Lucas 12,13-21
Paulo Cugini
A dimensão espiritual da vida,
se não tiver repercussões, impacto na vida material, está destinada a definhar.
No ensinamento de Jesus, a conexão entre fé e vida, entre o espiritual e o
material, é visível. A relação de amor com o Pai torna-se visível nas relações
generosas e altruístas que Jesus estabelece com as pessoas que encontra. A
escuta da Palavra, que orienta a vida dos fiéis para serem portadores da imagem
divina de Deus, é visível na atenção aos pobres. Por fim, a liturgia celebrada
no templo transforma-se em vida fraterna, que nos leva a ver os outros como
irmãos e irmãs. No Evangelho de hoje, Jesus mostra-nos as consequências
negativas de uma vida espiritual que não tem impacto na vida real e permanece
fechada dentro dos muros do sagrado, produzindo o oposto do que busca: morte em
vez de vida.
“Tenham cuidado e fiquem
alertas contra toda a ganância, pois a vida de um homem não consiste na
abundância das coisas que ele possui.”
O valor da vida de uma pessoa
não depende do que ela tem, mas do que ela dá. Esta, em suma, é a mensagem
resumida do Evangelho de hoje, que é um convite a não se deixar deslumbrar
pelas ilusões da riqueza. O que guardamos e acumulamos, de fato, não é algo que
possuímos, mas sim algo que nos possui. No Evangelho de hoje, Jesus é abordado
sobre o tema da herança. A resposta de Jesus é categórica. A herança é um fruto
venenoso, porque quem deixa uma herança significa que acumulou em sua vida, e a
acumulação é consequência de uma escolha egoísta. Pensa-se que, ao deixar algo
como legado para a posteridade, estamos fazendo o bem, mas, na realidade,
estamos deixando algo negativo que cria divisões. A herança é, portanto, o
símbolo da ganância, de uma vida centrada em si mesmo, sem a menor preocupação
com os outros, especialmente os mais pobres. O que temos deve ser
compartilhado. Subjacente ao discurso está a ideia de que a acumulação, fruto
da ganância, é uma forma de idolatria, um substituto de Deus.
Então ele lhes contou uma
parábola: “A terra de um homem rico produziu com abundância… E ele pensou
consigo mesmo: ‘O que farei? Não tenho onde armazenar minha colheita.
O homem rico está
terminalmente doente de egoísmo, e não há salvação para ele. Esta pode parecer
uma afirmação dura, mas seu conteúdo encontra eco em outros textos do
Evangelho. Por exemplo, a narrativa do encontro de Jesus com o jovem rico. No
final desta história, Jesus afirma peremptoriamente que um homem rico
dificilmente entrará no reino de Deus. Na parábola de hoje, Jesus procura
explicar o processo de pensamento do homem rico, a lógica existencial
subjacente à acumulação. Como pensa o rico? Ele pensa exclusivamente em si
mesmo e não tem consideração pelos outros, especialmente pelos pobres. Os ricos
têm direito a tudo. Jesus descreve a ganância, a avareza. Na mente do rico, em
seu raciocínio, se assim se pode chamar, não há o menor indício de solidariedade,
porque o rico pensa apenas em si mesmo: ele é o protótipo do egoísmo. O
personagem da parábola já é rico e, tendo uma colheita abundante, não pensa em
compartilhar com os pobres, pois ele próprio não precisaria. Em vez disso,
tomado pelo seu egoísmo, ele pensa em como aumentar seus depósitos. É
importante notar que, na época de Jesus, os ricos eram considerados abençoados
por Deus, enquanto os pobres eram punidos. Jesus expõe esse pensamento
hipócrita, típico da religião formal, que separa a fé da vida, o templo da
praça pública, o sagrado do profano. Essa separação só pode levar a uma
existência esquizofrênica, onde no templo você adora o Deus que criou a vida e,
então, em sua vida cotidiana, o rico priva os pobres de suas chances de vida,
acumulando bens para si mesmo.
Mas Deus lhe disse:
"Homem insensato! Esta mesma noite te pedirão a vida. Então, para quem
serão as coisas que preparaste?"
O que Jesus pensa dos ouriços,
que passam a vida inteira acumulando bens e dinheiro? Que são tolos. A
expressão usada por Jesus é um tanto atenuada pela tradução, que seria: tolo!
Quem acumula pensando apenas em si mesmo é um tolo, porque é incapaz de pensar
e apreender a própria vida dentro de um horizonte que vai além do seu próprio
umbigo, da sua própria história temporal. O rico, na perspectiva do Evangelho,
é uma pessoa que não consegue raciocinar, é incapaz de pensar: é um tolo, um
tolo. Na parábola contada por Jesus, o rico é um tolo porque não consegue
desfrutar o que acumulou, porque a riqueza obscureceu a sua mente.
Assim é aquele que acumula
tesouros para si mesmo e não é rico para com Deus."
A questão subjacente a esta
declaração peremptória e significativa de Jesus é esta: como nos tornamos
ricos aos olhos de Deus? Doando aos outros. Nos Atos dos Apóstolos, também
escritos por Lucas, afirma-se que há mais alegria em dar do que em receber. O
segredo evangélico da felicidade é que ela não se mede pelo que temos e
acumulamos, mas pelo que damos e partilhamos generosamente com os necessitados.
Este é o Evangelho! É esta mensagem que devemos proclamar ao mundo não apenas
com palavras, mas através de escolhas concretas de partilha e solidariedade com
os mais pobres.