sabato 8 marzo 2025

SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA C

 

 



Lc 9,28b-36

 

Paolo Cugini

 



 

O caminho quaresmal que começou na semana passada nos colocou imediatamente no caminho da humanização de nossas vidas, mostrando claramente que a vida de fé não se limita ao culto, mas nos leva ao contato com nossos irmãos e irmãs. É uma nova mentalidade que Jesus nos apresenta e que propõe aos seus discípulos, um estilo de vida que envolve todos os aspectos da existência humana.

Deus levou Abrão para fora e disse-lhe: “Olhe agora para o céu e conte as estrelas, se você for capaz de contá-las.” E Deus lhe disse: “Assim será a sua descendência.” Ele creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça (Gn 15:5s).

      Antes de ser uma experiência de interiorização, de fechamento em si mesmo, o caminho da fé nos faz sair de nós mesmos. Deus conduz Abraão para fora: este é o primeiro passo da jornada. Sair das nossas certezas, dos nossos lugares onde temos controle sobre tudo: só assim podemos estar abertos à novidade do relacionamento com Deus e às Suas necessidades. São as situações de precariedade, de insegurança que provocam um pedido de ajuda e, ao mesmo tempo, uma vontade interna de escuta. Uma vez fora, Abraão é instado a olhar para cima e contar as estrelas. É o contato com a realidade. A aliança com Deus ocorre no plano da realidade, em contato com a concretude da vida. Uma realidade vista com novos olhos, pronta para a surpresa, para a novidade e não lida com conhecimento prévio.

 Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte para orar (Lc 9,28).

      Jesus faz a mesma coisa com seus discípulos: tira-os do seu contexto habitual, faz-os subir ao monte. Jesus se mostra na oração, em um novo relacionamento com Deus, não filtrado por ritos ou mitos, mas em um relacionamento pessoal, profundo e contínuo. Nessa relação o rosto de Jesus se transforma. O rosto indica a identidade da pessoa, seu ser. A verdade da oração, do relacionamento autêntico com Deus, se manifesta no rosto, na identidade pessoal, no modo de vida, no estilo. Moisés e Elias, ou seja, o Antigo Testamento, também entram em cena nessa nova relação. É um diálogo que revela a continuidade e, ao mesmo tempo, a novidade de Jesus, que leva à plena realização a Aliança entre Deus e a humanidade. Os apóstolos, que testemunham a cena, estão cansados e confusos. O mistério da identidade de Jesus, de fato, só será compreensível na perspectiva da ressurreição, isto é, da vida plena e definitiva. É nesse evento que ficará claro que o amor é a essência da vida e é indestrutível.

Porque a nossa cidadania está nos céus, de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará os nossos corpos de humilhação, para serem conformes ao seu corpo glorioso, pelo seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas (Fp 3).

Paulo entende que a jornada que Jesus fez, deste mundo ao Pai, não é exclusiva, não diz respeito somente a Ele, mas Ele a fez por todos. Jesus mostrou o caminho que nos permite viver uma vida autêntica que nem mesmo a morte pode minar: é o caminho do amor livre e altruísta, o caminho da busca da justiça e da solidariedade com os irmãos mais pobres. A luz do Ressuscitado transfigurará os corpos daqueles que o buscam e vivem como ele. 


PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA/C

 





Lc 4,1-11

Paolo Cugini


O primeiro domingo da Quaresma, em todos os três ciclos litúrgicos, começa com a página das tentações de Jesus. Para compreender a profundidade da mensagem contida nesta narrativa, devemos tentar contextualizá-la. O que significa, então, ler esta página em um contexto pós-cristão? Como o paradigma pós-teísta pode nos ajudar a compreender novos conteúdos? Há toda uma leitura religiosa e devocional que há séculos orienta a interpretação desta página, destacando os aspectos penitenciais e sacrificiais, como se a penitência e o sacrifício fossem instrumentos indispensáveis para ganhar a vida eterna. Na realidade, a experiência humana de Jesus narrada nesta página está esvaziada de qualquer elemento religioso. Os eventos, de fato, não acontecem em uma sinagoga, em um espaço sagrado, mas no deserto, que poderíamos definir como um não-espaço, no sentido de que não se identifica com nenhum espaço em particular. O que Jesus vivencia no deserto é uma antecipação do que ele vivenciará durante sua vida pública. Jesus é um homem que nunca foi atraído por desejos de glória humana, de poder. Jesus é um homem cuja liberdade lhe permitiu não ficar preso à força dos seus instintos, que sempre soube direcionar para o objetivo que havia estabelecido. 

Esta é, em essência, a proposta que emerge da página das tentações e que nos é dirigida no início da Quaresma, que é um caminho para apreender com maior consciência o mistério da vida plena, que se manifestou nas escolhas de Jesus. É possível viver a própria humanidade de forma livre e plena, sem se deixar atrair por aquelas propostas que, a longo prazo, causariam escravidão interna e externa. Existe a possibilidade de uma vida plena, realizada no dom livre e gratuito de si mesmo, uma vida boa e justa que se tornou visível na vida de Jesus e, por isso, ao alcance de todos. 

O problema, neste ponto, é conseguir compreender o método que permitiu a Jesus viver dessa forma livre e plenamente realizada no amor e na justiça. Na página em questão há algumas indicações que podem nos ajudar. Jesus permaneceu “no deserto durante quarenta dias”: este é o primeiro fato. Para poder viver livremente, você precisa dedicar muito tempo ao seu eu interior; para usar as palavras de Sócrates, você precisa cuidar da sua alma. Esta é uma tarefa que está ao alcance de todos e não é específica dos religiosos: todos nós temos uma dimensão interior. O fato de essa experiência ocorrer no deserto é outro fato importante, porque nos diz, como afirmei acima, que ela não ocorre em um contexto religioso. “Ele não comia nada naquela época.” Esta não é uma indicação penitencial, mas existencial. Qualquer pessoa que tenha dedicado longos períodos à meditação e à cura interior sabe muito bem que uma vida sóbria e a atenção para não exagerar na comida auxiliam no caminho espiritual de contato com a própria consciência. “Tentado pelo diabo”: podemos traduzir esta expressão com a percepção que a força dos instintos exerce sobre nós, principalmente quando estamos imersos nas preocupações cotidianas, dando pouca atenção à nossa vida interior e, portanto, mais vulneráveis no plano existencial. 

Há uma possibilidade de vida autêntica que nos é oferecida no início do caminho quaresmal. Para entrar neste caminho, devemos libertar-nos das incrustações religiosas que, ao longo dos séculos, identificaram a Quaresma com ações penitenciais, perdendo o verdadeiro horizonte da Quaresma, que é a humanidade de Jesus, a sua liberdade, a sua vida de amor livre e desinteressado. Dedicar tempo a esta mensagem, assimilar diariamente as páginas propostas do Evangelho, significa cultivar o desejo de ser pessoas novas, mais autênticas, como Jesus. O mundo precisa de pessoas assim mais do que nunca. Aproveitemos, então, o tempo da Quaresma para sacudir o pó da religião e vestir a veste nova do Evangelho de Jesus.


sabato 1 marzo 2025

VIII DOMINGO TEMPO COMUM/ C


 


Lucas 6,39-45


Paolo Cugini


A vida de fé não se esgota na relação com Deus, na dimensão transcendente, mas a verdade da autenticidade da relação com Deus incide na relação com os irmãos. É pela forma como nos relacionamos com nossos irmãos e irmãs que entendemos de onde viemos, qual caminho existencial e espiritual estamos percorrendo, qual caminho estamos realizando. Este me parece ser o quadro introdutório mais adequado para nos permitir entrar no conteúdo das leituras de hoje.

Um discípulo não é maior que o mestre; mas todo aquele que for bem treinado será como seu mestre.

 O sentido da jornada de fé é nos tornarmos mestres, isto é, assumir a responsabilidade pelas pessoas que nos foram confiadas. Tornamo-nos adultos quando assumimos a responsabilidade concreta de acompanhar as pessoas que nos são confiadas, tanto na vida familiar como na social. Somos chamados a ser pais, mães e isso exige um caminho feito por etapas, uma assimilação de conteúdos que não se transmitem com palavras, mas com o exemplo. Só podemos ser pais, mães, professores se tivermos diante de nós alguém que nos guie neste caminho, que nos tome pela mão, que esteja atento ao nosso crescimento, que respeite a nossa liberdade.

 Por que você vê o cisco no olho do seu irmão, mas não percebe a trave que está no seu próprio olho?

Nós nos tornamos pais e mães se durante a adolescência e a juventude encontramos alguém que nos ajuda a tirar a trave dos nossos olhos, que nos ajuda a melhorar, a fazer uma viagem dentro de nós mesmos, a aprender a verificar a nós mesmos, as nossas atitudes, antes de ir em direção ao outro.

Não há árvore boa que produza frutos ruins, nem há árvore ruim que produza frutos bons .

Trata-se de entender que tipo de pessoas queremos ser. Na adolescência e na juventude temos tempo para moldar nossa existência, assimilar conteúdos, discernir, escolher o bem e descartar os caminhos do mal. Nós somos aqueles que podemos direcionar nossa existência para melhor ou para pior; nós que podemos decidir qual caminho tomar, porque a realidade, o fato é que cedo ou tarde as escolhas que fizemos vão surgir, não poderemos mais nos esconder.

Os vasos do oleiro são testados pela fornalha,

então o caminho do raciocínio é o campo de testes para o homem.

O fruto mostra como a árvore é cultivada,

assim a palavra revela os pensamentos do coração.

Estas palavras do livro de Sirácida, retomadas e exploradas no Evangelho, dizem exatamente o que foi dito acima. Chegará o dia em que entenderemos quem somos e de onde viemos. Nossas palavras, nossa maneira de raciocinar, revelam de onde viemos, que caminho tomamos, que decisões tomamos em nossas vidas. O fruto revela a árvore. Um bom homem tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Cuidar do coração, ou seja, da consciência: isso é uma indicação do método. Todo o tempo dedicado à interioridade, ao trabalho das motivações, não é tempo perdido, mas bem aproveitado, porque nos permite construir a árvore da nossa vida de modo a dar bons frutos