Is 7,10-14; Sal 23; Rm 1,1-7; Mt
1,18-24
Paolo Cugini
Neste tempo do Advento que
estamos vivenciando, a liturgia nos leva a mergulhar no mistério da vinda do
Salvador de uma nova maneira. Ela faz isso, em primeiro lugar, oferecendo-nos
as leituras dos profetas que anunciam a vinda do Messias. Ao ouvirmos as
profecias messiânicas de Isaías, somos impactados pela beleza das imagens e
pela riqueza do conteúdo. Em segundo lugar, a liturgia nos oferece guias que
nos conduzem à gruta de Belém para aprendermos a ver o mistério de Jesus com
novos olhos, os olhos da fé. Assim, fomos acompanhados por Maria, depois por
João Batista e, hoje, por José. A reflexão que proponho não se concentrará na
figura de José, mas no conteúdo específico das leituras. Vejamos.
Chegamos ao último domingo do
Advento, e a liturgia nos apresenta leituras que devem nos ajudar a compreender
algo do mistério de Jesus. O Evangelho deste domingo é uma narrativa da
comunidade que, após a Páscoa, relê a história de Jesus e a interpreta. Este
trabalho inicial da comunidade conecta o nascimento de Jesus às profecias do
Antigo Testamento e, em particular, àquelas profecias messiânicas que traçavam
o nascimento do futuro Messias a Davi. Mateus, falando a uma comunidade
judaica, tem o cuidado de demonstrar a conexão entre Jesus e as palavras dos
profetas. Esta já é uma primeira indicação espiritual muito importante. Para
entender e conhecer Jesus Cristo, precisamos pegar a Bíblia e folheá-la. De
fato, Mateus diz: " Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o
que o Senhor havia dito por meio do profeta" (Mt 1,22). A
passagem citada pelo evangelista é de Isaías 7,10-14, que ouvimos na primeira
leitura. O objetivo é nos ajudar a concentrarmo-nos na história da salvação,
que nos fala de um Deus presente no meio da história dos homens e das mulheres
e que age dentro dessa mesma história. Trata-se, portanto, de apreender a Sua
presença, acolhendo-a com fé, para que também nós possamos embarcar nesta
jornada de vida nova.
Paulo também compreende o
mistério de Jesus à luz dos textos dos profetas, mas acrescenta algo. Na
passagem que ouvimos, Paulo afirma: Deus havia prometido por meio
de seus profetas nas Sagradas Escrituras a respeito de seu Filho, nascido da
descendência de Davi segundo a carne, e designado Filho de Deus com poder
segundo o Espírito de santidade, em virtude da ressurreição dos mortos: Jesus
Cristo, nosso Senhor (Romanos 1:1ss). Paulo percebe a dupla origem do
nascimento de Jesus. A primeira é segundo a carne e vem da descendência
de Davi, assim como havia sido profetizado pelo profeta Natã (2 Samuel
7:14ss) e depois retomado pelos profetas e, de modo especial, pelo profeta
Isaías. Paulo intui que, a partir do evento da ressurreição dos mortos, não é
mais possível pensar em Jesus meramente como uma pessoa que vem da carne, da
história dos homens e mulheres, mas há algo mais. Paulo diz que Jesus foi
designado Filho de Deus com poder segundo o Espírito de santidade. Filho de
Deus é um título messiânico encontrado apenas no profeta Daniel, um escrito do
século III a.C. e, portanto, um dos mais recentes do Antigo Testamento. Este
título messiânico é o único que oculta uma origem divina para o futuro Messias.
Paulo afirma claramente que essa conexão entre Jesus e o Filho de Deus se deve
à ressurreição dos mortos, que se torna o evento central para a compreensão do
mistério de Jesus e de sua identidade.
Este segundo aspecto, que
acabamos de analisar, leva-nos a uma consideração final. Na passagem do
Evangelho de hoje, Mateus fala de cumprimento, no sentido de que os
acontecimentos que se desenrolam em torno da vida de Jesus concretizam o que
havia sido dito pelos profetas. Ao lermos atentamente os Evangelhos e
prestarmos atenção à vida de Jesus, percebemos que, desde o seu nascimento, o
cumprimento das profecias não é uma operação matemática: muito pelo contrário.
Jesus interpreta as profecias, vive-as e as cumpre à sua maneira. Por isso, as
suas ações causam espanto e constrangimento, ao ponto de, como ouvimos no
domingo passado, até João Batista, que o anunciou à humanidade, se perguntar:
" És tu aquele que havia de vir, ou devemos esperar outro?".
O valor de uma jornada como o Advento reside em nos ajudar a desapegar de nosso conhecimento religioso e abrir espaço para a novidade do Evangelho. A liturgia, portanto, nos ajuda a concentrar nossa atenção em Jesus Cristo, a aprender a conhecê-lo e a seguir não doutrinas vãs, mas a sua Palavra e o seu exemplo.