de proclamar, de testemunhar o Senhor ressuscitado em um mundo que o odeia, que o massacra, que odeia a Deus e, consequentemente, odeia todos aqueles que falam do Filho. Essa coragem não é uma força psicológica, de origem humana, mas algo que vem de Deus, do seu Espírito.

 

Há algo mais. Para ser testemunha, precisamos da força que vem de sermos credíveis. Isso significa que, se queremos ser testemunhas do Senhor, nosso encontro com Ele deve ter mudado significativamente nossas vidas. Como podemos, de fato, proclamar o amor de Cristo aos nossos inimigos se odiamos alguém? Como podemos ser testemunhas da comunhão de Cristo se somos instrumentos de luta e dificuldade? Como podemos ser testemunhas da morte de Cristo que perdoou nossos pecados, se não somos capazes de perdoar? Como podemos proclamar o amor de Cristo aos pobres se gastamos nosso tempo acumulando riquezas, tornando-nos instrumentos de injustiça? Testemunhar significa contar o que Jesus fez não apenas com palavras, mas também e, sobretudo, com a nossa própria vida. A verdade do que anunciamos deve ser claramente visível na nossa carne, na nossa história. Testemunhar não significa dizer o que Jesus fez, mas o que Jesus fez por mim, a salvação que Ele trouxe para a minha vida. Se somos chamados a anunciar a Salvação que Cristo realizou na história através da sua paixão, morte e ressurreição, então tudo isso deve estar escrito na nossa vida, deve ser claramente visível na nossa carne, no nosso modo de ser, de viver, de pensar. Isso só se torna possível se o encontro com o Senhor tiver verdadeiramente trazido a salvação para a nossa existência. Só então as palavras se tornam credíveis, alcançando um peso e uma força impressionantes, que penetram o coração do mundo, perturbando-o, preocupando-o, levando-o a sério. Por isso, São Lucas, pouco depois, nos Atos dos Apóstolos, no quarto capítulo, narra como se estruturou a comunidade dos primeiros cristãos, seguindo a pregação dos discípulos.

 

A multidão dos que tinham chegado à fé era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que suas propriedades eram o que possuía, mas entre eles tudo era comum (Atos 4.32).

É por isso que a pregação dos discípulos atraía multidões: não se tratava de discursos e habilidades retóricas, mas de testemunho. O que os discípulos anunciavam, isto é, a salvação pelo Evangelho de Jesus (cf. 1 Cor 15,1-3), era claramente visível em suas comunidades, compostas por pessoas que viviam o nome de Jesus de uma maneira totalmente nova, não mais animadas pelo egoísmo humano que só causa divisões e rivalidades, mas pelo amor de Jesus que inspira caridade e partilha entre si.

Quais são os sinais que o Espírito Santo produz em nossa humanidade que tornam nosso anúncio crível?

Em primeiro lugar, a humildade. De fato, somente Deus deve ser glorificado por meio de nossa ação. Somente o Espírito pode produzir em nós esse sentimento fundamental da vida cristã, tão presente na vida de Cristo.

Em segundo lugar, a alegria. Os cristãos são alegres não por causa de sua conta bancária ou outros bens materiais, mas porque vivem com Jesus. É isso que Santa Teresa de Jesus queria dizer quando escreveu: “Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta.”

Peçamos a Deus que, nesta Eucaristia que celebramos, o Espírito Santo produza em nossas vidas aquela humildade e alegria tão necessárias para o testemunho autêntico do seu Evangelho.

sabato 24 maggio 2025

VI Domingo da Páscoa/C

 



 

Paolo Cugini

No tempo da Páscoa, a liturgia nos oferece uma reflexão sobre o significado da presença do Ressuscitado na vida da comunidade cristã, na vida daqueles que o encontraram. De fato, este deveria ser o sentido da Igreja, isto é, do grupo de pessoas que fizeram a experiência do encontro com o Ressuscitado e que o testemunham com um novo estilo de vida, que apresenta características específicas. Na narrativa dos Atos dos Apóstolos, cada vez que Paulo é chamado a se defender diante das autoridades romanas das acusações dos judeus (Atos 22 e 26), ele o faz narrando a mudança operada por seu encontro com o Ressuscitado. Esta é então a pergunta que busca abrir o sentido das leituras propostas pela liturgia de hoje: o que deve acontecer com as pessoas que encontraram o Ressuscitado?

As duas primeiras leituras nos oferecem material semelhante para a nossa resposta, que poderíamos formular assim: o encontro com o Ressuscitado nos liberta da religião falsa, aquela feita de normas e prescrições, que escravizam os homens em vez de libertá-los. Esta foi a experiência de Paulo que ele procura compartilhar em suas viagens missionárias, afirmando que o Evangelho de Jesus libertou a humanidade de todas aquelas prescrições que, em vez de aproximar a humanidade do Pai, a afastam. É justamente neste ponto que Paulo e Barnabé encontrarão forte resistência dos judeus convertidos ao cristianismo, que queriam impor as leis mosaicas também aos pagãos convertidos. 

Naqueles dias, alguns homens desceram da Judeia e ensinaram aos irmãos: “Se não vos circuncidardes, conforme o costume de Moisés, não podeis ser salvos” (Atos 15:1). O Concílio de Jerusalém, do qual se relata um trecho do documento final na primeira leitura, discutirá justamente este ponto e serão fundamentais os testemunhos de Pedro e Paulo sobre a descida do Espírito Santo também sobre os pagãos. Em sintonia com este caminho, estão as palavras do Apocalipse relatadas na segunda leitura, que afirma que, na nova Jerusalém, segundo a visão de João, não haverá templo, porque: “o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro são o seu templo”. (Ap 21, 22). O templo de Jerusalém, especialmente o segundo templo, aquele reconstruído após o retorno do exílio na Babilônia, havia se tornado o símbolo de uma religião composta de tantos preceitos e regras que um relacionamento pacífico com Deus era impossível. Por isso, no diálogo com a samaritana, Jesus dirá que, para um diálogo autêntico com o Pai, não haverá mais necessidade de templos porque: «os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade» (Jo 4, 23).

A comunidade daqueles que encontraram o Ressuscitado, além de se libertar da falsa religião dos preceitos, torna-se uma presença de paz no mundo. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não vo-lo dou como o mundo o dá (Jo 14,25-26). A Sagrada Escritura considera a paz não apenas como a ausência de guerra, mas sobretudo como um dom de Deus e a plenitude de todas as suas bênçãos. Esta é a mensagem central da esperança messiânica anunciada pelos profetas, que a veem realizada na harmonia das origens entre o homem e a criação: "O lobo habitará com o cordeiro..." (Is 11,6-9; cf. Is 65,25) e na convivência pacífica e fraterna: "Forjarão das suas espadas relhas de arado, e das suas lanças, foices... e não aprenderão mais a guerra" (Is 2,4). É essa paz que Jesus trouxe entre nós, como rejeição a toda forma de violência. Jesus, de fato, como nos diz São Paulo, reconciliou os povos em conflito atraindo o ódio deles para a sua própria carne (cf. Ef 2,14ss). A vida do Ressuscitado é visível, então, no esforço que fazemos todos os dias para construir a paz, para reconciliar as pessoas, para fazer com que os opostos possam coexistir.

domenica 18 maggio 2025

DOMINGO V DE PÁSCOA TEMPO/C

  



 

Paulo Cugini

O que o tempo da Páscoa significa para a comunidade cristã? O que a ressurreição de Cristo deve trazer para seus discípulos, tanto homens quanto mulheres? Parece-me que esta é a pergunta que pode abrir a compreensão das leituras que ouvimos.

Então eles constituíram anciãos para eles em cada igreja  (Atos 14:21). A primeira resposta encontra-se nos Atos dos Apóstolos. Na passagem de hoje, Lucas nos fala sobre o primeiro esboço da estrutura da comunidade. Paulo e Barnabé não apenas proclamam o Evangelho e exortam seus ouvintes, mas também estão preocupados com o futuro das comunidades que criaram. A luz do Ressuscitado se manifesta na inteligência de quem a acolhe, o que se materializa na reflexão sobre como dar continuidade à mensagem do Evangelho após a ausência dos missionários. Há um desígnio que, antes de ser sinal de eficiência exasperada, se torna manifestação visível de amor às pessoas encontradas no caminho da evangelização.

Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra; o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe (Ap 21:1). A segunda ideia significativa que emerge das leituras de hoje sobre a novidade produzida pela luz do Ressuscitado nas pessoas que a acolhem é a capacidade de ver a novidade. Assim como os profetas eram visionários, pessoas capazes de ver vida onde se pensava apenas na morte, assim também a comunidade cristã que encontrou o Senhor da vida é caracterizada por essa atitude, que se manifesta no dom de ver paz onde a humanidade vê guerra, de ver amor onde só se pode discernir dinâmicas de ódio. Querendo atualizar a mensagem, nesta situação aparentemente desesperadora da guerra na Ucrânia, enquanto os governos propõem medidas de rearmamento como forma de alcançar a paz, a única voz que se destaca parece ser a do Papa Francisco, que insiste em afirmar que a paz se faz através do diálogo, da diplomacia e que as armas só produzem morte e guerra. Por isso renovo o meu apelo: chega, paremos, silenciemos as armas, negociemos seriamente pela paz (Papa Francisco, Angelus, Domingo 27.3.2022).

Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13,34). O terceiro indício significativo que as leituras nos comunicam sobre os sinais da presença do Ressuscitado na comunidade é o processo de essencialização que ele produz. Qual é, de fato, o mandamento do amor que Jesus indica aos seus discípulos pouco antes de sua morte na cruz, senão o sentido mais profundo da vida? Pode parecer trivial e infantil, mas é a única coisa que realmente dá sabor à existência. Às vezes percebemos isso depois de passarmos por experiências dolorosas de solidão, causadas por nossas escolhas egocêntricas, na ilusão de que podemos fazer tudo sozinhos. Ter amor uns pelos outros é tanto um dom quanto uma tarefa. É o dom que o Senhor nos oferece com o seu Espírito, o seu ensinamento. É também e sobretudo uma tarefa que construímos todos os dias, colocando gestos de generosidade e serviço junto das pessoas que estão ao nosso redor ou mesmo junto daquelas que encontramos no nosso caminho. Pode parecer pouco, e é a sensação que nos vem quando buscamos o julgamento dos outros, no processo de construção da nossa identidade. É um grande presente, ao contrário, e o percebemos quando aprendemos com a vida a saborear a beleza e a riqueza de um sorriso, de um olhar atento dado e recebido. São esses pequenos gestos que, além de falar da verdade e da autenticidade dos nossos relacionamentos, permitem que a luz do Ressuscitado se torne visível, para que o mundo creia.

 

sabato 3 maggio 2025

III DOMINGO DE PÁSCOA / C

 




Paolo Cugini

 

A Páscoa é o tempo do ano em que a Igreja nos convida a refletir, de modo novo e original, sobre o sentido da existência. A Páscoa, de fato, ao apresentar o tema do Ressuscitado, provoca a reflexão sobre o tema da vida, seu sentido e sobre aquilo em que realmente vale a pena gastar as próprias energias. Por fim, o Pai ressuscitou o corpo de seu filho Jesus que, durante sua vida, havia escolhido uma vida pobre, humilde e discreta; isto é, ele não buscava glória mundana, poder ou dinheiro. Este aspecto, na minha opinião, deve nos fazer refletir. A ressurreição de Jesus lança uma nova luz sobre a história da humanidade e expõe a pobreza da proposta, totalmente desequilibrada em relação ao material, deixando muito pouco espaço para a dimensão espiritual. Vejamos, a este respeito, o que nos dizem as leituras de hoje.

Eles mandaram açoitar [os apóstolos] e ordenaram que não falassem em nome de Jesus. Então eles os soltaram. Então eles saíram da presença do Sinédrio, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer desonra por causa do nome (Atos 5:40-41).

A situação narrada na primeira leitura é indicativa do que aconteceu com aqueles que conheceram o Senhor e o encontraram ressuscitado. Houve uma clara mudança na perspectiva existencial. De fato, eles passaram de uma atitude de medo e abandono diante do Mestre, a ponto de terem que entregá-lo, negá-lo e abandoná-lo, para uma atitude em que se sentem felizes por terem sido ultrajados em nome de Jesus. É a realidade dessa mudança que deixa admirado e se torna um testemunho que vale a pena ouvir para aprofundar a discussão sobre a ressurreição de Jesus, que tem consequências significativas para as pessoas que o encontram. O que aconteceu para provocar uma mudança tão radical? Como é possível que pessoas tão frágeis e medrosas se tornem corajosas e capazes de argumentar sobre suas ações em tão pouco tempo? Encontrar o Ressuscitado significa, entre outras coisas, precisamente isto: testemunhar uma passagem na própria humanidade que deixa uma marca profunda capaz de mudar o caminho. Mudança que não tem explicação humana, que não pode ser explicada com instrumentos científicos, psicológicos: há mais.

Eu, João, vi e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos. E o seu número era dez mil vezes dez mil, e milhares de milhares; e disseram em alta voz: Digno é
o Cordeiro, que foi morto,
de receber o poder, e riquezas,
e sabedoria, e força, e
honra, e glória, e ações de graças (Ap 5:1ss).

João vê a vitória de Cristo sobre a morte; ele não vê a cruz, mas um trono, um sinal de vitória, e no trono o próprio Deus com o cordeiro sacrificado ao seu lado. O fato interessante é que esse cordeiro sacrificado, que claramente se refere a Jesus, está de pé, em sinal de vitória: ninguém conseguiu dobrá-lo, quebrá-lo. O ódio do mundo não prevaleceu sobre o amor de Jesus, simbolizado pelo fato de ele ser imaginado como um cordeiro abatido. Os cristãos que seguem o Senhor e se alimentam dEle, nutrem a consciência com Suas palavras, com Sua mensagem, não veem no mundo sinais de morte, mas de vitória. Onde o mundo vê morte, os cristãos veem vida. E já que o cordeiro está de pé e venceu o ódio com amor, ele é digno de ser reverenciado para receber poder de Deus Pai. Ser no mundo sinal da vitória de Cristo sobre o ódio e a dinâmica da morte: esta é a tarefa dos cristãos no mundo.

Disse-lhe pela terceira vez: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste porque lhe perguntou pela terceira vez: “Você me ama?” E ele lhe disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo.” Jesus respondeu-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,17).

Na jornada da fé, não somos testados pelo número de ritos e procissões dos quais participamos, mas exclusivamente pelo amor que damos. É preciso acrescentar que se podemos dar amor é porque o recebemos gratuitamente do Filho, por meio do Espírito Santo que o derramou em nossos corações (cf. Rm 5,5). O bálsamo da misericórdia cura as feridas da alma de Pedro que havia negado o Senhor três vezes. Não há culpa, nem desespero, mas apenas misericórdia que cura as feridas. Os relacionamentos que Jesus cria têm esta marca inconfundível: ele não mexe com os homens e mulheres para fazê-los sentir-se mal, mas para trazer à tona o bem que há em cada pessoa. 

 

sabato 12 aprile 2025

DOMINGO DE RAMOS 2025

 




 Paulo Cugini


Neste domingo que abre o caminho da Semana Santa, gostaria de oferecer algumas chaves de compreensão a partir das leituras que ouvimos.

 

1.      A superficialidade de uma religião que é vivida apenas externamente e não influencia nas escolhas da pessoa. O que chama a atenção é a superficialidade das pessoas que primeiro louvam Jesus quando ele entra em Jerusalém e depois clamam por sua crucificação. O que vale a pena é esse caminho de fé que permite que os conteúdos escutados se fixem no coração, de modo que modifiquem os pensamentos e orientem as escolhas.

 

2.      Princípio educacional. Para nos comunicar o caminho da vida autêntica, Ele se aproximou de nós, se fez um de nós: este é o maior ensinamento educativo. É o que nos explica São Paulo na segunda leitura de hoje: Fl 2,5-11. Jesus não nos ensinou o caminho da salvação e da verdadeira vida do alto de um púlpito, mas das profundezas da vida cotidiana, vindo caminhar entre nós.

 

3.      A solidão do homem, da mulher de Deus; mal-entendido, traição. Somente no julgamento do mundo. A tremenda solidão de Jesus nas últimas horas de sua vida é impressionante. Abandonado por todos, traído, entregue, humilhado, insultado: sozinho diante de tudo e de todos. Mas Jesus permaneceu em seu lugar e não tentou escapar. A autenticidade de um caminho espiritual se verifica nas situações de crise, ou seja, na capacidade de permanecer firme, no seu lugar.

4.      A verdade vem da atenção à realidade. Os Evangelhos não esconderam a dureza e o drama das últimas horas de Jesus: não esconderam a realidade dos acontecimentos. Isso significa que a verdade do Evangelho vem através da aceitação da realidade como ela é, contra todas as formas de negacionismo, que são todas formas patológicas da razão.

 

5.      Um olhar de amor infinito . Pai, perdoa-lhes. Uma humanidade que ama dessa maneira revela algo que vai além do humano. Máximo, o Confessor, apoiou isso no século VII d.C. C. A humanidade de Jesus não se fecha em si mesma nem nas horas mais difíceis da sua paixão, mas permanece aberta, capaz de um olhar amoroso também para com os seus assassinos. Esse amor impressionante tem o sabor de algo que não pode ser enquadrado nas realidades humanas.


mercoledì 2 aprile 2025

V DOMINGO DA QUARESMA/ C




Paulo Cugini 


Há uma novidade que somos chamados a abraçar neste tempo da Quaresma, uma novidade de vida nova, capaz de dar sentido à nossa existência, de fornecer água no deserto dos nossos caminhos áridos. Parece incrível, mas é verdade. Para compreendê-lo, porém, é preciso um requisito fundamental, indicado pelo profeta Isaías na primeira leitura de hoje, ou seja, parar de pensar no passado.

Não vos lembreis das coisas passadas,

nem considereis as coisas antigas!

Eis que faço uma coisa nova;

agora ele brota, você não percebe? (Is 43,18).

Encontramos a mesma ideia na segunda leitura de hoje, quando Paulo afirma: Considero tudo como perda, por causa da excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por amor de Deus, perdi todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar a Cristo e ser encontrado nele (Fp 3:8). Há, portanto, uma atitude espiritual que não nos permite captar a novidade de Jesus, sua mensagem inovadora, sua presença salvadora para a humanidade. Aqueles que permanecem ancorados em formas tradicionais de religião são incapazes de compreender completamente a novidade que é Jesus.

O que é essa novidade e qual é a profundidade qualitativa dessa novidade é expresso na passagem do Evangelho de hoje, que conta uma história que levou séculos para ser admitida no cânon. O perdão de uma adúltera por Jesus foi, de fato, considerado inadmissível porque, de acordo com os detratores de Jesus, teria criado um clima de negligência que abriria caminho para justificar a traição das esposas aos seus maridos. Também é interessante a natureza chauvinista da cena, na qual apenas a mulher é levada perante Jesus para julgamento: e o homem, e o adúltero, por que não foi acusado? É o resultado dessa cultura patriarcal que cavou um abismo entre as condições masculina e feminina ao longo dos séculos, um abismo feito de injustiças e abusos.

Eles disseram isso para testá-lo, para que pudessem ter alguma acusação contra ele. 

Os escribas e fariseus procuram Jesus não para ouvi-lo, como o povo faz, mas para testá-lo. Curiosamente, o verbo que o Evangelho usa para explicar o motivo da aproximação deles com Jesus é o mesmo usado para explicar a atividade de Satanás: testá-lo. Os escribas e fariseus não estão interessados em ouvir Jesus, eles querem desacreditá-lo diante do povo, porque com suas ações e suas palavras, ele está perturbando aquelas tradições religiosas, que dão poder e apoio à classe sacerdotal. Há, portanto, o mal nas ações dos escribas e fariseus, aquele mal que vem daqueles que estão cegos pelo próprio passado, daqueles que não querem olhar para a novidade do presente, porque isso significaria questionar-se, colocar-se numa perspectiva de mudança de vida.

À provocação dos escribas e fariseus, Jesus responde escrevendo no chão em silêncio: por quê? O que essa atitude significa? Na realidade, é um gesto profético que remete a uma passagem de Jeremias: "aqueles que vos abandonarem serão envergonhados; aqueles que se afastarem de vós serão escritos no pó, porque abandonaram o Senhor, a fonte de água viva (Jr 17,13). Afinal, havia pouco a dizer, porque do lado dos fariseus não havia a menor vontade de ouvir e se envolver. É por isso que Jesus não entra no campo da diatribe teológica, mas provoca um caminho de interiorização. Ele se levantou e disse a eles: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a atirar uma pedra nela". É na consciência pessoal que Jesus provoca a reflexão dos ouvintes, porque é ali que está a possibilidade de ouvir aquela voz interior que revela o sentido autêntico das coisas.

«Mulher, onde estou? Ninguém te condenou? E ela respondeu: “Ninguém, senhor.” E Jesus disse: “Eu também não te condeno”.

 Este é o escândalo, a afirmação que os escribas e fariseus não queriam ouvir e que durante vários séculos deixou esta passagem fora do cânon: nem eu te condeno . Jesus é só amor, só misericórdia, é a possibilidade para todos recomeçarem, retomarem o caminho. Esta é a palavra que a Igreja deve saber dizer ao mundo: eu também não te condeno e, assim, abrir caminhos de misericórdia, libertando os homens dos sentimentos de culpa que os escravizam e que produzem a imagem de um Deus terrível, herança de medos ancestrais.

O sentido do caminho quaresmal deveria ser precisamente este: fazer-nos descobrir o rosto totalmente bom e misericordioso do Pai. Nenhuma condenação, nenhuma imposição, mas a possibilidade de um novo caminho.



sabato 22 marzo 2025

QUARTO DOMINGO DA QUARESMA/C

 



(Js 5:9-12; Sl 34; 2 Co 5:17-21; Lc 15:1-3.11-32)


Paolo Cugini


1. As leituras do domingo passado nos convidaram a não adiar o tempo da nossa conversão, mas a considerar o tempo presente como o momento favorável para o nosso encontro com o Senhor. Hoje, quarto domingo da Quaresma, a liturgia da Palavra vem ao nosso encontro procurando explicar-nos o conteúdo desta conversão. As perguntas que podemos tomar como pano de fundo para a liturgia de hoje poderiam ser as seguintes: afinal, o que significa converter-se ao Evangelho? O que o Senhor requer de nós? Quais são os passos que devemos dar no presente da nossa existência, para tornar verdadeira e autêntica a nossa adesão ao Senhor?


2. A primeira resposta que podemos dar a essas perguntas é que não podemos ficar neutros diante da proposta do Senhor. O Evangelho de hoje, de fato, abre com esta mesma imagem. Diante dele estão, de um lado, os fariseus que o criticam e, do outro, os pecadores que se aproximam para ouvi-lo. Qualquer um que se sinta muito justo nesta Quaresma  provavelmente já começou  a se distanciar de seguir  Jesus  , julgando-o ultrapassado ou muito radical. Quem, por outro lado, está deixando a Palavra do Senhor penetrar em si mesmo, não estará  se  sentindo muito bem. E então  ele sentirá  a necessidade de se aprofundar mais no assunto, para entender melhor o que  Jesus  quer dizer. Aqueles que decidem levar a vida a sério e, portanto, deixam de se esconder atrás das máscaras construídas ao longo do tempo, para não se sentirem mal por toda a vida e vislumbram na  proposta de Jesus  uma possível saída positiva,  tentarão  ouvi-lo.  A humildade  é a base de uma jornada espiritual e  a humildade  é medida pela ideia que temos de nós mesmos. Se nos sentimos bem com o Evangelho, isso significa que estamos em má situação, que nossa jornada espiritual realmente perdeu força. Somente Cristo é de fato o Santo de Deus e, diante do Santo, todos nós somos pecadores e necessitados de uma salvação que não podemos dar a nós mesmos com nossas próprias mãos, mas que vem  do alto  como um dom puro e gratuito de Deus (cf. Rm 3). Se, pelo contrário, nos sentimos mal ao ler uma página do Evangelho,  significa  que ainda estamos bem, porque ainda estamos em contato com a  realidade  de nós mesmos, que é a percepção de algo que deve ser mudado em nossa existência. Se, ao ouvir estes primeiros versículos do Evangelho, nos identificamos com os publicanos e pecadores, podemos continuar ouvindo, porque  Jesus  nos  revelará  algo importante para o nosso caminho de conversão. Se, pelo contrário, nos identificamos com os fariseus, com aqueles  que  pensam saber  mais  que  Jesus , podemos tranquilamente fechar o Evangelho e sair da Igreja: o Evangelho não é coisa de seres superiores, mas de pequenos. 


3. Para aqueles de nós que permanecemos na Igreja, porque nos sentimos pequenos, pecadores e necessitados da misericórdia do Senhor, o que o restante do Evangelho tem a nos dizer? Ela revela algo sobre nós mesmos e algo sobre Deus.

Em primeiro lugar, a figura dos dois irmãos revela algo sobre nós mesmos. Ela nos diz, de fato, por um lado, que nossas cabeças são  tão  duras, nossos corações  tão  fechados pelo orgulho e nossas almas  tão  cheias de nós mesmos e do egoísmo, que para entender que estamos indo no caminho errado, precisamos cair no fosso. O filho que sai da casa do pai e vai embora pensando em fazer a própria vida, somos nós toda vez que queremos fazer as coisas do nosso jeito, que achamos que somos os protagonistas absolutos da nossa vida e não queremos ouvir nada nem ninguém. Cada vez que agimos dessa maneira, estamos nos aproximando mais  do  abismo da falta de sentido e da insignificância da vida. E assim, enquanto pensamos que estamos criando uma vida cheia de sucesso, na  realidade  estamos destruindo-a ao preenchê-la com nada. E  então , de repente, no meio da jornada da nossa vida, nos sentimos estranhamente vazios, sem nada dentro. Quem conseguir, nessa situação existencialmente catastrófica, entrar em si mesmo, reconhecer os próprios erros, assumir  a responsabilidade  pelo próprio fracasso e pedir ajuda a Deus,  conseguirá  se levantar e, com dificuldade, retomar o caminho. Aqueles que, pelo contrário, continuam a não aceitar o próprio fracasso de uma  vida egocêntrica  e egoísta, procurando por todo o lado pontos de referência onde descarregar  a sua  raiva, precisam de comer mais alguns quilos de bolotas juntamente com os porcos.


4. O   filho  mais velho  que, em vez de se alegrar com o pai pelo retorno do irmão, fica tão irritado que não quer participar da celebração, é o símbolo de uma vida religiosa que não é gratuita, mas egoísta. A história deste filho mais velho  deve  nos levar a nos perguntar: por que vamos à igreja? O que buscamos dentro dos muros da paróquia? Se ainda não entendemos que em Cristo Deus nos deu tudo de si e que na Igreja encontramos todos os meios de salvação e, apesar  disso,  sempre temos algo a dizer, a criticar, a julgar tudo e todos, significa que nosso caminho espiritual é um pouco material, interesseiro,  ou seja,  pouco claro e autêntico. O tempo da Quaresma torna-se então para nós o tempo privilegiado para nos libertarmos de todas as nossas pretensões religiosas, de todo o nosso materialismo espiritual, para caminharmos  mais  livres e serenamente atrás do Senhor.


5. O que esta página do Evangelho nos diz e nos ensina sobre Deus? Sem dúvida,  já  entendemos  que  Deus é um Pai imensamente bom, que nos faz querer correr para Ele e abraçá-Lo. Ele é um Pai que nunca olha para o lado negativo do filho, mas que confia na sua  capacidade  de realizar o bem. Ele é um Pai que não julga, que não condena, mas que espera pacientemente que nós, seus filhos, corramos para seus braços misericordiosos. Ter  um Pai assim  é realmente uma graça imensa. É seu amor infinito que de repente destrói todos os nossos falsos ídolos, todas as nossas ideias loucas de Deus. Como podemos, de fato, ter medo de  um Deus assim ? Quem colocou em nossas cabeças que deveríamos ter medo Dele? É lindo e fantástico poder contar com um Deus  assim   , que sempre nos espera, que perdoa pacientemente todos os nossos pecados, que não se escandaliza com os nossos pecados, que envolve as nossas sombras com a sua luz, que cobre o nosso egoísmo com o seu imenso amor. Então, vamos nos ajoelhar e orar. Vamos cair de joelhos e chorar por nossa  estupidez . Vamos cair de joelhos e agradecer ao Pai por seu imenso amor por nós. Joguemo-nos de joelhos pedindo ao Pai  com humildade que nunca mais  nos abandone  .



DOMINGO III QUARESMA/C

 




(Is 3:1-8, 13-15; Sl 103; 1 Co 10:1-6, 10, 12; Lc 13:1-9)




Paolo Cugini


1. A Quaresma se apresenta como um caminho espiritual que deve ser percorrido em todas as suas etapas, se se deseja atingir o objetivo que é a celebração da Páscoa do Senhor.

A Páscoa para a qual caminhamos, que é celebração da passagem de Jesus deste mundo para o Pai (Jo 13,1), passagem que aconteceu na obediência ao Pai e na sua morte na cruz, revela também o sentido do nosso caminho que estamos a fazer com a Igreja. Se quisermos passar com Jesus e como Ele deste mundo para o Pai, devemos respeitar as indicações que a liturgia da Palavra nos oferece. Na primeira semana, a liturgia nos ajudou a enfrentar a realidade da nossa fragilidade, para não nos fecharmos em nosso egoísmo, mas nos abrirmos ao ensinamento de Jesus. No último domingo, o Evangelho nos mostrou que a confiança em Jesus é bem colocada, dado que Ele não é apenas um homem, mas nele é o próprio Deus que se manifesta. O mistério da Transfiguração do Senhor, além de nos revelar a grandeza da sua identidade, mostrou-nos também o sentido da nossa dignidade de filhos de Deus, que só podemos redescobrir confiando-nos a Ele. E é por isso que a liturgia da Palavra de hoje, no meio do caminho, em que já não podemos voltar atrás e, ao mesmo tempo, ainda lutamos para ver o destino final, clama-nos a plenos pulmões: Despertai! Se desejamos ardentemente levar a nossa humanidade deste mundo ao Pai, não basta saber quem é Jesus, mas é preciso clamar a Ele todas as nossas necessidades, sacudir a preguiça dos nossos hábitos e correr ao encontro de Jesus, mostrando-lhe o nosso desejo de mudar de vida.

 E aqui reside o problema central: já nos sentimos salvos? Para além da consciência barata da nossa fraqueza humana, que nunca parece se levantar e por isso precisa continuamente deitar-se nas confortáveis poltronas dos nossos vícios e caprichos, queremos realmente mudar de vida? Queremos realmente nos levantar? Queremos realmente uma vida mais digna? Queremos realmente quebrar nossas máscaras hipócritas de uma vez por todas para sermos mais autênticos? Por onde começar?


2. “ Se não vos arrependerdes, todos vós também morrereis” (Lc 13,3).

O primeiro passo no caminho para adquirir nossa dignidade de filhos e filhas de Deus é crer na Palavra de Deus. Foi o que ouvimos no último domingo no Evangelho: “ Este é meu Filho; escutai  o que  ele diz ” (Lc 9,35). Ouvir a Palavra de Deus com o coração cheio de fé significa crer que ela é a única Palavra capaz de mudar o nosso coração, de penetrar na nossa alma de modo a curar profundamente os nossos erros pela raiz. Jesus é   a única Palavra que  pode  converter nosso caminho errado. É por isso que tenho que ouvi-lo. Pelo contrário, nossa religião sem palavras nos deixa na superfície, na confusão de palavras e tradições mundanas (o que aconteceu com nossos festivais!?). É essa ausência da Palavra em nossa vida religiosa que nos leva a nos sentirmos bem no mundo, a justificar tudo, deixando nossas almas vazias, porque é somente a Palavra de Jesus que enche a vida de sentido. Quando entendemos esse fato básico? Se não tivemos a humildade e a paciência de dedicar tempo à Palavra desde a infância e a juventude, vivendo esta experiência de fé de forma positiva, sem dúvida a sentiremos quando o vazio da vida nos apertar o estômago. “ Todos vocês morrerão da mesma maneira” significa exatamente isso. Jesus sabe muito bem que as pessoas superficiais, além  das aparências  , sentem em si a presença ameaçadora e devastadora da morte. Uma morte percebida não como uma passagem, mas como a destruição e o fim de uma vida vazia e inútil. Mudar de vida, converter-se, significa levar a Palavra de Deus a sério, ouvi-la, meditar nela, deixar que ela penetre em nossa alma, deixar que ela nos faça sentir mal, deixar que ela nos diga a  verdade  sobre nós mesmos, o que nem sempre é algo agradável de ouvir. A Palavra de Deus não é uma brincadeira, não é uma  brincadeira  para ser ouvida confortavelmente numa poltrona. A Palavra de Deus é a Cruz, é o sofrimento do Justo inocente, é a verdadeira história do Cordeiro sacrificado por nós. Beber este cálice amargo  pode  salvar nossas vidas da morte eterna. Vale então a pena sentir-se mal, deixando que a Palavra penetre (Jo 8,40ss) em nós para nos mostrar os nossos erros e nos oferecer a possibilidade de sair deles. Fé em Deus é crer que somente a Sua Palavra tem o poder (Rm 1,16) de ler dentro de nós de tal forma que nos ofereça ao mesmo tempo o caminho para sair da morte. Então por que você não sai do sofá agora mesmo, se ajoelha e medita na Palavra?


3. “ Senhor, deixa a figueira também este ano.  Eu cavarei  ao redor dela e  colocarei  estrume sobre ela.  Talvez ela dê  frutos  mais tarde  ” (Lc 13:8-9).

Obrigado Senhor por este versículo! Agradecemos a Ele porque Ele nos revela toda a Sua misericórdia. Deus Pai, de fato, não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva! Por isso, Ele ainda nos oferece tempo, Ele ainda nos dá um período para voltar atrás, para sacudir nossa vida equivocada, nossa religião sem Palavra, nossas palavras vazias de sentido, nossas escolhas desprovidas de amor, nossa casa mal construída na areia da nossa estupidez e presunção. Ainda nos dá um clima favorável, o que significa parar o trem de ilusões e decolar. “ Hoje a salvação entrou nesta casa ” (Lc 18). Deus Pai enviou seu Filho que veio viver entre nós para falar conosco, nos abraçar e nos dar seu beijo santo, mas nós não estamos lá, nunca estamos em casa, estamos sempre fora (em todos os sentidos!). O tempo da Quaresma é um tempo propício para parar, para deixar de projetar a nossa vida num futuro improvável, para colocar os pés no chão, na realidade. Ao pararmos com nossos sonhos, com nossas ilusões, para viver o presente da vida, talvez tenhamos a oportunidade de nos deixar envolver pela misericórdia do Pai e parar de fugir de nós mesmos.


4. Estamos no meio do tempo da Quaresma, assim como Moisés estava no meio de sua vida quando Deus se revelou a ele na sarça ardente (Êxodo 3,1ss: primeira leitura de hoje). Assim como Moisés, nós também queremos nos aproximar para ver qual é esse mistério. Estamos ao redor da mesa eucarística porque somos atraídos pelo amor do Pai, que em Cristo nos convida a entrar em sua comunhão. Deixemo-nos converter pelo Senhor! Aceitemos o Seu convite e entremos em comunhão com Ele: agora. Paremos de antecipar o momento da nossa mudança, como se fosse possível fixar uma data para isso, porque hoje é o tempo da nossa salvação. E assim, uma vez que Deus estabeleceu um novo “hoje” para a nossa salvação (cf. Hb 4,1ss), não endureçamos os nossos corações, não resistamos ao amor de Deus que nos quer, deseja visitar-nos agora, e não amanhã. Ele está ali batendo à porta da nossa alma (cf. Ap 3): abramo-la depressa para que Ele entre e se sente à mesa conosco, tirando-nos assim da nossa solidão.


sabato 8 marzo 2025

SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA C

 

 



Lc 9,28b-36

 

Paolo Cugini

 



 

O caminho quaresmal que começou na semana passada nos colocou imediatamente no caminho da humanização de nossas vidas, mostrando claramente que a vida de fé não se limita ao culto, mas nos leva ao contato com nossos irmãos e irmãs. É uma nova mentalidade que Jesus nos apresenta e que propõe aos seus discípulos, um estilo de vida que envolve todos os aspectos da existência humana.

Deus levou Abrão para fora e disse-lhe: “Olhe agora para o céu e conte as estrelas, se você for capaz de contá-las.” E Deus lhe disse: “Assim será a sua descendência.” Ele creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça (Gn 15:5s).

      Antes de ser uma experiência de interiorização, de fechamento em si mesmo, o caminho da fé nos faz sair de nós mesmos. Deus conduz Abraão para fora: este é o primeiro passo da jornada. Sair das nossas certezas, dos nossos lugares onde temos controle sobre tudo: só assim podemos estar abertos à novidade do relacionamento com Deus e às Suas necessidades. São as situações de precariedade, de insegurança que provocam um pedido de ajuda e, ao mesmo tempo, uma vontade interna de escuta. Uma vez fora, Abraão é instado a olhar para cima e contar as estrelas. É o contato com a realidade. A aliança com Deus ocorre no plano da realidade, em contato com a concretude da vida. Uma realidade vista com novos olhos, pronta para a surpresa, para a novidade e não lida com conhecimento prévio.

 Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte para orar (Lc 9,28).

      Jesus faz a mesma coisa com seus discípulos: tira-os do seu contexto habitual, faz-os subir ao monte. Jesus se mostra na oração, em um novo relacionamento com Deus, não filtrado por ritos ou mitos, mas em um relacionamento pessoal, profundo e contínuo. Nessa relação o rosto de Jesus se transforma. O rosto indica a identidade da pessoa, seu ser. A verdade da oração, do relacionamento autêntico com Deus, se manifesta no rosto, na identidade pessoal, no modo de vida, no estilo. Moisés e Elias, ou seja, o Antigo Testamento, também entram em cena nessa nova relação. É um diálogo que revela a continuidade e, ao mesmo tempo, a novidade de Jesus, que leva à plena realização a Aliança entre Deus e a humanidade. Os apóstolos, que testemunham a cena, estão cansados e confusos. O mistério da identidade de Jesus, de fato, só será compreensível na perspectiva da ressurreição, isto é, da vida plena e definitiva. É nesse evento que ficará claro que o amor é a essência da vida e é indestrutível.

Porque a nossa cidadania está nos céus, de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará os nossos corpos de humilhação, para serem conformes ao seu corpo glorioso, pelo seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas (Fp 3).

Paulo entende que a jornada que Jesus fez, deste mundo ao Pai, não é exclusiva, não diz respeito somente a Ele, mas Ele a fez por todos. Jesus mostrou o caminho que nos permite viver uma vida autêntica que nem mesmo a morte pode minar: é o caminho do amor livre e altruísta, o caminho da busca da justiça e da solidariedade com os irmãos mais pobres. A luz do Ressuscitado transfigurará os corpos daqueles que o buscam e vivem como ele. 


PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA/C

 





Lc 4,1-11

Paolo Cugini


O primeiro domingo da Quaresma, em todos os três ciclos litúrgicos, começa com a página das tentações de Jesus. Para compreender a profundidade da mensagem contida nesta narrativa, devemos tentar contextualizá-la. O que significa, então, ler esta página em um contexto pós-cristão? Como o paradigma pós-teísta pode nos ajudar a compreender novos conteúdos? Há toda uma leitura religiosa e devocional que há séculos orienta a interpretação desta página, destacando os aspectos penitenciais e sacrificiais, como se a penitência e o sacrifício fossem instrumentos indispensáveis para ganhar a vida eterna. Na realidade, a experiência humana de Jesus narrada nesta página está esvaziada de qualquer elemento religioso. Os eventos, de fato, não acontecem em uma sinagoga, em um espaço sagrado, mas no deserto, que poderíamos definir como um não-espaço, no sentido de que não se identifica com nenhum espaço em particular. O que Jesus vivencia no deserto é uma antecipação do que ele vivenciará durante sua vida pública. Jesus é um homem que nunca foi atraído por desejos de glória humana, de poder. Jesus é um homem cuja liberdade lhe permitiu não ficar preso à força dos seus instintos, que sempre soube direcionar para o objetivo que havia estabelecido. 

Esta é, em essência, a proposta que emerge da página das tentações e que nos é dirigida no início da Quaresma, que é um caminho para apreender com maior consciência o mistério da vida plena, que se manifestou nas escolhas de Jesus. É possível viver a própria humanidade de forma livre e plena, sem se deixar atrair por aquelas propostas que, a longo prazo, causariam escravidão interna e externa. Existe a possibilidade de uma vida plena, realizada no dom livre e gratuito de si mesmo, uma vida boa e justa que se tornou visível na vida de Jesus e, por isso, ao alcance de todos. 

O problema, neste ponto, é conseguir compreender o método que permitiu a Jesus viver dessa forma livre e plenamente realizada no amor e na justiça. Na página em questão há algumas indicações que podem nos ajudar. Jesus permaneceu “no deserto durante quarenta dias”: este é o primeiro fato. Para poder viver livremente, você precisa dedicar muito tempo ao seu eu interior; para usar as palavras de Sócrates, você precisa cuidar da sua alma. Esta é uma tarefa que está ao alcance de todos e não é específica dos religiosos: todos nós temos uma dimensão interior. O fato de essa experiência ocorrer no deserto é outro fato importante, porque nos diz, como afirmei acima, que ela não ocorre em um contexto religioso. “Ele não comia nada naquela época.” Esta não é uma indicação penitencial, mas existencial. Qualquer pessoa que tenha dedicado longos períodos à meditação e à cura interior sabe muito bem que uma vida sóbria e a atenção para não exagerar na comida auxiliam no caminho espiritual de contato com a própria consciência. “Tentado pelo diabo”: podemos traduzir esta expressão com a percepção que a força dos instintos exerce sobre nós, principalmente quando estamos imersos nas preocupações cotidianas, dando pouca atenção à nossa vida interior e, portanto, mais vulneráveis no plano existencial. 

Há uma possibilidade de vida autêntica que nos é oferecida no início do caminho quaresmal. Para entrar neste caminho, devemos libertar-nos das incrustações religiosas que, ao longo dos séculos, identificaram a Quaresma com ações penitenciais, perdendo o verdadeiro horizonte da Quaresma, que é a humanidade de Jesus, a sua liberdade, a sua vida de amor livre e desinteressado. Dedicar tempo a esta mensagem, assimilar diariamente as páginas propostas do Evangelho, significa cultivar o desejo de ser pessoas novas, mais autênticas, como Jesus. O mundo precisa de pessoas assim mais do que nunca. Aproveitemos, então, o tempo da Quaresma para sacudir o pó da religião e vestir a veste nova do Evangelho de Jesus.


sabato 1 marzo 2025

VIII DOMINGO TEMPO COMUM/ C


 


Lucas 6,39-45


Paolo Cugini


A vida de fé não se esgota na relação com Deus, na dimensão transcendente, mas a verdade da autenticidade da relação com Deus incide na relação com os irmãos. É pela forma como nos relacionamos com nossos irmãos e irmãs que entendemos de onde viemos, qual caminho existencial e espiritual estamos percorrendo, qual caminho estamos realizando. Este me parece ser o quadro introdutório mais adequado para nos permitir entrar no conteúdo das leituras de hoje.

Um discípulo não é maior que o mestre; mas todo aquele que for bem treinado será como seu mestre.

 O sentido da jornada de fé é nos tornarmos mestres, isto é, assumir a responsabilidade pelas pessoas que nos foram confiadas. Tornamo-nos adultos quando assumimos a responsabilidade concreta de acompanhar as pessoas que nos são confiadas, tanto na vida familiar como na social. Somos chamados a ser pais, mães e isso exige um caminho feito por etapas, uma assimilação de conteúdos que não se transmitem com palavras, mas com o exemplo. Só podemos ser pais, mães, professores se tivermos diante de nós alguém que nos guie neste caminho, que nos tome pela mão, que esteja atento ao nosso crescimento, que respeite a nossa liberdade.

 Por que você vê o cisco no olho do seu irmão, mas não percebe a trave que está no seu próprio olho?

Nós nos tornamos pais e mães se durante a adolescência e a juventude encontramos alguém que nos ajuda a tirar a trave dos nossos olhos, que nos ajuda a melhorar, a fazer uma viagem dentro de nós mesmos, a aprender a verificar a nós mesmos, as nossas atitudes, antes de ir em direção ao outro.

Não há árvore boa que produza frutos ruins, nem há árvore ruim que produza frutos bons .

Trata-se de entender que tipo de pessoas queremos ser. Na adolescência e na juventude temos tempo para moldar nossa existência, assimilar conteúdos, discernir, escolher o bem e descartar os caminhos do mal. Nós somos aqueles que podemos direcionar nossa existência para melhor ou para pior; nós que podemos decidir qual caminho tomar, porque a realidade, o fato é que cedo ou tarde as escolhas que fizemos vão surgir, não poderemos mais nos esconder.

Os vasos do oleiro são testados pela fornalha,

então o caminho do raciocínio é o campo de testes para o homem.

O fruto mostra como a árvore é cultivada,

assim a palavra revela os pensamentos do coração.

Estas palavras do livro de Sirácida, retomadas e exploradas no Evangelho, dizem exatamente o que foi dito acima. Chegará o dia em que entenderemos quem somos e de onde viemos. Nossas palavras, nossa maneira de raciocinar, revelam de onde viemos, que caminho tomamos, que decisões tomamos em nossas vidas. O fruto revela a árvore. Um bom homem tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Cuidar do coração, ou seja, da consciência: isso é uma indicação do método. Todo o tempo dedicado à interioridade, ao trabalho das motivações, não é tempo perdido, mas bem aproveitado, porque nos permite construir a árvore da nossa vida de modo a dar bons frutos


mercoledì 26 febbraio 2025

LUCAS 4

 





As tentações 

Jesus, cheio do Espírito Santo, está depois do batismo, o Espírito desceu sobre Jesus depois do batismo que converteu Jesus na manifestação visível do perdão e do amor de Deus. Ele se afastou de Jordão e foi conduzido (literalmente “conduzido”) pelo Espírito ao deserto. O deserto lembra o êxodo de Israel, quando da escravidão egípcia iniciou a jornada para entrar na terra prometida. Agora a terra a promessa se transformou em uma terra de escravidão da qual Jesus deve libertar. A instituição religiosa, para os seus próprios interesses, para a sua própria conveniência, tomou posse de Deus e Jesus deve para libertar o povo de suas garras. Por quarenta dias. 

Os números nos evangelhos e na Bíblia não vão nunca interpretado de forma aritmética, matemática, mas sempre figurativamente. O número quarenta indica uma geração. O evangelista quer dizer-nos: o que agora vos apresento não diz respeito a uma só período da vida de Jesus, mas toda a sua existência. 

Tentado pelo diabo. Aqui o correto é traduzir assim. Mas para nós “tentação” sempre significa algo que induz alguém a fazer o mal. Nada disso. O diabo não se apresenta como rival de Jesus, mas como seu colaborador. Então, em vez de tentações, poderíamos falar sobre seduções do diabo no deserto. 

Ele não comeu nada durante aqueles dias. Não é um jejum. O evangelista evita a palavra jejum, porque a fome Jesus tinha uma fome diferente. Mais tarde, Jesus dirá: “Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com você". Mas quando terminaram, ele estava com fome. Mas não é fome de pão. Aqui está agora apresentado diabo. 

Quem é o diabo? Enquanto Deus é amor que se põe ao serviço dos homens, o demônio é poder que domina as pessoas.

Então o diabo lhe disse: “Se tu és o Filho de Deus?” Não se trata de um questionamento da filiação divina, que já havia sido afirmado no batismo, mas significa "já que você é filho de Deus, use suas habilidades a seu favor vantagem própria”. “Diga a esta pedra que se transforme em pão.Então use a sua própria capacidadea seu favor .

Jesus respondeu-lhe: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem’”. É uma citação do livro de Deuteronômio. Vemos que a disputa entre Jesus e o diabo parece ser uma disputa teológica entre escribas ou rabinos. O evangelista de fato constrói isso dessa maneira.

O diabo o levou para cima – para cima indica a condição divina – e lhe mostrou num instante todos os reinos do terra e disse-lhe: "Eu te darei toda esta autoridade e a sua glória, porque me foram entregues, e eu as dou a quem quer que seja. Eu quero." Esta afirmação que Lucas atribui ao diabo é terrível. Não é Deus, mas o diabo que confere poder e riqueza. Portanto, aqueles que detêm poder e riqueza não os recebem de Deus, mas a deles é uma atividade diabólica porque a recebem do diabo.

Esta é uma queixa muito séria e típica do evangelista Lucas. “Portanto, se vocês se prostrarem diante de mim em adoração, tudo será seu.” Então ele convida a um ato de idolatria, mas Jesus também desta vez, citando sempre o Deuteronômio, respondeu-lhe: «Está escrito: “O Senhor, teu Deus, você adorará: somente a ele você servirá.” É a incompatibilidade entre Deus e o poder, entre o amor e o serviço. Então Jesus rejeita categoricamente a proposta do diabo, essa idolatria do poder. 

Ele o levou para Jerusalém, então o diabo parece familiarizado com os lugares sagrados e a Bíblia. Ele colocou isso no ponto mais alto do templo… por que ele o colocou lá? Porque havia uma tradição religiosa que dizia que o Messias ninguém sabia quem ele era. De repente, durante a Festa dos Tabernáculos, ele teria se manifestado no local mais alto que o templo. Então o diabo o convida a se manifestar acrescentando um sinal espetacular.

E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus... Notamos que na primeira e terceira sedução, tentação, o diabo ele diz "já que você é o Filho de Deus", para o do meio, o do poder e do dinheiro, ele não precisava perturbar a condição divina, porque é uma tentação à qual todos os homens sucumbem, que da corrupção e do poder, do dinheiro. Mas aqui novamente "se você é o Filho de Deus", isto é "Visto que tu és o Filho de Deus." “Jogue-se daqui para baixo”, isto é, faça um sinal espetacular. E o diabo parece bastante conhecedor do sagrado escrita, porque, como Jesus rebateu citando frases do livro de Deuteronômio, eis que o diabo responde a Jesus citando o Salmo 91. “Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos sobre vocês. olhai para que vos guardem”; vamos ver como o diabo é perito, assim nos diz o evangelista aqui entender que são as disputas teológicas que Jesus teve com os rabinos, os escribas, que são a verdadeiros instrumentos do diabo. “E também: “Eles te sustentarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra.”. Jesus respondeu-lhe: “Está dito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”. Novamente do livro de Deuteronômio. Jesus afirma sua plena confiança na ação do Pai sem precisar provocá-lo para isso para provocar uma ação.

Depois de esgotadas todas as tentações… o verbo “tentar” aparecerá novamente pela ação dos médicos da lei. Eis quem são os demônios, esses defensores da doutrina, na realidade o evangelista os denuncia como instrumentos do diabo. O diabo se retirou dele até um tempo determinado. O que poderia ser esse momento fixo? A partir dos dados que temos no Evangelho o momento fixo é o momento da cruz, um momento tremendo, dramático, do fim de Jesus, quando os líderes do povo dirão a Jesus: "Se ele é o Cristo, salve-se a si mesmo", portanto que use suas habilidades para se salvar.

Mas Jesus, tudo o que ele era, toda a sua força, toda a sua energia, todas as suas habilidades, nunca as entregou usado para o interesse próprio, mas sempre para o interesse dos outros. Não para sua própria conveniência, mas para a conveniência dos homens; ele não pensava na sua vida, mas na vida dos outros. Aqui está então a diferença que surge entre Deus e o diabo: Deus é amor que se coloca a serviço e coloca em primeiro lugar o interesse do outro. em primeiro lugar, o diabo é um poder que domina e só pensa na sua própria conveniência


Jesus na sinagoga

Jesus voltou para a Galileia, a Galileia era a região desprezada, lembramos no Evangelho de João, com que desprezo se dirige a esta região quando os fariseus, os sumos sacerdotes, dizem: “Não se levanta profeta da Galileia”, portanto uma região ignorada por Deus. Com o poder do Espírito e sua fama espalhada por toda a região. Ele ensinou em suas sinagogas e eles o louvaram. O evangelista nunca diz que Jesus foi à sinagoga para adorar, Jesus vai às sinagogas para ensinar sua mensagem, livre dos ensinamentos que os escribas transmitiam bem nas sinagogas. E é claro que isso não poderia deixar de causar acidentes. A primeira de quatro vezes que Jesus entra em uma sinagoga e está sempre em situação de conflito. Ele chegou a Nazaré, onde estava quando já era grande, entrou, segundo o seu costume, na sinagoga no dia de sábado, e levantou-se para ler. Na liturgia na sinagoga havia – como na nossa – um ciclo de leituras de três anos. Começou com um salmo, o Salmo 92, depois houve a leitura de passagens da Lei, do livro do Deuteronômio, e depois terminou com o que foi a leitura da saudação, a leitura de um profeta.

Então Jesus se levantou para ler, e foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías — naquele sábado era a sua vez de ler. este profeta, mas Jesus aqui comete uma primeira transgressão. O evangelista escreve: ele abriu o livro e encontrou (é traduzido como “ele encontrou”, mas o verbo correto é “ele procurou”). O verbo grego é eurisko, de onde vem a famosa exclamação de Arquimedes que todos nós conhecemos, Eureka! O que isso significa? Eu encontrei. Mas encontrei o que procurava. Então Jesus não concorda com o que a liturgia lhe diz. aparece naquele dia, mas vai à procura de uma pessoa específica. E o que é isso? É a passagem da consagração do Messias, capítulo 61 do profeta Isaías. 

“O Espírito do O Senhor está acima de mim” Na liturgia judaica os textos eram lidos na língua sagrada, o hebraico, mas desde então o povo não entendia mais essa língua sagrada, havia um tradutor que, a cada verso, ele traduziu a passagem. O Espírito do Senhor está sobre mim; para isso me ungiu; aqui está “unção”, em Messias hebraico, do qual vem messias, portanto consagrado com a unção de Deus. E ele me enviou para levar as boas novas aos pobres. Quais são as boas novas que os pobres aguardam? O fim da pobreza. E este será o objetivo de Jesus, criar uma sociedade alternativa onde as pessoas, em vez de acumular para si mesmos, compartilhar com os outros.

Para proclamar libertação aos cativos e recuperação da vista aos cegos; os cegos eram os prisioneiros que viviam em cavernas subterrâneas. Para pôr em liberdade os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor, o ano da graça é o jubileu, o da libertação de todos os habitantes do país. E Jesus interrompe o a leitura não pôde ser interrompida, pois o verso continuava com o que era a expectativa do povo: o dia da vingança do nosso Deus. É isso que as pessoas esperam. Jesus não concorda com Isaías. Da parte de Deus só existe uma palavra de amor, de graça, mas não de vingança. A tensão está no auge.

O evangelista escreve: Ele enrolou o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se. Então a leitura acabou. Na sinagoga, os olhos de todos, por isso há grande tensão, estavam fixos nele. Bem Jesus Começa com o que mais tarde causará uma explosão de raiva. Eles tentarão matá-lo. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura que acabais de ouvir. E o evangelista acrescenta “com os ouvidos”. Por quê? Preparar a recusa, com a citação do profeta Ezequiel, que diz: Filho do Homem, você vive no meio de uma geração rebelde que tem olhos para ver. e não veem, e têm ouvidos para ouvir, e não ouvem; porque são casa rebelde. Prepare a recusa que veremos no próximo episódio.


sabato 22 febbraio 2025

DOMINGO VII DO TEMPO COMUM/C






(1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23; Sl 102; 1Cor 15,45-49; Lc 6,27-38)



Paolo Cugini


O Sermão da Montanha continua no Evangelho de hoje segundo Lucas. Estamos no coração do Evangelho, especificamente da proposta de Jesus, que vai contra a lógica instintiva que orienta a vida humana. Existe um instinto que nos leva a nos defender, a recorrer à violência, a buscar nossos próprios interesses. Pois bem, Jesus, com a sua humanidade, com o seu estilo de vida, veio mostrar-nos um caminho diferente, um caminho no qual somos chamados a viver exclusivamente a misericórdia, a procurar em cada pensamento e em cada ação o caminho do bem, do amor.

Mas a vós que ouvis, digo: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, orai pelos que vos maltratam. 

Jesus convida os seus discípulos e, portanto, também a nós, a quebrar a lógica do instinto, a pensar como Deus pensa, a ver o mundo, as pessoas como Deus as vê e como Ele mesmo as viu, isto é, como algo que deve ser embelezado com amor. Aprenda a dominar a si mesmo, seus instintos que respondem ao instinto de sobrevivência que tudo submete à força do egoísmo, com o Espírito do Senhor, que é a mansidão, o desejo do bem-estar do outro. Nós trazemos amor e paz se tivermos essa paz em nossos corações, se estivermos cheios do amor do Senhor. Se seguimos caminhos que tornaram nossos corações duros e estéreis, então somos levados a transferir nossas deficiências, nosso vazio, para os outros. Jesus, porém, com o coração cheio do amor do Pai, não procura fazer mal a ninguém, nem mesmo àqueles que o ofendem ou odeiam, porque sabe ver o seu coração ferido e quer curá-lo com amor. O caminho proposto por Jesus é um caminho de humanização, porque nos ensina a cuidar de nós mesmos, a não nos ferir com as próprias mãos e a buscar vingança contra os outros. Se quisermos nos sentir bem conosco mesmos, precisamos aprender a cuidar da nossa alma, enchê-la do amor do Senhor, passando tempo com Ele, lendo e meditando na Sua Palavra, passando horas pensando Nele, contemplando o Seu rosto. É assim que, saindo pelo mundo, encontrando os nossos irmãos, seremos tomados pelo desejo de transmitir também a eles o amor que experimentamos, a paz que o amor do Senhor deposita nos nossos corações.

E como vocês gostariam que os homens fizessem a vocês, façam a eles também. 

Jesus transforma todo tipo de lógica, porque sua atenção está sempre voltada para os irmãos. E por isso Jesus não diz: “ não façais aos outros o que não quereis que os homens vos façam ”, mas fazei aos outros o que quereis que os homens vos façam. Parece um jogo de palavras, mas não é um jogo de palavras, mas uma maneira diferente de pensar, de ver a realidade, de interagir com as pessoas. Jesus transforma o caminho negativo, que esconde uma passividade culpada em relação aos outros, em um caminho que nos leva aos outros de forma positiva e ativa.

Se você ama aqueles que o amam, que crédito isso lhe dá? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fizerdes o bem àqueles que vos fazem o bem, que mérito tereis? Até os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores para receber o mesmo valor de volta.

 Jesus julga negativamente um modo de fazer o bem, um modo de amar fechado em si mesmo, que busca o próprio ganho. São gestos que vêm do egoísmo, de um coração cheio só de si e um coração assim só pode gerar dependências, escravidão, violência. Jesus nos pede para olhar para dentro de nós mesmos, para ir além, para avaliar cada ação e cada atitude, mesmo aquelas que podem parecer aparentemente positivas, para avaliar suas intenções. No final das contas, Jesus está nos dizendo que nem todas as boas ações são realmente boas. De fato, aquelas ações feitas de forma gratuita e altruísta são dignas de louvor. Esse tipo de bondade, uma caridade que não pede nada em troca, mas simplesmente ama, só pode vir de um coração cheio do amor de Deus, que busca somente o olhar de Deus e, consequentemente, não precisa da aprovação dos outros para subsistir. É por isso que Jesus diz: Amai, pois, os vossos inimigos, fazei o bem sem esperar nada em troca, e a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque ele é benigno até para com os ingratos e maus. Tudo o que vem de Deus gera liberdade e paz, tudo o que vem do egoísmo humano produz dependência, escravidão e desconforto. O gesto parece o mesmo, mas a intenção por trás dele cria caminhos diferentes. É por isso que nos reunimos todos os domingos ao redor do altar, para nos alimentarmos do amor do Senhor e assim irmos ao encontro das pessoas que encontramos com o único desejo de levar-lhes o amor do Senhor, sem esperar nada em troca. 


mercoledì 19 febbraio 2025

ESTUDO BIBLICO LUCAS 3

 



Paolo Cugini

O capítulo 3 de Lucas começa com um cenário deliberadamente suntuoso, poderíamos dizer redundante. Vamos ouvir. No décimo quinto ano do reinado de Tibério César. Tibério sucedeu a Augusto em agosto de 14 d.C., então começa com o mais alto representante do poder, um imperador que não era apenas imperador, mas se considerava o Filho de Deus, portanto o pináculo mais alto.

Enquanto Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, este é filho de Herodes, o Grande, isto é, Herodes Antipas, tetrarca da Galileia, e Filipe, seu irmão, tetrarca da Itureia e Traconites, e então o evangelista também vai encontrar um certo Lisânias, um príncipe semi-desconhecido, tetrarca de Abilene, sob os sumos sacerdotes Anás e Caifás. Mas o sumo sacerdote era um. O evangelista acrescenta uma, e veremos por quê.

Por que o evangelista começa com esse cenário? Mostra os sete grandes da terra. E por isso ele acrescentou dois sumos sacerdotes em vez de um, para chegar ao número sete, que indica a totalidade. Poderíamos dizer em linguagem corrente que o evangelista apresenta o G7, os sete grandes da terra. Então, desde o imperador que acredita e se apresenta como filho de Deus, até os sumos sacerdotes que são os representantes de Deus.

E o evangelista cria suspense. A palavra de Deus veio... Quando lemos o evangelho, para apreciá-lo, devemos nos colocar no lugar dos primeiros ouvintes ou leitores que não conheciam o resto. O evangelista apresentou os grandes da terra, desde o imperador filho de Deus, até os sumos sacerdotes, representantes de Deus, e a palavra de Deus sobre quem ela descerá? Ela cairá sobre o imperador, cairá sobre os sumos sacerdotes? Mas aqui está a novidade trazida pelo evangelista: 

quando Deus deve intervir na história, ele evita cuidadosamente os lugares sagrados e as pessoas religiosas, ou os palácios do poder, porque sabe que estes são refratários e hostis a qualquer mudança.

E aqui está a surpresa: a palavra de Deus veio a João, filho de Zacarias, no deserto.

Por que no deserto? Por que João, filho do sacerdote Zacarias, não é sacerdote como seu pai e não está no templo, o lugar sagrado por excelência? João, não, não escolheu o sacerdócio como seu pai – e ainda assim teve que fazê-lo como filho do sacerdote Zacarias – mas ele permanece no deserto.

E é no deserto, longe de Jerusalém e do templo, que começa o que poderíamos definir como a desclericalização do povo por Deus. Sua palavra desce ali, portanto fora de qualquer ambiente sagrado, de qualquer ambiente religioso.

Ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo – o batismo era uma imersão em água – de arrependimento para o perdão dos pecados. O termo grego usado pelo evangelista para indicar “conversão” significa “mudar de ideia, mudar uma maneira de ver”, ou seja, se até agora você pensou por si mesmo, pense agora pelos outros.

Agora entendemos por que uma mensagem de mudança não foi dirigida aos sacerdotes, escribas e religiosos. Na verdade, não poderia ter sido dirigido à casta sacerdotal, que tem medo de qualquer coisa nova. No mundo religioso, reina o imperativo “sempre foi feito assim”, então qualquer proposta de mudança é vista como um ataque à segurança de alguém.

Bem, João prega o batismo como sinal de mudança de vida, para o perdão dos pecados. O desafio que João enfrenta é tremendo. O perdão dos pecados era obtido indo a Jerusalém, ao templo, através de um rito religioso. Não, Deus não age na adoração, mas na vida. O perdão dos pecados ocorre pela mudança da existência, pela mudança da vida. Em vez de viver para si mesmo, para seus próprios interesses, para suas próprias necessidades egoístas, esteja atento às necessidades e exigências dos outros. Essa atitude apaga o passado pecaminoso.

Como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías, e o evangelista cita a segunda parte do profeta Isaías, onde é descrito o êxodo da Babilônia para Jerusalém, há um novo êxodo, uma libertação do cativeiro de uma instituição religiosa, que fez das pessoas escravas. E, citando Isaías, o evangelista escreve: 

“Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai os seus caminhos! Todo vale será aterrado, e toda montanha e colina serão rebaixadas; os caminhos tortuosos se tornarão retos e os acidentados, suaves.” Então, trata-se de preparar o caminho para o Senhor, e então o evangelista muda o final. “Toda a carne verá a salvação de Deus”, o texto de Isaías fala da “glória do Senhor”.

Por que essa mudança? Porque a glória do Senhor se manifesta a todos os homens na sua salvação, ao propor-lhes uma mensagem de plenitude de vida. E é importante especificar que esta salvação é para todos os homens, sem exceção. Isso é típico da teologia de Lucas: o amor de Deus por toda a humanidade, um amor do qual ninguém pode se sentir excluído. Como Pedro formulará tão bem nos Atos dos Apóstolos: “Porque o Senhor me mostrou que nenhum homem pode ser considerado impuro”.

Não há pessoa no mundo que, por sua condição e sua situação, possa se sentir excluída do amor de Deus. É com esse cenário grandioso que começa a pregação de João Batista, anunciando a vinda de Jesus.

João Batista no deserto havia anunciado um batismo como sinal de conversão, isto é, de mudança. da vida, para o perdão dos pecados. A resposta é inesperada: todas as pessoas se aglomeram em volta dele. As pessoas têm entendido que o perdão dos pecados não pode ter lugar no templo, com um ato litúrgico, com um sacrifício ao Senhor, mas através de uma mudança de vida. Mas se o povo acreditou e correu para João Batista, as autoridades religiosas, os líderes, não o fizeram, sempre refratários. a qualquer apelo por mudança. 

Porque o povo estava e todos se perguntavam em seus corações se João não seria o Cristo, isto é, o Messias.

O povo acredita ter identificado neste profeta do deserto o esperado libertador de Israel. Mas João imediatamente deixa claro que não é. João respondeu a todos: “Eu vos batizo com água”, isto é, eu te mergulho em um líquido que é externo ao homem, o que é um sinal de uma mudança de vida para obter o perdão dos pecados. “Mas aquele que é mais poderoso do que eu está chegando”, e aqui o evangelista usa uma expressão que deve ser colocada no contexto cultural da época entenda isso. “Não sou digno de desatar as correias das suas sandálias.”

O que João Batista quer dizer com essa expressão? Havia uma lei na instituição do casamento da época, que era chamada de "do levirato". Em que consistia essa lei? Quando uma mulher permaneceu viúva sem filhos, seu cunhado tinha a obrigação de engravidá-la. A criança nascida carregaria o nome do marido falecido. Era a maneira de perpetuar o nome da pessoa. Quando o cunhado se recusava a engravidar esta mulher provavelmente por razões de interesse porque a mulher sem filhos, sem descendência, era enviada de volta ao seu clã familiar. Aquele que na escala social e legal tinha o direito depois dele, ele procedia com a cerimônia de descalçar, tirar as sandálias dessa pessoa. Foi um gesto simbólico que significava “o seu direito de engravidar esta viúva pertence a você”. Agora é meu".

Eis, pois, o significado desta expressão de João Baptista, que encontramos no antigo testamento, nas histórias de Rute e nos vários livros. Eu não sou digno de desatar as correias das tuas sandálias, significando "não sou eu quem tem que engravidar esta viúva", o povo de Israel era considerado como uma viúva, “mas aquele que vem depois de mim”. Porque “Ele vos batizará com o Espírito Santo”. Enquanto eu te mergulhava na água, símbolo de uma mudança de vida, ele irá te encharcar, te imergir, te impregnar com a mesma vida divina. “E fogo.” Então aqui a liturgia corta alguns versículos que indicam a eliminação de João Batista. É a resposta do poder de conversão. Os poderosos nunca querem mudar. Mas é também a estupidez do poder porque a perseguição sempre faz a vida florescer, ela não a extingue. Toda vez que os poderosos querem desligar um voz, aí vem uma ainda mais poderosa e forte.

E eis que, enquanto todo o povo estava sendo batizado assim o povo entendeu, entre Jerusalém, o templo onde, através de um sacrifício ao Senhor, obteve o perdão dos pecados, e o deserto através de um rito de imersão, o povo entendeu que a verdade está lá. 

Aí vem Jesus, que também vai ser batizado. Mas por que Jesus é batizado? O batismo foi um símbolo de morte para o povo. Morrer para o passado, para o que era um estado, para começar uma vida novo. Também para Jesus o batismo é um sinal de morte, não de um passado de pecado que ele não tem, mas a aceitação da morte no futuro. Jesus dirá mais tarde neste mesmo evangelho que há um batismo no qual ele deve ser batizado e fica angustiado até que chegue esse momento.

Isto é sobre a sua morte. Então, para Jesus, ser batizado significa: fidelidade ao amor de Deus aceita a perseguição e até a morte. Jesus, tendo também recebido o batismo, estava orando, o céu se abriu. O que significa esse céu se abrindo? É a comunicação permanente e definitiva do homem com Deus. O céu indica a realidade divina. Quando há um homem que se compromete a manifestar fielmente o amor de Deus, então o a comunicação entre Deus e o homem é contínua. Com Jesus essa comunicação será ininterrupta.

E o Espírito Santo desceu sobre ele, o artigo definido indica totalidade. O Espírito é a força, a energia do amor de Deus, que desce sobre Jesus. Por que o evangelista indica em forma corpórea? Para dizer realmente, completamente; como uma pomba. A imagem da pomba evoca vários elementos, diz respeito a criação quando o Espírito de Deus pairava sobre as águas e na interpretação rabínica foi dito que era como uma pomba, então em Jesus está a nova criação. Lembra sobretudo a pomba que Ele deixa a arca de Noé depois do dilúvio como sinal de perdão.

Jesus é o perdão de Deus. Mas também lembra um provérbio palestino que diz: “como o amor de uma pomba para o seu ninho”. A pomba é aquele animal que permanece afetuoso e muito apegado ao seu ninho de origem. Você pode mudar o ninho dela, fazer um novo, mas ela não quer saber disso. Então Jesus é o ninho do Espírito, é onde se manifesta a plenitude do amor de Deus.

E uma voz veio do céu, portanto de Deus. E aqui o evangelista faz uma colagem de vários textos do antigo testamento, do profeta Isaías, um salmo, o livro do Gênesis: “Tu és meu Filho, o amado – o amado indica o herdeiro, aquele que herda tudo do pai – “com você estou muito satisfeito”. Então Deus confirma que em Jesus está toda a sua realidade, e o povo só tem que acolhê-lo.