venerdì 29 novembre 2024

PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO/C

 




(Lc 21,25-28,34-36)

Paulo Cugini

 

     Aqui vamos nós outra vez. Este é o primeiro significado imediato do Advento. A liturgia oferece-nos um novo começo, que se torna uma nova possibilidade: para quê? Acredito, para viver o Evangelho de uma forma mais autêntica e intensa. Sempre há esperança para quem segue os passos de Jesus: nada está perdido. Outro aspecto a considerar é o fato de que a Palavra de Deus, o que ela tem a nos dizer, sempre tem algo novo para nos revelar, porque não é um conjunto de verdades apodíticas, mas um dom que nos é oferecido, uma luz que ilumina o caminho em todas as fases da vida e, como sabemos, cada fase é diferente. Leiamos, então, as leituras deste primeiro domingo do Advento, com a curiosidade no coração de quem quer crescer no conhecimento do Senhor, com o desejo de não perder a oportunidade que nos é oferecida para nos tornarmos mais humanos.


«Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas, e na terra a angústia das pessoas ansiosas pelo rugido do mar e das ondas, enquanto os homens morrerão de medo e de expectativa do que deve acontecer no terra. Na verdade, os poderes dos céus serão abalados.

     Os primeiros versículos do Evangelho de hoje fazem parte do trecho em que se anuncia a destruição de Jerusalém e do seu templo, que em vez de ajudar os pobres e necessitados, criou um sistema de enriquecimento que explorava os próprios pobres. Uma estrutura deste tipo já não tem razão de existir. Estes acontecimentos, por se tratarem do futuro, são anunciados através da literatura apocalíptica e, em particular, de algumas passagens dos profetas Isaías, Amós e Joel. A notícia que deve gerar grande alegria na comunidade cristã é que a presença de Jesus na história provoca a queda de falsos poderes terrenos, simbolizados pelas estrelas no céu. É como se Jesus dissesse que intrusos se instalaram no céu, lugar por excelência da presença do Pai. Para estas potências, causadoras de tanto sofrimento sobretudo para os pobres, os dias estão contados. Na verdade, com o anúncio da mensagem de Jesus, os falsos poderes começarão a cair. É uma catástrofe que diz respeito a todos os sistemas de poder que exploram o homem, enquanto o poder de Jesus é o poder do amor. A destruição do templo em Jerusalém também permitiu a entrada de pagãos. A força do Evangelho será mais forte que qualquer poder.

Tenham cuidado de vocês mesmos, para que seus corações não fiquem pesados com a dissipação, a embriaguez e as preocupações da vida e esse dia não caia sobre vocês repentinamente; na verdade, cairá como uma armadilha sobre todos os que vivem na face de toda a terra.

Estes acontecimentos envolvem-nos e, por conseguinte, somos chamados a situar a nossa existência naquela situação que nos permite captar a bondade e a positividade da presença do Senhor na história. Nesta perspectiva, Jesus menciona três situações negativas que analisaremos agora brevemente. Em primeiro lugar, a dissipação. Existe um primeiro significado direto no que diz respeito à relação com o nosso dinheiro. Um segundo significado indica uma conduta ociosa, indisciplinada, que leva ao desperdício de tempo e, sobretudo, do propósito da vida. Depois vem a embriaguez: alteração mental devido ao abuso de bebidas alcoólicas. Este é o significado imediato. Pode-se identificar também um significado mais amplo, que diz respeito a todas as situações em que exageramos, tornamos algo absoluto e perdemos o sentido da realidade. Por último, existem as preocupações da vida, ou seja, as preocupações com aqueles problemas quotidianos com que temos que lidar todos os dias e que, na vida adulta, dizem respeito à administração familiar, aos relacionamentos, aos problemas no trabalho, a vários problemas de gestão financeira. O facto de Jesus colocar estes últimos no mesmo nível dos dois primeiros é significativo porque até as preocupações da vida podem correr o risco de nos fazer perder de vista a meta última, o sentido do caminho percorrido.

Vigiem em todos os momentos, orando, para que tenham forças para escapar de tudo o que está para acontecer e aparecer diante do Filho do Homem.

Fique acordado! É o grito que ressoa não só no Advento, mas sobretudo no início do ano litúrgico, para nos alertar, para não nos deixarmos dominar pelos acontecimentos da vida, mas para permanecermos sempre com o leme nas mãos. Isto será possível se soubermos colocar o Evangelho no centro do nosso dia, moldar todas as nossas escolhas a partir das suas indicações.


sabato 16 novembre 2024

SOLENIDADE DE CRISTO REI/B

 





Paulo Cugini

 

É o último domingo do tempo litúrgico e a liturgia oferece-nos a solenidade de Cristo Rei do universo, para nos ajudar a refletir se Cristo foi verdadeiramente aquele que guiou os nossos passos durante o ano, o Senhor da nossa história. Para este tipo de verificação nos é oferecida a passagem de João 18,33-37, que é um diálogo entre Jesus e Pilatos nas horas dramáticas da paixão. É a partir do conteúdo deste diálogo que a liturgia nos oferece este caminho de verificação.

Naquele momento, Pilatos perguntou a Jesus: “Tu és o rei dos judeus?”. Jesus respondeu: “Você diz isso sozinho ou outros lhe falaram de mim?”.

Jesus responde à pergunta de Pilatos com outra pergunta, que obriga o próprio Pilatos a pensar, a entrar em si mesmo, a verificar se o seu conhecimento é fruto de conversas aprendidas nas ruas, ou do caminho de uma pesquisa pessoal. Aqui existe um primeiro nível de verificação ao qual somos solicitados pessoalmente. O Evangelho, de facto, através desta simples pergunta de Jesus, interroga-nos sobre o tipo de conhecimento que temos do Senhor. É algo que se aprende um pouco ou entramos em uma jornada de conhecimento pessoal? Paramos no caminho considerando suficientes as poucas noções aprendidas no catecismo ou ouvidas na missa dominical, ou aprendemos a lidar com o Evangelho todos os dias? Em outras palavras, a Palavra do Senhor está moldando nossas vidas, nossas escolhas, ou é algo marginal e ocasional?

Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, os meus servos teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus; mas meu reino não é daqui.”

Esta resposta tem também um valor de verificação para o nosso caminho de fé. Jesus fala de um reino que não é deste mundo, mostrando assim a existência de dois níveis de realidade. O reino deste mundo é determinado pela lógica do egoísmo e da posse, que geram relações conflituosas e dinâmicas de poder. Enquanto o Reino do qual Jesus é o Senhor é movido pelo amor do Pai e gera relações de igualdade, de doação gratuita de si aos outros. São dois reinos inconciliáveis, porque representam duas formas opostas de estar no mundo e de viver. Embora assimilemos o primeiro tipo de modalidade no caminho da vida desde os primeiros momentos de existência, devemos escolher aquela proposta por Jesus.

Então Pilatos lhe perguntou: “Então você é rei?”. Jesus respondeu: «Tu dizes: eu sou rei. Foi para isso que nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade ouça a minha voz"

Jesus não está interessado na discussão da realeza e quer levar a discussão a outro nível, ao da verdade, que não é algo que se possui, mas que se é. Dizer a verdade significa estar em sintonia com o desígnio de Deus, que coloca o bem do homem acima de tudo. Quem colocou a sua vida em sintonia com esta verdade escuta a voz de Jesus. Para compreender a voz de Jesus é necessário colocar o bem do homem acima de tudo. A ideia de verdade aparece pela primeira vez no prólogo e pela última vez nesta passagem em que Pilatos se apresenta esvaziado de verdade. 

Durante o percurso do ano litúrgico deveríamos ter aprendido uma distinção fundamental sobre a ideia de verdade. Existe, de facto, uma ideia de verdade que é o que o mundo nos oferece, e é uma verdade que não nos perturba, porque é absoluta, imóvel, inegociável. Este tipo de verdade permanece muito distante do homem e da mulher, fora do alcance humano e exige uma obediência inquestionável. Quem se coloca ao serviço deste tipo de verdade torna-se uma pessoa dura, rígida, à imagem da verdade que serve. Pelo contrário, a verdade que Jesus apresenta ao mundo é ele mesmo e, portanto, uma pessoa que caminha com homens e mulheres em todos os momentos. Não se trata, portanto, mais de uma verdade imóvel, estática e inegociável, mas de uma verdade dinâmica que exige um esforço contínuo de compreensão e adaptação. Jesus é a verdade que nos liberta, libertando-nos de toda forma de idolatria e ideologia, que é o destino de todas aquelas falsas verdades que querem impor-se à humanidade com a sua presumida inquestionabilidade, inegociabilidade. A presença de Jesus na história desmascara as supostas verdades criadas pelos homens para dominar os outros, especialmente os mais fracos e frágeis. O Evangelho hoje coloca-nos uma pergunta profunda: libertámo-nos das falsas verdades ao abraçar o seu caminho ou ainda somos vítimas das ideologias dos homens?


sabato 9 novembre 2024

DOMINGO DO TEMPO COMUM - XXXIII/B

 




Dn 12,1-3; Sal 16; Eb 10, 11-14.18; Mc 13,24-32




Paolo Cugini


Estamos nos aproximando à conclusão do ano litúrgico e as leituras nos oferecem a possibilidade de avaliar a caminhada de fé deste ano. O Senhor deveria ser se tornado sempre mais o nosso refúgio, a nossa herança, o nosso destino, assim como nos lembra o salmo 16, que iremos proclamar. Talvez não seja tudo isso o fruto da nossa peregrinação, mas pelo menos deve ser presente o esforço de fazer do Senhor e do Seu plano de amor o centro dos nossos desejos. Somente assim, conseguiremos olhar ao nosso passado não com a orgulhosa rigidez que provoca a antipatia para nós mesmo, pela nossa incapacidade de seguir o Senhor, mas com aquele olhar misericordioso que é fruto do Espírito Santo, que doa paciência e, ao mesmo tempo, uma grande força para continuar o caminho. E é isso mesmo que vale. 


 “Então vereis o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e gloria” (Mc 13, 26).

A página do Evangelho de hoje é uma daquelas que mais se prestam para ser mal interpretada. Quantas vezes ouvimos sermões que, em cima destes versículos, proclamam a fim do mundo, a morte de todos, provocando nos ouvintes sentimentos de pânico e desconforto. Na realidade estes versículos, lidos com o desejo de penetrar os mistérios do Reino de Deus, mais do que provocar curiosidades mal sanas, revelam uma Palavra cheia de conforto e esperança. Deus não quer colocar no pânico ninguém; pelo contrário tudo exprime para que ninguém se perca (cf. Gv 17). Para as pessoas que amam o Senhor, que durante a vida gostaram e saborearam da Palavra de Deus, que se esforçaram de participar da realização do Seu Reino, não existe nada de melhor em saber que o Filho do Homem verá com grande poder e gloria. A sua vinda não é motivo de espanto, mas de grande alegria. Além do mais, o seu poder e a sua glória apontam para uma plenitude de vida indizível. Não se trata, de fato, do poder e da gloria humana que, para manifestar-se, suprime os outros. A glória de Deus se manifestou em Jesus o qual, para que tivéssemos a vida eterna, se deixou massacrar. È desta vida que queremos abastecer a nossa alma, para podermos também nós sermos capazes de doar vida aos nossos amigos e amigas, que o Senhor colocará no nosso caminho. O poder do Senhor não é feito de armas que matam, mas de uma Palavra que dá vida. O Evangelho, de fato, é a força de Deus “para a salvação de todo aquele que acredita” (Rom 1, 16). 

Se o poder e a Gloria de Deus manifestam a qualidade da Sua vida, na Sua Palavra e no Seu jeito de ser, qual é o sentido dos cataclismos que o Evangelho anuncia como manifestações externas deste evento?

Mais uma vez para quem se aproxima á Palavra de Deus de uma forma material e instintiva, não conseguirá atingir as profundezas da mensagem de Jesus. De fato, com estas expressões de cunho apocalíptico, Jesus se colega as grandes pregações proféticas dos séculos passados da história de Israel, pregações que tinham a preocupação de alertar o povo para que não saísse do caminho da Lei. Pregações proféticas que expressavam o desejo de ver o povo de Deus apaixonado para o seu Criador e não perdido na lama do pecado, como infelizmente muitas vezes aconteceu. É deste pano de fundo apocalíptico de cunho profético que Jesus se serve para alertar os seus “Eleitos” da sua vinda futura. Nada, então, de espantoso e apavorante como muitos ainda hoje gostam de apresentar a mensagem de Jesus que, pelo contrário, é recheada de compreensão e misericórdia para conosco. Além disso, é bom salientar que Jesus nunca fez a cabeça de ninguém e nunca espantou alguém para que o seguisse. Pelo contrário, a sua única arma era uma proposta livre, baseada sobre o diálogo e o testemunho pessoal.


Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus de uma extremidade á outra da terra” (Mc 13, 27).

Para Deus nós somos os eleitos que Ele deseja proteger de qualquer perigo, por isso enviará os anjos aos quatro cantos da terra para nos recolher. Eleito é todo homem, toda mulher que responde ao chamado de Deus proposto por Jesus no Espírito Santo, com uma vida digna e sem pecado (Cf. Ef 1, 1-15). Isso quer dizer que, estas palavras apresentadas muitas vezes como “espantosas”, na realidade são um implícito convite de Jesus de tomar sempre mais a sério a sua Palavra, o nosso Batismo, para que possamos viver para sempre com Ele. Jesus está torcendo, junto com o Pai e o Espírito Santo, para que a gente não se deixe confundir das palavras fracas do mundo, das suas propostas ilusórias e, assim caminhe sempre firme com o olhar fito em Cristo, que morreu e deu a sua vida para nós. È isso que a carta aos Hebreus hoje nos lembra: “Cristo depois de ter oferecido um sacrifico único pelos pecados, sentou-se para sempre á direita de Deus. Não lhe resta mais senão esperar até que seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés” (Heb 10, 12-13).

 Não é algo de fantástico saber que Jesus está nos esperando? Ele realizou o caminho do amor para que todos nós pudéssemos percorrê-lo com mais determinação. É uma espera não resignada, mas carregada de esperança, pois o Verbo de Deus se fez homem e experimentou numa carne como a nossa não o pecado, mas as conseqüências dele. Por isso podemos agora confiar na sua proposta, na sua Palavra, acolher o seu Espírito, para enfrentar com coragem o caminho da luz neste mundo de trevas, na certeza de que, com o tempo, aprenderemos a viver na luz. É Ele, de fato que derrotou as trevas e somente acolhendo a Sua luz poderemos viver com filhos da luz (cf. Ef 3).


 “As minhas palavras não passarão” (Mc 13, 31).

Somente aqueles que com humildade se colocarão nos passos do Senhor, deixando-se guiar pelo Espiro poderão saborear a verdade deste versículo estupendo. Que a Eucaristia deste XXXII domingo do ano B possa nos ajudar a descobrir o mistério da eternidade da Palavra de Deus.