Lucas 14:25;33
Paolo Cugini
Há uma corrente espiritual
significativa dentro do cristianismo, que chegou até nós, que identifica a vida
cristã com o sofrimento. Dessa perspectiva, parece que quanto mais uma pessoa
sofre, mais próxima ela se torna de Deus. Talvez seja por isso que tantos
jovens, que desejam tudo menos sofrimento, abandonam a comunidade quando
encontram adultos que os introduzem a essa espiritualidade do sofrimento, para
nunca mais voltarem. O Evangelho que acabamos de ouvir parece conter alguns
versículos que se alinham com esse tema do cristianismo sofredor. Portanto,
vale a pena refletir sobre isso por um momento e tentar entender.
Naquela ocasião, uma grande
multidão acompanhava Jesus. Ele se voltou e disse-lhes:
Seguir o Senhor não é um
fenômeno de massa, mesmo que já o tenhamos tornado, mas uma resposta pessoal a
uma proposta exigente. Nunca nos cansemos de sublinhar este aspeto; só assim
podemos deixar de nos escandalizar se as igrejas estão vazias, se os jovens não
vão à missa. Devemos aprender a medir a validade da proposta do Evangelho não
pela quantidade ou pelos números, mas pela qualidade, beleza e profundidade do
estilo de vida, pela diversidade que oferece. É belo ser seguidores do Senhor,
cristãos, não porque somos muitos, mas porque nos amamos uns aos outros, porque
em comunidade aprendemos a colocar-nos em último lugar, a deixar de lado as
nossas vestes para amarrar uma toalha à cintura e lavar os pés dos nossos
irmãos e irmãs mais necessitados.
"Se alguém vem a mim e
ama a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até
mesmo à sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. E quem
não carrega a sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo.
Aqui estão dois versículos que
expressam lindamente a radicalidade do Evangelho, a diferença entre a proposta
de Jesus e tantas outras que encontramos. A primeira pergunta que esses
versículos nos fazem, ouvintes, é esta: você quer ser um discípulo do Senhor? A
resposta a essa pergunta determina o caminho que estamos dispostos a seguir.
Ser discípulo do Senhor significa ser movido pelo desejo de uma vida nova,
diferente. Significa ser movido pela busca de um sentido para a vida que
preencha nossa existência. Aqueles que conseguem perceber o Evangelho em sua
própria vida, a presença do Senhor como o alimento definitivo que buscam, estão
então dispostos a fazer qualquer coisa, a fazer qualquer corte, qualquer
sacrifício, para direcionar sua própria vida. O amor a Jesus deve chegar ao
ponto de fundamentar qualquer relacionamento, de remodelar qualquer modo de
vida, porque é o amor fundamental. Este requisito também explica o
próximo: Quem não carrega a sua própria cruz e não me segue não pode ser
meu discípulo. De que cruz Jesus está falando? Da escolha que um discípulo
faz em nome do Senhor. Por que a escolha é uma cruz? A coerência das escolhas
feitas por amor ao Senhor, um amor gratuito que busca justiça, igualdade e
preocupação com os mais pobres em um contexto que nega todos esses valores,
causa tensão, sofrimento e sofrimento. Seguir o Senhor não significa sofrer:
muito pelo contrário. Seguimos o Senhor porque experimentamos em sua Palavra
uma luz nova nunca vista antes, um bálsamo de alívio nunca antes sentido, uma
paz interior definitiva. Então, por que o sofrimento? O sofrimento não é
trazido pelo Senhor, mas pelo mundo, que não aceita a beleza de sua proposta,
sua simplicidade, sua bem-aventurança. O mundo inveja a alegria que é a
presença do Senhor; não suporta a paz que seus discípulos experimentam; odeia
sua serenidade, seu modo de vida altruísta e desinteressado. É por isso que o
mundo trava guerra contra os discípulos do Senhor. Afinal, o próprio Jesus os
havia advertido durante a Última Ceia, quando lhes disse: Se o mundo vos
odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiaram a mim. Se fôsseis do mundo,
o mundo amaria o que era seu; Porque vocês não são do mundo, mas eu os escolhi
do mundo, por isso o mundo os odeia (João 15:18-19). Com sua presença,
Jesus expôs o vazio, o nada das ofertas do mundo, que oferecem uma felicidade
passageira baseada em coisas materiais, em posses, na exploração dos mais
fracos. Uma alegria que é para poucos. As ações e a Palavra de Jesus abrem as consciências,
despertando aqueles que estão presos na armadilha que sofreram e descobrindo
que a verdadeira paz não depende de coisas materiais, mas do amor que se tem, e
que a alegria não depende do poder, mas de fazer os outros felizes,
especialmente os mais pobres.
Qual de vocês, querendo
construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos para ver se tem
os meios para concluí-la?
Para aprender a viver no mundo
sem sermos sobrecarregados e enredados pela sua lógica, precisamos dedicar
tempo a estudar a situação, a compreender o engano, a desmascarar a estrutura
enganosa das propostas do mundo. Não só isso. Precisamos aprender a dedicar
tempo a encher a nossa alma com o amor do Senhor, a encher os nossos pulmões
com a força que vem do seu Espírito. Como diz São Paulo: "Fortalecei-vos
no Senhor e na força do seu poder" (Ef 6,10). É precisamente isso que
fazemos no domingo: aproximamo-nos do altar do Senhor para nos nutrirmos da sua
alegria, do seu amor, para bebermos da sua sede de justiça e igualdade.
Aproximamo-nos dEle porque só com Ele temos a coragem de viver plenamente o que
ouvimos e de ser capazes de ignorar se o mundo nos odeia.